É fim de tarde e o sol começa a se pôr. Mesmo no calor intenso, as bancas da Feira Modelo do Passo da Areia, na zona norte de Porto Alegre, expõem uma imensidão colorida. Ali, os trabalhadores ficam até as 20h30min vendendo seus produtos. De repente, Cecilia, sete anos, se posiciona em frente à primeira banca e começa a enumerar as frutas que quer.
— O tio da fruta é famoso! Foi ele que fez eu gostar de frutas — explica a menina.
Esse tal “tio da fruta” é Jorge Gomes, 50, que trabalha no ramo há mais de três décadas. O feirante é conhecido em Porto Alegre por fazer as crianças provarem – e aprovarem – frutas. Com um sorriso no rosto, Jorge encontrou nesse público uma forma de fazer a diferença:
— Não tem dinheiro no mundo que pague. O amor de criança é o mais sincero.
Tudo começou a partir de uma percepção do feirante. Ele notou que muitos clientes falavam sobre a dificuldade dos filhos de comerem frutas. "Até vou levar essa, mas é muito complicado comerem lá em casa", era uma frase que Jorge ouvia de diversos pais.
Por isso, ele decidiu começar uma jornada com os pequenos. Há 17 anos, criou, junto com sua fornecedora parceira, a Silvestrin, a marca Frutas Divertidas, que hoje é um sucesso nas feiras da Capital.
— Decidi trabalhar com esse público alvo, com as crianças, pois, assim, os pais ficam reféns da minha banca. É lá que os filhos gostam de comer. Nas feiras de quinta, no Parque Germânia, chega a ter 20, 30 crianças em volta da minha banca — explica.
Experiências durante a compra e no consumo
Para estreitar ainda mais os laços com os pequenos, Jorge personalizou seu caminhão com o desenho da Frutas Divertidas e criou experiências na hora do consumo e da compra dos produtos. Quando degustam o kiwi, por exemplo, as crianças ganham uma colherinha especial que podem levar para casa. Além disso, recebem um livro de atividades de colorir e recortar com a identidade da marca.
— Além de comer bem, é uma diversão pra eles — enfatiza Gomes.
Assim como Cecília, Ana Paula, 11 anos, começou a gostar de frutas por conta do feirante. De acordo com sua mãe, a dona de casa Rosi Magewski, ela e seus irmãos comiam apenas bananas e maçãs, as frutas “mais básicas”. Com o incentivo e carinho do feirante, a família aprendeu a consumir uma maior variedade de produtos.
— Quando viemos, não falamos "vamos na feira", falamos "vamos no Jorge" — brinca Rosi.
Muitas outras crianças já cresceram, e agora levam seus filhos para conhecer o feirante e as suas frutas. Gomes se emociona ao contar sobre o carinho que ultrapassa gerações:
— Aqueles que eu conheci quando eram crianças estão levando seus filhos para comer frutas. Eles dizem: "o pai vinha aqui para comer fruta e agora tô te trazendo". Outros falam que até hoje comem frutas por minha causa. Tenho um carinho muito maior que o dinheiro pelos meus clientes.
Variedade é diferencial
A variedade é uma marca registrada da banca. Com a experiência de mais de 30 anos de estrada, a escolha dos alimentos que vai comercializar é feita a dedo por Gomes. E, para o feirante, não há fronteiras. As frutas vêm de lugares como Egito, Nova Zelândia, São Paulo e também do interior do Estado.
Para garantir a qualidade — e a doçura — dos produtos, o feirante acompanha o processo de colheita com um olhar atento e rigoroso.
— Eu cobro dos fornecedores que eles colham a fruta madura do pé. Porque o que marca as crianças é o sabor e cor — explica o feirante.
Na hora de lidar com o reconhecimento, o feirante é modesto. Para ele, amar o ofício é a explicação para as perguntas sobre sua fama. Gomes destaca a gratidão que sente por ter se tornado referência na área que atua:
— O pessoal vai lá (na feira) para conhecer quem é o Jorge e como ele consegue ter as frutas mais doces. É simples: é só fazer o que tu gosta. O importante para mim não é o dinheiro. Se a pessoa tem R$ 5 ou R$ 500 pra gastar com fruta, ela vai ser atendida da mesma forma. É isso que fideliza o cliente, tu ter o sorriso espontâneo.
E aconselha:
— Tu podes ser o que quiseres na tua vida, mas seja o melhor no que tu optou.
*Produção: Elisa Heinski