
Com duas décadas de trabalho como técnico de ar-condicionado em Porto Alegre, Luiz Henrique Carvalho, 60 anos, jamais passou por outro verão com demanda de serviço como agora.
A busca por reparos em aparelhos, ampliada pelo uso intensivo dos equipamentos sob temperaturas escaldantes e agravada pela falta de manutenção preventiva, faz com que por vezes nem tenha tempo de responder a todas as solicitações de assistência ao longo da jornada de trabalho.
Recebo, às vezes, mais de 50 mensagens num dia. Só consigo responder parte delas depois das 21h, quando chego em casa.
LUIZ HENRIQUE CARVALHO
Técnico de ar-condicionado
Em razão da procura recorde, o tempo de espera hoje para receber a visita de um especialista pode se estender de duas semanas a um mês, conforme três empresas do setor consultadas nesta quinta-feira (6) por Zero Hora.
— Só estou conseguindo agendar para depois do dia 20 de março. Nunca vi algo parecido, é uma demanda absurda — afirma Carvalho.
O cenário é semelhante entre outros prestadores de serviço, exigindo paciência de quem ficou sem refrigeração em casa. Gerente da empresa Luzitana, com sede no bairro São João, André Lumertz afirma que os agendamentos atuais estão ocorrendo com prazo aproximado de 20 dias.
A procura está muito acima do normal.
ANDRÉ LUMERTZ
Gerente da empresa Luzitana
Espera desde janeiro
Moradora da Capital, uma idosa de 70 anos é uma das clientes da Luzitana que aguarda pelo conserto de seu split. Antes de chegar até a empresa, que já recolheu o equipamento para a troca de uma peça, ela havia tentado ser atendida por outros dois prestadores de de outras firmas — que não apareceram nem deram satisfação.
Estou tentando consertar o ar-condicionado desde o começo de janeiro. Agora, pelo menos, está só faltando chegar a peça para arrumarem.
IDOSA, 70 ANOS
Cliente da empresa Luzitana
— Como o equipamento fica em um ambiente compartilhado de sala de jantar e sala de estar, faz muita falta. Para piorar, vou receber hóspedes neste final de semana. Estou vendo se consigo receber de volta antes disso — conta a idosa, que prefere não ser identificada.
A demora não se limita aos usuários domésticos. A empresa Cliosul, que tem foco em clientes empresariais, já está programando consertos para o mês de abril.
— Há muitos escritórios com aparelhos mais antigos, com cerca de 10 anos de uso. Como está sendo necessário deixá-los ligados por muito tempo para enfrentar esse calor, começam a apresentar falhas — explica o gerente, Gabriel Bueno.
Vazamento e sujeira estão entre problemas mais comuns
Uma série de problemas diferentes pode afetar o funcionamento do ar-condicionado. Um dos mais comuns, segundo André Lumertz, é o vazamento do gás refrigerante:
— Geralmente, isso ocorre por má instalação. Profissionais sem muita qualificação podem deixar algum vazamento, ou usar materiais de menos qualidade, e acaba vazando.
Outras falhas envolvem falta de limpeza dos filtros, problemas no dreno (que fazem a água refluir) ou condensação — que costuma ocorrer quando o aparelho é ligado em um ambiente com portas ou janelas abertas.
Nesse caso, como é mais difícil atingir a temperatura programada, o compressor funciona sem parar e refrigera o ar além do indicado.
Segundo Luiz Henrique Carvalho, em dias de calor extremo, há risco até de superaquecimento por conta da combinação das altas temperaturas interna e externa.
Gabriel Bueno sustenta que, para garantir um consumo adequado e aumentar a vida útil do aparelho, é importante adquirir um equipamento com potência adequada ao tamanho do ambiente e às condições específicas de cada cômodo, como o nível de insolação.
— O ideal é consultar alguém especializado que indique a quantidade de BTUs apropriada (medida da potência de um ar-condicionado) — completa Bueno.
Outras medidas preventivas incluem limpeza regular dos filtros e o uso, de preferência, do ar-condicionado sempre com temperaturas programadas entre 22°C e 25°C.