Carga insuficiente para ligar aparelhos elétricos, picos de energia frequentes que queimaram equipamentos, quedas de luz diárias. Esses são alguns dos problemas registrados em diferentes locais de Porto Alegre nas últimas semanas.
Segundo relatos ouvidos pela reportagem de Zero Hora, os transtornos ocorrem tanto em áreas residenciais, quanto comerciais, em regiões centrais da Capital, atendidas pela CEEE Equatorial.
Em um condomínio na Rua João Telles, no Bom Fim, por exemplo, o problema está na energia abaixo do necessário para o funcionamento de aparelhos do prédio.
— Começamos a ter problemas no funcionamento de um dos elevadores. Chamei a empresa de manutenção e eles constataram que não era um defeito na máquina, mas na tensão recebida. Então, um eletricista fez a medição e verificou que estávamos recebendo uma tensão bem mais baixa — relata a síndica, Daniela Munhoz.
Ainda conforme Daniela, o mesmo técnico mediu a voltagem em um estacionamento ao lado do condomínio e confirmou que o local também estava recebendo energia abaixo do necessário. Com isso, a concessionária CEEE Equatorial foi acionada pelos moradores.
— Um técnico veio vistoriar as instalações do prédio e corroborou com o que o eletricista tinha falado, que realmente o problema não era no condomínio, mas da Equatorial. Que precisaria trocar o transformador na rua porque não estava dando conta da carga exigida. Porém, duas semanas depois, apareceu outro técnico e simplesmente disse que o problema não era da empresa, mas do condomínio — relata a síndica.
Daniela afirma que, desde então, aguarda retorno da CEEE Equatorial para fazer a troca do transformador. Além do elevador, moradores do prédio dizem ter perdido eletrodomésticos por causa da baixa tensão.
Procurada por Zero Hora, a CEEE Equatorial, enviou nota na qual diz que "já está sendo realizado o levantamento técnico para identificar a causa das ocorrências relatadas pelos clientes. A previsão é que a solicitação seja atendida ainda neste mês".
Prejuízo para o comércio
O bairro Bom Fim é uma região com grande concentração de estabelecimentos comerciais. Pelo menos dois deles, situados na Rua Felipe Camarão, enfrentam constantemente falta de energia.
— É uma queda diária de luz. Nos dias em que falta por muito tempo, prejudica toda a venda. Eu vendo cerveja, se não estiver gelada, não consigo vender. Se falta em um dia de jogo, por exemplo, tenho um prejuízo absurdo. Fora todos os equipamentos que queimam. Eu já perdi freezer, cervejeira, câmara fria, ventilador — afirma o empresário Marcos Chmiel, sócio do Bier Poa.
Inauguração marcada por falta de luz
No mesmo logradouro, onde uma unidade da sorveteria Cremolatto abriu as portas em 14 de fevereiro, a empresária Carla Adriana Maneiro já acumula prejuízo estimado em R$ 20 mil em razão de quedas de luz diárias. O último episódio foi registrado na segunda-feira de Carnaval. Além de dois freezers queimados e produtos perdidos, um aparelho de ar-condicionado de 60mil btus foi danificado e precisou de manutenção.
— No dia da inaguração, faltou luz, e as pessoas que estavam na fila foram embora. Atrasamos em duas horas a abertura. Nos dias que se seguiram, quase todos os dias fiquei sem luz, não totalmente, mas em duas fases. Perdi toda a minha mercadoria. Não consigo trabalhar de maneira adequada - queixa-se Carla, diante do que chama de "dilema":
— Não sei se faço pedido para abastecer o final de semana que vai ser muito quente ou se não peço nada para não perder. A situação está bem calamitosa.
Sobre os problemas no fornecimento ao bairro Bom Fim, a CEEE Equatorial respondeu:
"A respeito dos relatos de oscilações de energia no bairro Bom Fim, a CEEE Equatorial esclarece que realizou uma reunião com o responsável pela associação de moradores do bairro na última quinta-feira (27), e que as equipes estão em deslocamento e mobilizadas para solucionar o problema o mais breve possível".
Baixa tensão e cortes
No bairro Moinhos de Vento, falhas no fornecimento de energia também afetaram negócios, como na Barão de Santo Ângelo, em uma das lojas da rede Charlie Brownie.
— Temos tido picos e quedas de energia frequentes. Com isso, já queimou equipamentos, como micro-ondas e a coifa do fogão. Várias lâmpadas do salão queimaram também e precisamos ficar trocando. No segundo andar, não conseguimos ligar os aparelhos de ar-condicionado porque a energia é baixa — reclama Tiago Schmitz, sócio-proprietário da loja.
À reportagem, a CEEE Equatorial informou que encaminhou ao cliente o valor de uma obra que será realizada pela distribuidora, sem custos para o consumidor. "O prazo para a realização da mesma ainda está em vigor. Caso o cliente opte por realizar o serviço contratando uma empresa particular, será ressarcido do valor informado", diz o texto.
Na Dinarte Ribeiro, a confeitaria Doce Formiga enfrentou cortes no fornecimento de energia semanalmente nos últimos meses. A proprietária, Camila da Cunha, conta que precisou fechar a loja por alguns dias e estima ter deixado de faturar cerca de R$ 3 mil, além de ter perdido bolos que tinham sido feito para pronta- entrega.
Incomodada com o prejuízo em equipamentos e produtos e com a falta de resposta da concessionária, publicou uma nota no perfil da empresa no Instagram, na qual cobrava solução para o problema.
A partir da publicação, segundo Camila, a CEEE Equatorial entrou em contato por mensagem informando que seria realizada a troca de um transformador que estaria com defeito. O que não aconteceu. Uma equipe da concessionária esteve no local e efetuou a troca de fiação.
— Disseram que o transformador estava danificado e precisava ser trocado. Depois, trocaram os fios e disseram que havia vários problemas de conexões, que os cabos eram velhos e que a poda das árvores não estava sendo feita — relata.
Apesar das divergências de informações, até o momento, conforme a proprietária, não houve mais falhas consideráveis na rede depois da troca dos fios.
Altas temperaturas aumentam risco de problemas com energia
As quedas e intercorrências no fornecimento de energia elétrica são potencializadas pelo calor extremo que atinge o Rio Grande do Sul, segundo especialistas.
As razões para problemas na distribuição costumam envolver sobrecarga da rede por conta da alta demanda e o eventual superaquecimento de equipamentos do sistema de abastecimento, como mostrou reportagem publicada na quarta-feira (5).
— Em dias muito quentes, pode haver superaquecimento de equipamentos como cabos, transformadores, conexões... Eles têm um limite térmico para operar. Quando está muito quente, precisam dissipar mais calor, de forma mais eficiente. Se não ocorrer de forma eficiente, ativa-se uma proteção para evitar a queima do equipamento ou algum dano prematuro, e pode desarmar o transformador ou desligar algum equipamento preventivamente — explicou o coordenador da câmara especializada de engenharia elétrica do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS), Renê Reinaldo Emmel Júnior.