Uma médica, uma enfermeira e três técnicas em enfermagem foram afastadas do trabalho, ontem, pela direção da Fundação Hospital Centenário, de São Leopoldo, no Vale do Sinos. Elas fazem parte da equipe que estava de plantão no turno em que um menino de sete dias começou a ter alterações no quadro clínico, no final da tarde da sexta-feira passada. A criança morreu menos de 40 horas depois.
Miguel Oliveira de Lima estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) desde que nasceu de forma prematura, com 34 semanas. A mãe do menino, Joceli Alves de Oliveira, contou que na manhã de 13 de outubro foi informada por uma equipe do hospital que uma técnica em enfermagem teria injetado leite na veia da criança no final da tarde de 12 de outubro, confundindo a sonda de alimentação com o acesso venoso.
_ Me falaram que aconteceu um erro e que meu filho já estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Não tive coragem de ir lá ver. Só conseguir ir vê-lo à tarde. Ali eu vi que ele já estava mal _ disse Joceli.
A mãe relatou que não pôde permanecer no hospital com a criança durante a noite. Miguel morreu no final da madrugada de domingo, por volta das 5h40min. Uma hora depois, a família foi informada da morte do bebê.
A declaração de óbito do menino apontou como causas insuficiência respiratória, hemorragia pulmonar maciça, falência de múltiplos órgãos, reação inflamatória aguda por corpo estranho intravenoso e prematuridade. Ele foi sepultado na manhã de ontem, no Cemitério São Borja, em São Leopoldo.
A administração do hospital registrou ocorrência policial horas depois do óbito. A 1° Delegacia da Polícia Civil de São Leopoldo já instaurou inquérito e aguarda os laudos periciais. Os profissionais afastados e os familiares do menino serão ouvidos no decorrer desta semana.
Segundo o advogado dos pais de Miguel, Luciano Peixoto, a família não registrou ocorrência policial porque o caso já está sendo investigado pela Polícia Civil. A mãe da criança deverá prestar depoimento na tarde de hoje.
— Vamos aguardar a conclusão do inquérito policial para decidirmos os próximos passos. O que não compreendemos é por qual motivo o hospital só informou a família mais de 12 horas depois do fato ocorrido. Isso impossibilitou os pais de pedirem uma transferência do filho para outro hospital, pois ele já estava em situação grave — diz Luciano.
Em nota, a direção do hospital reitera o pesar e solidariedade à família e afirma que a medida do afastamento visa assegurar a efetiva apuração dos fatos, até o resultado da sindicância investigatória.
Confira a nota na íntegra:
"A Direção da Fundação Hospital Centenário reitera seu profundo pesar e solidariedade à família do recém-nascido Miguel Oliveira de Lima, falecido na manhã de domingo (14). Diante da tragédia que reveste esta morte prematura, e para que não restem dúvidas quanto às práticas adotadas neste episódio, a Direção do Hospital informa que afastou a equipe de profissionais que estavam de plantão na UTI Neonatal, responsáveis pelo atendimento do paciente, no turno em que teve início a alteração do quadro clínico do recém-nascido. A medida do afastamento visa assegurar a efetiva apuração dos fatos, até o resultado da sindicância investigatória instituída pelo Hospital.
Ao ser informada do ocorrido, a Direção da Instituição, imediatamente, ordenou o registro de ocorrência policial, para o esclarecimento de todos os fatos. No âmbito administrativo, instaurou sindicância."