
Quantas vezes você já doou sangue? Se a resposta foi "nunca", você doaria em troca de algum benefício? Com base nessa premissa, um grupo de estudantes do segundo ano do curso de Gestão para Inovação e Liderança da Unisinos criou o Bloodify, plataforma que concede cupons de descontos a doadores devidamente comprovados.
Funciona assim: após a doação, a pessoa faz o cadastro no site e envia o comprovante. Em até três dias úteis, os gestores liberam o acesso para os cupons de desconto em 12 marcas parceiras. O benefício fica disponível por seis meses e pode ser renovado mediante nova doação — a frequência máxima de doação para homens é de quatro vezes ao ano, enquanto a das mulheres é de três vezes.
Parte de um projeto de desenvolvimento de negócio, a ideia dos alunos nasceu da observação dos baixos índices de doação no Brasil. Hoje, apenas 1,8% dos brasileiros doam, número bem abaixo da meta estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê uma população de doadora de 3% em cada país.

— Pensamos: "Vamos fazer algo diferente". Então, deparei com a notícia do problema de doação no Brasil. O governo investe em campanhas, mas não tem solução. Quem investe parte do seu dia para doar sangue merece mais do que a satisfação pelo ato. Cada estímulo faz a diferença — argumenta uma das autoras do projeto, Giulia Sandri.
Com descontos que variam entre 10% e 20% nos e-commerces parceiros, a perspectiva dos universitários é ampliar o leque de ofertas, incluindo as lojas físicas. Do lançamento do site, no dia 1º de outubro, até agora, diversas empresas já entraram em contato demonstrando interesse em participar. Atualmente, as parceiras estão livres de carência, mas a expectativa é cobrar uma mensalidade para manter os serviços.
— Eles tiveram uma estratégia de divulgação que vem dando resultado e que está atraindo o interesse de muita gente — avalia o professor do curso, Filipe Campelo.
Daqui para frente, os empreendedores planejam ampliar o número de empresas parceiras, melhorar a plataforma e participar de eventos relacionados ao tema.
— A maioria dos projetos que começam na faculdade são para cumprir tabela, mas nós estamos vendo potencial na ideia e temos vontade de seguir adiante com ela — considera o aluno David Vaz.
Legislação proíbe venda de sangue
Para embasar o projeto, os estudantes buscaram outras iniciativas que estimulem a doação mundo afora. Apesar de não encontrarem nada parecido com o que tinham em mente, uma pesquisa divulgada pela Johns Hopkins University, dos Estados Unidos, impulsionou o plano. Publicado em maio de 2013, o estudo é enfático ao afirmar que recompensas econômicas têm efeitos positivos nas doações sem consequências negativas à segurança do sangue.
Os economistas envolvidos no levantamento observaram dados de cerca de 100 mil doadores em 72 unidades da Cruz Vermelha americana entre setembro de 2009 e agosto de 2010. Dentro desse grupo, foram oferecidos cartões-presente em metade dos sites de controle de sangue, e na outra metade não. Diante da oferta, o trio descobriu que um benefício de US$ 5 aumentou em 26% a probabilidade de uma doação para doadores frequentes. Ao dobrar o cartão-presente, a probabilidade também foi duplicada, passando para 52%. No ano passado, a Cruz Vermelha americana lançou uma campanha de doação que recompensava doadores com benefícios que iam desde descontos na Amazon até cortes de cabelo.
Aqui no Brasil, a venda de sangue ou troca por dinheiro é proibida por lei. Contudo, benefícios são permitidos. No Espírito Santo, por exemplo, uma lei de 2004 prevê meia-entrada em eventos culturais, esportivos e de lazer promovidos pelo governo estadual àqueles doadores regulares.