A doação de córneas na Serra Gaúcha aumentou 25% entre 2011 e 2015. No ano passado, foram 645 córneas captadas na região. O processo é coordenado pelos hospitais Geral e Pompéia, de Caxias do Sul. Em 2011, foram 513 doações.
Os bancos de olhos das duas instituições são responsáveis por fazer o recolhimento das córneas quando acionadas pelas equipes treinadas para verificar a disponibilidade, o perfil do paciente e encaminhar a documentação em outros hospitais da região. Depois, classificam e fazem o controle da qualidade para encaminhar para o receptor. Essa destinação é realizada pela Central de Transplantes do Estado.
Embora o número tenha aumentado no total, o Hospital Geral registra uma diminuição nos últimos anos. Foram 346 córneas captadas em 2011. Em 2015, foram 298. De acordo com o biólogo Leandro Casiraghi, o motivo é o próprio perfil dos pacientes. Quem tem mais de 80 anos ou morreu em decorrência de determinadas doenças, como linfoma, não pode doar.
Casiraghi avalia que a população da região costuma ser solidária e, por isso, é comum que aceite a doação. Isso se reflete, por exemplo, nos números do Hospital Pompéia, que teve um aumento de 30% na captação entre 2011 e 2015.
A captação das córneas é a mais recorrente porque a retirada do tecido é mais simples. Pode ser realizada até 6 horas depois que o coração para. A situação é diferente em relação a outros órgãos como rins, fígado, coração e pulmão, por exemplo. Nesses casos, a doação só é possível por parte de quem teve morte cerebral. Por isso, a maior parte da retirada desses órgãos ocorre em quatro cidades na Serra: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha e Gramado.
De acordo com o coordenador da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, Tiago Franke, são esses municípios que têm instituições com melhores condições de tratamento de doentes neurológicos graves. Considerando essas cidades, a Serra teve aumento no número de doações: de 24 em 2011 para 31 em 2015.
Entre os doadores do ano passado, está Neusa Dalli Bassani. Em janeiro, ela sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. Moradora de Fagundes Varela, ficou internada por 12 horas inicialmente no Hospital de Veranópolis e depois no Pompéia. Durante esse período, as duas filhas conversaram e decidiram que fariam a doação. A iniciativa de tocar no assunto foi da primogênita Juliana Bassani, que é técnica em enfermagem.
"Eu sei que tem um pedaço dela em cada pessoa que a gente doou os órgãos. Então, pra mim, ela está ainda viva, entre nós", comenta.
Neusa doou diversos órgãos como pulmão, fígado, rins e córneas. A decisão da família foi influenciada pela característica solidária da mãe. Juliana conta que Neusa era doadora de sangue.
No Rio Grande do Sul, 1.223 mil pessoas estavam na lista de espera até o dia 4 de novembro, último dado atualizado da Central de Transplantes. Números como esses levam órgãos públicos a tentar uma permanente sensibilização em torno da doação. Quem trabalha na área diz que a resistência maior ocorre quando a família não sabe se a pessoa autorizaria ou não a doação. Por isso, a sugestão é que todos deixem a vontade clara.