
Tradicional reduto cultural e boêmio de Porto Alegre, o bairro Cidade Baixa teve uma noite de Carnaval pouco movimentada nesta terça-feira (4). Zero Hora circulou pela localidade e constatou ruas esvaziadas e bares com pouca clientela.
Ruas conhecidas por grandes festas como a General Lima e Silva contavam com poucos clientes nas portas dos bares por volta das 21h. Nas vias do bairro, durante cerca de uma hora de circulação da reportagem pelo local, não foram encontrados blocos carnavalescos ou grandes aglomerações de foliões.
Cenário é diferente do que tradicionalmente ocorre na localidade e, conforme a comunidade, isso reflete a decisão da gestão municipal de proibir a realização de blocos de Carnaval no bairro.
— Está um movimento muito mais fraco do que os outros anos. Nós passamos pela cidade ao longo do dia e vimos que as pessoas estavam justamente tentando achar um lugar pra se divertir hoje, mas muitas vezes não achavam. Não tinha nada nas redes sociais informando, nas ruas também foi difícil encontrar. Está vazio, está atípico. Não parece o Carnaval da Cidade Baixa — avalia a analista de marketing Camila Souza, 27 anos, que estava reunida com dois amigos em um bar da região.
Apesar das ruas esvaziadas, diversas esquinas contavam com policiamento realizado por equipes da Brigada Militar.
— A gente está há horas procurando alguma coisa para fazer por aqui. Não tem nada em Porto Alegre. Nós queremos comemorar o Carnaval agora. Não faz sentido comemorar depois, porque não vamos estar em feriado. Vamos estar trabalhando, com compromissos. Muitos não vão ter como aproveitar. Outro dia, nós tentamos participar de um bloquinho aqui na Cidade Baixa e ele teve que terminar, foi dispersado, porque não tinha autorização para ser feito. É triste. Tem Carnaval em Guaíba, em Pelotas e não tem Carnaval na Capital — lamenta Ezequiel Bernardes, 37 anos, que mora na zona norte de Porto Alegre e buscou a Cidade Baixa em razão da ligação histórica da localidade com as comemorações carnavalescas.
Estabelecimentos relatam prejuízos econômicos
Para comerciantes, essa diminuição do público trouxe prejuízos econômicos para quem optou por abrir durante o Carnaval, além de ter gerado uma frustração. Isso porque essa data festiva normalmente é sinônimo de vendas mais altas no comércio, principalmente de bebidas e alimentos.
— Está bem atípico e com movimento bem menor do que os outros anos. A nossa esperança era o Carnaval. A gente já veio da enchente do ano passado. O Carnaval sempre foi uma data muito boa para nós (comerciantes), mas esse ano foi péssimo. Diminuiu em mais de 70% o público. Não vai ser possível arrecadar o que nós esperávamos para terminar os reparos do pós-enchente — afirma Fabiano Marinho, 50 anos, sócio do pub Toca da Coruja.
O sócio do estabelecimento, que funciona há 14 anos na Lima e Silva, relata ter presenciado noites de Carnaval com mais de uma centena de clientes. Nesta terça-feira, no entanto, cerca de cinco pessoas estiveram no estabelecimento no mesmo momento da reportagem.

Em outro ponto do bairro, na Travessa dos Venezianos, uma pequena aglomeração de foliões animava timidamente a comunidade. Cerca de 50 pessoas se embalavam ao som de sambas e pagodes por volta das 20h. Nesta viela, diversos bares aproveitavam o pequeno público para movimentar os negócios.
— É o segundo Carnaval que eu fico em Porto, porque nós resolvemos abrir ano passado e esse. Em ambos, teve repressão, de ter sempre dificuldade para saída de blocos. Para gente, sempre é temeroso. As pessoas ficam um pouco mais concentradas aqui porque não teve Carnaval na rua, mas a gente não vê isso como algo positivo. A gente gostaria que a cidade fosse viva. As nossas intenções econômicas são sempre no mesmo sentido de vivenciar a democracia — ressalta Bruna Martello, 36 anos, sócia do bar Guernica.
Carnaval proibido na Cidade Baixa
Após reuniões das associações de moradores e comerciantes da Cidade Baixa com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET), a pasta repassou queixas da comunidade ao Ministério Público, que, em 26 de fevereiro, recomendou à prefeitura proibir eventos de rua durante o mês de março no bairro.
Na recomendação, o MP menciona o relatório “Carnaval de Rua de Porto Alegre 2015”, elaborado pela Brigada Militar, que lista uma série de obstáculos à realização do evento de rua no bairro. Entre eles, o fato de as vias serem estreitas, o que dificulta a saída dos foliões em caso de urgência, de uma arquitetura de residências com janelas junto às calçadas, o que aumenta a perturbação do sossego público, entre outros fatores.
O Executivo municipal, então, decidiu não autorizar a celebração na Cidade Baixa por conta da "impossibilidade de garantir segurança dos frequentadores, moradores e comerciantes".