
No meio do Aeroclube do Rio Grande do Sul, no bairro Belém Novo, na Capital, onde aeronaves decolam e pousam, quem roubou a cena neste domingo (30) foram os clássicos que não saem do chão. O encontro de carros antigos e fora de série, como os esportivos Miuras, ocorre no último domingo de cada mês e reúne dezenas de apaixonados por automóveis.
Na frente de uma parede grafitada, sete Miuras enfileirados chamavam atenção. Do outro lado, Pumas, Fuscas e outros veteranos do asfalto se destacavam. Rogério Hubbe, um dos organizadores do encontro, estima que mais de 90 carros participaram da exposição. O homem de 63 anos, conhecido como Sombra, conta que o perfil dos donos costuma ser parecido:
— Chegando a uma certa idade, a pessoa já tem tudo. Falta um objetivo. Aí compra um carro velho e começa a mexer. É uma terapia. A maioria aqui tem essa história, com carros que circulam dentro da nossa Porto Alegre.
Os encontros organizados por ele começaram ainda na pandemia de covid-19, há quase quatro anos, com o intuito de arrecadar doações para quem precisava. Depois, grupos de carros antigos, como Clube dos Miuras, começaram a marcar presença nos eventos, fortalecendo a iniciativa.
Atualmente, a organização conta com um calendário bem distribuído de reuniões abertas ao público:
- Primeiro domingo de cada mês: no Mercado Público
- Segundo domingo: no Hipódromo do Cristal
- Terceiro domingo: na beira da praia de Ipanema
- Último domingo: no Aeroclube do Rio Grande do Sul
— A integração da família já é corriqueira todos os domingos, então as pessoas já se encontram, fazem o churrasco ou o almoço que for. E agora podem partir para um novo horizonte, que é o encontro de carros antigos, que é para toda a família. Todos podem aproveitar um grande momento juntos — avalia Sombra.
Presença confirmada
Fabricados entre 1976 e 1992 em Porto Alegre, os esportivos da Miura são inconfundíveis: baixos, com design único, tecnologia de ponta para a época e cores vibrantes. Neste domingo, estavam em exposição um TopSport vermelho, um X8 vermelho, um 787 branco, um Targa azul marinho, um Sport2 preto, um Sport 79 vermelho e um Sport 77 vermelho.
Os donos fazem parte do Clube dos Miuras, criado por Genuíno Pesente, 72 anos, e Zacarias Balbi, 69, no início dos anos 2000. Trata-se de um grupo de apaixonados pela marca gaúcha, que foi objeto de desejo em todo o país décadas atrás, e que hoje se esforçam para manter essa história viva.
— A gente já tem esses encontros como hábito há mais de 20 anos. Domingo eu acordo e penso “em qual encontro vou hoje?”. Vejo o programa AutoEsporte e vou. O Miura foi um sonho de consumo meu que não se realizou quando eu era jovem. Agora a gente está revivendo a marca, que ficou um tempo esquecida, e é essa a importância dos encontros — relata Pesente, que é carinhosamente chamado de Gino dos Miuras.
O aposentado tem nove Miuras em casa, na zona norte de Porto Alegre. Para o encontro, levou o Sport 2 preto, lançado em 1982, que comprou em 2006 no Rio de Janeiro. Já Balbi, proprietário de dois Miuras, levou o Sport 79 vermelho, primeiro da marca a ser adquirido e considerado o xodó.
— Quando começamos, a finalidade era comprar o que a gente não conseguiu ter quando era mais novo. A história de todos é parecida — afirma Balbi, o outro fundador do Clube dos Miuras, que usava um boné com broches da marca.