
Uma colônia de gatos se desenvolveu nos fundos de um grande imóvel do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre, causando preocupação entre protetores de animais em razão das condições de abrigo, exposição a eventuais maus-tratos, doenças e falta de cuidados veterinários adequados. Uma negociação entre ativistas da causa e a direção do INSS está em andamento para que o terreno possa ser acessado de forma organizada.
A ideia é capturar os bichos, prestar atendimentos necessários, castrar e tentar uma adoção em lar apropriado.
A estimativa é de que vive no local, em área arborizada, de matagal crescido e algumas construções em desuso, um grupo de 28 felinos: 25 adultos e três filhotes.
A aposentada Sandra de Oliveira, 63 anos, alimenta os animais duas vezes ao dia com ração, arroz, frango e sachês, além de fazer a troca da água. Ela aplica recursos próprios, cerca de R$ 800 ao mês, para cuidar da boia dos gatos. Também recebe doações de moradores e comerciantes da vizinhança. Os felinos que habitam o imóvel, onde baixa escuridão à noite, quando eles se embrenham em área verde, são de pelagem tigrada, preta e preta com branca, conhecida como frajola.
— Eles são bem nutridos. Tem gente que diz nem parecer gato de rua — comenta Sandra.
A cuidadora estima que a colônia existe há cerca de sete anos. Não se sabe ao certo como ela se formou. A hipótese mais cogitada é de que gatos foram abandonados no local sem castração, o que teria dado origem à reprodução e acúmulo.

O local
O imóvel do INSS faz frente com a Avenida Bento Gonçalves. Até 2015, abrigou a Agência da Previdência Partenon, que oferecia todas as modalidades de atendimento ao cidadão. O motivo do encerramento da unidade, informou o instituto, foi a digitalização de processos e de canais de atendimento. Desde então, o uso da propriedade foi reduzido.
Permanece em operação a Agência de Benefícios por Incapacidade, responsável por perícias médicas, avaliação social e reabilitação profissional. Na entrada, vigias controlam o ingresso e a saída, exclusivamente de funcionários e segurados com horário agendado.
Enquanto isso, ao fundo do amplo imóvel, em área de nenhuma circulação, conforme relatos, os gatos fazem moradia. Como o muro de parte do imóvel é formado por colunas de concreto, os felinos conseguem perambular pelos vãos. É na calçada da Rua Doutor Júlio Bocaccio que eles se alimentam, em potinhos, com as refeições preparadas por Sandra.
Ariscos, param junto ao muro ou entre as colunas para encher o pandulho. Riscam em caso de aproximação de estranhos. Os cuidadores, anos atrás, instalaram quatro casinhas de abrigo para os gatos se recolherem em períodos de chuva ou frio. Elas ficam entre o terreno e a calçada. Também há papelão do lado interno da propriedade para eles se acomodarem.
Riscos
Devido à exposição urbana, os animais sofrem consequências. Alguns têm o hábito de zanzar pela rua, o que já causou pelo menos um óbito por atropelamento. Como parte não é castrada, acontecem brigas ferozes entre os machos que, por vezes, deixam ferimentos severos.
Sandra tenta providenciar cuidados, sob orientação de uma veterinária da sua relação, mas nem sempre é suficiente. Já houve falecimento por ferida. Ataques de cães também ocorreram. Recentemente, parte da gataria teve alergia de pele e apresentou perda de pelos.
Um dos bichanos está com problema na gengiva e tem dificuldade para se alimentar. A alternativa para fazê-lo comer é transformar a comida em líquido, com auxílio do liquidificador. Há suspeita de pelo menos um caso de envenenamento de gato que, antes de morrer, foi localizado espumando pela boca dentro da propriedade.

Negociação com INSS
É por esses motivos que cuidadores fizeram contato com a Superintendência Regional Sul do INSS, sediada em Florianópolis. Como o acesso do público em geral ao imóvel é vedado, a intenção é obter autorização de ingresso para mitigar o problema e controlar a população. O INSS confirma que um acordo está em vias de ser finalizado.
"Estamos em tratativas com um pequeno grupo disposto a trabalhar na captura, castração e doação, o que deve ocorrer dentro de alguns dias", informou, em nota, a superintendência do INSS.
A ex-deputada estadual e ativista da causa animal Regina Becker foi quem conseguiu contatar a direção regional do órgão após quase dois meses de tentativa. Ela destaca que será necessária a organização de um calendário de ingressos no terreno. A tarefa não se resolve em uma incursão. Primeiro, será importante estabelecer algum vínculo com os gatos, que aceitam a aproximação somente da cuidadora Sandra, mas não o toque.
Depois, será preciso posicionar gaiolas em locais estratégicos, contendo no seu interior alguma isca de forte odor, como atum, sardinha ou sachê.
— Na curiosidade, eles entram e são capturados. E a retirada deles, depois da captura, precisa ser muito rápida. Gatos ferozes podem se debater nas grades e morrer — alerta Regina.
Após resgatar a gataria, vem a fase de cuidados e tentativa de adoção, mas a tarefa não deve ser simples.
— Não há dificuldade para doar gatos novos, bebês. A dificuldade é com os adultos. Eles já têm hábitos, rotina, às vezes não se adaptam a ambientes fechados. É complicado, mas não afasta a possibilidade de adoção em ambiente favorável — pondera Regina.

Para os gatos que não forem recebidos em novo lar, a alternativa é castrar e devolver aos fundos do imóvel do INSS, onde identificam habitat, com controle para brecar a reprodução.
O instituto informa que o imóvel tem vigilância interna e externa permanente, inclusive com averiguação da fração do terreno onde fica a colônia. O órgão comunicou que um contrato de manutenção predial está próximo de ser firmado. Quando isso ocorrer, a contratada fará serviço de limpeza e poda.
A secretária da Causa Animal da prefeitura de Porto Alegre, Tatiana Guerra, disse que está ciente da existência da colônia. O município, afirma, se colocou à disposição para providenciar as castrações dos felinos que forem capturados.
— O INSS autorizou a entrada da prefeitura recentemente, fizemos uma vistoria e não encontramos animais doentes — comentou Tatiana.