Ter um filho é uma das alegrias mais plenas que um ser humano pode ter. A vida muda. Várias pessoas avisam quantas fraldas você vai gastar por dia, quantos "body" você precisa comprar... Ninguém pode dizer que não foi avisado das noites em claro, e que o sono nunca mais será igual.
Entretanto, muitas mulheres não são preparadas para o momento do parto. Não é por acaso que o Brasil é o campeão mundial em cesarianas, com 55% do total de crianças nascidas no país. Na Europa esta taxa é de 25%.
As mães que se preparam para o momento do parto acabam sendo mais conscientes do que vai acontecer, como afirma a psicóloga Francele Magnus:
— Nunca tive medo da dor. Eu sentia muito medo de não ter meu desejo respeitado, de acabar sendo cortada em uma episiotomia ou cesárea que não fosse do meu desejo e nem da necessidade clínica. Tinha medo de ter minha filha exposta a hostilidades, pois é hostil e violenta a forma as mulheres são tratadas e os bebês recebidos no mundo.
Francele decidiu ir para o hospital somente após chegar na dilatação completa. Para isto, contratou uma equipe com enfermeiros para acompanhá-la em casa.
Francielle Limberger Lenz, também psicóloga, optou por fazer um parto domiciliar assistido. Além da doula, que ajudou no período pré-parto, uma equipe de enfermeiros realizou o procedimento sem utilizar remédios para amenizar a dor.
— Usamos técnicas como massagem, óleos, uma playlist com músicas que faziam sentido pra nós, que nos acalmavam. Mudamos de ambiente, nos movimentamos. Eu lembro muito que o cheiro do meu companheiro era uma presença que aliviava a dor —afirma Franciele.
Depois que as crianças nascem, as mães não costumam reclamar da dor que tiveram. Porém, essa dor existe, e pode ser enfrentada de maneira menos estressante para a mãe e o bebê, como explica a enfermeira Grazielly Alós Valim Carlos, que já participou de mais de 80 partos.
— A gente usa para o alivio da dor a água, que pode ser do chuveiro ou piscininha; usamos também massagem em pontos especificos, posicionamento; uso da bola de pilates, que facilita o bebê a descer. Para ajudar na progressão do trabalho de parto, a caminhada ajuda a estimular as contrações. Além disso, existem posicionamentos que ajudam bebês grandes a encaixarem melhor — afirma Grazielly.
"Despacito", movimentando o corpo para receber o bebê. Em um videoclipe que viralizou nas redes sociais em 2017, enfermeiras do Hospital Conceição convidaram as mulheres a entender a importância do movimento para o trabalho de parto.
O movimento ajuda a encaixar o bebê, reduz o uso de analgesia e ocitocina, de acordo com a médica responsável pelo Centro Obstétrico do Hospital Conceição, Rosemarie Fleming dos Reis:
— O movimento faz com que estimule as contrações, ajuda o encaixamento do bebê na bacia, facilitando a descida. O movimento e as outras práticas ajudam a liberar mais endorfina, deixando o momento mais prazeroso e menos difícil — diz a médica.
Com ajuda de pessoas criativas, o Brasil vem tentando reduzir a taxa de cesarianas realizadas no país. O Ministério da Saúde criou em 2016 um protocolo com diretrizes para reduzir o número de cesarianas sem necessidade. Talvez, em um futuro próximo, o Brasil consiga se espelhar no Reino Unido, que nesta semana chamou a atenção dos brasileiros: a Duquesa de Cambridge, Kate Middleton, recebeu alta hospitalar apenas sete horas depois do nascimento do terceiro filho dela e do principe William, Louis Arthur Charles.