
O velório da freira gaúcha Inah Canabarro Lucas, considerada a pessoa mais velha do mundo, começou 8h desta quinta-feira (1º) e seguirá até 15h30min na capela H no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre. Após o velório, haverá uma missa e a cremação. A religiosa morreu por disfunção múltipla dos órgãos na tarde de quarta-feira (30), aos 116 anos.
Inah morava na residência das Irmãs Teresianas, na Capital, e se tornou a pessoa mais velha do mundo depois da morte da francesa Lucile Randon, em janeiro de 2025, aos 118 anos. O mapeamento foi feito pelo LongeviQuest, grupo de pesquisadores referência no monitoramento de supercentenários pelo mundo.
Conhecida da religiosa há 60 anos, a irmã Lucia Ignez Passotto, 80 anos, que coordena a comunidade das Irmãs Teresianas, convivia diariamente e foi aluna da freira. Ela acompanhou as últimas horas na casa.
Foram momentos assim, de muita paz. Assim, diria muito sentimento também, porque a gente percebia que a vida dela estava se apagando, que nem uma vela que estava se apagando devagarzinho. E foi assim que aconteceu. Ontem, às 17 horas, a gente percebeu que ela não estava mais dando nenhum sinal. Mas a gente nem percebeu que ela tinha partido. Ela foi dormindo. Foi bem calmamente
LUCIA IGNEZ PASSOTTO
Coordenadora da comunidade das Irmãs Teresianas

A religiosa conta que Inah pediu para ficar em casa até o último momento, porque queria ficar junto com as outras irmãs. O médico dela também acompanhou.
A gente está muito, assim, por um lado triste, por outro lado a gente está vendo que tudo aquilo que ela desejou a gente pode oferecer para ela. Ela era muito social, então além da espiritualidade, que ela era muito fiel nas suas orações, nas suas devoções à Nossa Senhora. Ela tinha muito compromisso com a congregação, com 98 anos de congregação, então isso ela deixou um legado para todas nós. Muito social, muitos amigos, muitas amizades, então a gente vê que foi uma vida plena
LUCIA IGNEZ PASSOTTO
Nos corredores do cemitério, frequentadores e funcionários comentavam sobre a idade da “vózinha”. Ao lado do caixão, a freira que virou enfermeira de Inah fazia a última despedida, com um carinho na cabeça da amiga.
Velmira Piotrovski, 88 anos, confirmou que se tornou freira porque viu a irmã Inah em Iraí, quando tinha 18 anos.
— Ela foi nas águas térmicas porque tinha uma ferida nos pés, uma alergia e essa água ajudava ela. Eu vi ela de longe e uma voz me falou por dentro que eu ia ser igual a ela — confessa a irmã.
A freira logo entrou para a vida religiosa e cursou enfermagem na Venezuela, permanecendo em atuação pela Cruz Vermelha por décadas no país. Em 2022, de volta ao Brasil, passou a ser a enfermeira de sua irmã inspiradora, cuidando diariamente de suas medicações, porque estava bastante doente.
Mesmo com os cuidados paliativos, Velmira comenta que Inah sempre estava sorridente e disposta, fazendo questão de agradecer suas cuidadoras. Ela acompanhou a irmã até o final, segurando sua mão.
— Nos entendíamos muito, às vezes, quando ela falava ainda, ela dizia: Tu é minha filha ou minha mãe? Porque tu me manda como se fosse minha mãe. E você é minha filha, porque eu te trouxe pra congregação, né? Então, era brincadeira assim, das duas —compartilhou.

Bastante emocionado, o sobrinho de Inah também visitou a tia pouco antes da partida.
Segurei a mão dela e disse que estava ali presente, que o Internacional tinha ganho, que ela era fervorosa como torcedora. Ela tem uma maquete do novo estádio que ninguém tinha quando não estava pronto
CLEBER VIEIRA CANABARRO LUCAS
Aposentado
— Eu fiz uma carícia na cabeça dela e vejo uma lágrima. Acho que ela sentiu a minha presença — contou Cleber, emocionado.
Irmã Inah era sobrinha trineta do general David Canabarro e contou em entrevista à Gaúcha que não ficava sem chocolate e doce de leite.
— É coisa bem boa! — brincou em 2023, com 115 anos.