Mais de 529 mil brasileiras foram internadas para tratamento de varizes entre 2013 e 2022, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Em média, o cálculo aponta que, a cada hora, seis mulheres são submetidas a cirurgias para tratamento do problema pela rede pública de saúde.
Responsáveis por causar desconfortos estéticos, além de dores e cansaço nas pernas, as varizes não se restringem a uma faixa etária, área específica do corpo e nem gênero. Em entrevista, a cirurgiã vascular e angiologista especialista pela SBACV, Fernanda Zignani, que é proprietária da Clínica Zignani, localizada em Porto Alegre, dá mais detalhes sobre este problema de saúde. Confira:
Em que situações as varizes podem se desenvolver?
As varizes têm múltiplas causas, que podem atuar de forma combinada. O fator hereditário é, de longe, o principal. Dessa forma, a predisposição genética de cada pessoa tem um papel significativo no surgimento da doença venosa. Para termos uma ideia, o risco de ter varizes pode chegar a 90% quando ambos os pais são afetados pelo problema.
No entanto, existem outros fatores que podem contribuir para o aparecimento da doença venosa, como a obesidade, o sedentarismo e longos períodos em pé ou mesmo sentados. Com o avanço da idade, as chances de aparecimento das varizes também aumentam. Nas mulheres, especificamente no período da gestação, devido às mudanças hormonais e corporais, as varizes podem surgir ou mesmo se agravar.
E os homens podem apresentar varizes?
Apesar de ser uma doença muito mais comum nas mulheres, os homens também podem ser acometidos pelas varizes. O que observamos é que devido a presença dos pelos nas pernas, os quais dificultam a visualização das veias dilatadas e dos vasinhos, eles acabam percebendo a doença venosa em fases mais tardias, geralmente quando os sintomas de dor e cansaço nas pernas se manifestam. Felizmente, a preocupação com a saúde e o Bem-estar aumentou muito entre os homens e observamos, a cada dia, uma procura maior tanto para diagnóstico como para o tratamento da doença venosa.
Quais são os riscos se as varizes não forem tratadas?
Quando não tratadas, as varizes podem desenvolver um quadro de insuficiência venosa crônica. É comum o aparecimento de alterações na pele das pernas, principalmente na região do tornozelo, a qual fica mais escurecida e de coloração acastanhada, além da perda da elasticidade da pele. Essas alterações predispõem ao aparecimento de feridas nas pernas, as úlceras venosas. Outra complicação é a tromboflebite superficial. Nesses casos, o sangue que está dentro da veia superficial tortuosa e dilatada forma um coágulo, ocasionando um processo inflamatório e muito dolorido. Ao longo dos anos, com o avanço da doença, a perda de qualidade de vida também se manifesta. É comum os sintomas de cansaço e queimação nas pernas piorarem.
Existe diferença de desconforto durante as estações do ano?
Normalmente, os sintomas de peso e queimação, assim como o inchaço nas pernas, pioram bastante no verão. Em temperaturas mais amenas, estes sintomas diminuem de intensidade ou até mesmo desaparecem.
Com relação aos tratamentos, como tem sido suas evoluções ao longo dos anos?
Eu costumo dizer aos meus pacientes que as tecnologias com laser revolucionaram o tratamento das varizes na última década. Uma das mais importantes evoluções foi a ablação térmica endovenosa, o endolaser, utilizado para o tratamento de veias safenas doentes. Esse método surgiu inicialmente como uma alternativa à retirada cirúrgica convencional da veia safena insuficiente, mas já teve sua superioridade e eficácia comprovada cientificamente quando comparado com o método tradicional.
Todo o procedimento de ablação térmica com endolaser é guiado por ecografia. É realizada a punção da veia doente com o auxílio do ultrassom e, na sequência, a fibra do endolaser é inserida dentro da veia. A fibra “viaja por dentro da veia” até o local em que o fechamento dessa veia deve ser iniciado. Nenhum corte é necessário e o retorno às atividades diárias é mais rápido.
Recentemente, o tratamento com endolaser vem se expandindo também para outras veias varicosas e, aos poucos, substituindo a cirurgia convencional de retirada desses pequenos trajetos varicosos.
Para o tratamento dos vasinhos mais superficiais, o laser também pode ser utilizado?
Sim, mas nesses casos usamos o laser transdérmico e não o endolaser. O método mais utilizado para o tratamento desses microvasos se chama CLaCS (Cryo laser and Cryo Scleroterapy). Neste método, um aparelho de realidade aumentada nos auxilia a localizar as veias nutridoras que estão alimentando os microvasos. Realizamos, então, os disparos de laser transdérmico para fechá-las e, na sequência, complementamos o tratamento com a escleroterapia convencional. O tratamento com laser transdérmico não necessita de repouso, permitindo ao paciente retornar às suas atividades cotidianas logo após o término da sessão.
Quais são os tipos de resultados possíveis de se esperar com o tratamento das varizes?
A apresentação da doença venosa varia muito, desde vasinhos mais superficiais até varizes mais calibrosas com doença da veia safena. Temos que ter em mente que, para cada tipo de variz existe um tratamento específico e, consequentemente, um resultado a ser esperado. Alinhar as expectativas do paciente em relação ao resultado é muito importante.
Por exemplo, vamos pensar em um paciente clássico com refluxo de safenas e sintomas intensos de dores nas pernas. Ao realizarmos a ablação endovenosa da veia safena insuficiente, esses sintomas de cansaço, peso e dores nas pernas geralmente já reduzem de forma significativa ou mesmo desaparecem dentro de sete a 30 dias de pós-operatório. Por outro lado, o tratamento dos microvasos superficiais com o CLaCS requer mais de uma sessão para que possamos atingir um resultado satisfatório. Com um bom planejamento, conseguimos melhorar a saúde e estética das nossas pernas.
E existe alguma época ideal para realizar esses tratamentos?
O tratamento pode ser realizado em qualquer época do ano, mas as estações de outono e inverno são uma excelente opção, especialmente para essas varizes de maiores dimensões. Nessa época do ano, principalmente aqui na região sul do país, substituímos as saias curtas e shorts por calças e vestidos longos. Dessa forma, os pequenos hematomas pós procedimentos não ficam expostos ao sol, diminuindo os riscos de pigmentações indesejadas. Além disso, devido a temperaturas mais amenas, os procedimentos que necessitam do uso de meias de compressão elástica durante um período de cinco a sete dias são melhor tolerados pelos pacientes.