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Dois dias após o temporal que atingiu o Rio Grande do Sul, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Humaitá segue alagada e sem previsão de retomada das aulas presenciais. A instituição de ensino fica na Vila São Borja, no bairro Sarandi, em Porto Alegre.
A chuva intensa de domingo (16) afetou o pátio, todos os banheiros e as salas do colégio da zona norte da Capital. Com isso, as atividades foram suspensas ainda na segunda-feira (17).
No pátio da escola, o chão deu espaço a um corredor de água, que não consegue ser escoado. Equipes do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) estiveram nas imediações do local nesta tarde para limpar a rede, mas não foi suficiente. A autarquia retornará na quarta-feira (19).
Segundo a direção da instituição e os familiares dos alunos, a situação é recorrente quando chove. A diretora da escola Humaitá, Aline Bittencourt, diz que a região não é urbanizada, o que compromete o saneamento básico no entorno da escola. Somado a esta situação, ainda há o fato de que a estrutura foi construída abaixo do nível da Rua B e das redes.
— A maioria das casas foram ocupando o espaço e todo o saneamento básico é comprometido. A escola fica abaixo do entorno, então, quando chove, a água vai para dentro da escola e não consegue sair. A rede não comporta o volume — explica a diretora da escola.
Katriane Gabriele Ortiz, 32 anos, é mãe de duas alunas da Escola Estadual Humaitá, e está grávida de um terceiro filho. Com o impacto da chuva, a vendedora de salgados no bairro Sarandi tenta conciliar o tempo no serviço com os cuidados, ainda que temporários, com o ensino das filhas.
Presença ativa na escola, com direito a reconhecimento da direção, Katriane contou à reportagem de Zero Hora que o ensino das pequenas vem sendo prejudicado não apenas agora, mas nos últimos anos. O motivo, de acordo com ela, é atribuído a falta de cuidados por parte do Estado com a estrutura da escola:
— A palavra que define isso aqui é tristeza. O ano começou na quinta, com calorão, e estamos nessa situação. Chove e elas são prejudicadas sempre. Não sabemos quando mandamos ou não. É uma escola muito boa, mas a gente acaba parando no esgoto — disse a vendedora de salgados.
“Não temos ninguém para ajudar a escola”
Jéssica dos Santos Ribeiro, 28 anos, é mãe de uma aluna e funcionária da área da limpeza da escola estadual Humaitá. Há um ano trabalhando no local, ela, que mora no entorno do colégio, na Vila São Borja, perdeu as contas do número de vezes em que precisou reforçar os serviços de limpeza em razão das chuvas. Em alguns casos, trabalhando ainda mais horas do que o previsto.
Apesar das tentativas de limpeza e cuidados com a própria saúde, o descaso por parte das autoridades a incomoda. Porém, o incômodo dá espaço a tristeza quando é questionada pela filha sobre o retorno ao convívio com os colegas:
— Para mim, como mãe, é muito triste. Como funcionária, a gente não tem ajuda. A gente tenta fazer tudo para ajudar, mas não temos ninguém para ajudar a escola. Mas o que mais dói é quando a minha filha fica perguntando quando vai para escola. Aí eu tenho que dizer que ela não vai porque a escola está cheia de água — lamenta.
Procurada, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) disse que a 1ª Coordenadoria Regional está acompanhando o caso. O Estado orientou a direção da escola a utilizar o recurso do Programa Agiliza para contratar uma empresa especializada no serviço.
Uma equipe do Dmae esteve no local nesta terça para fazer a limpeza do entorno, mas o problema persiste. A autarquia confirmou que a escola está localizada abaixo do nível da rua B e das redes. Com isso, existe a necessidade de uma intervenção viária completa no local, incluindo a instalação de uma rede de drenagem.
Segundo a pasta, esse serviço é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi).
A reportagem questionou a prefeitura de Porto Alegre para saber se a área está regularizada, mas ainda não teve retorno. O espaço está aberto para manifestações.
Confira a nota do Dmae
"O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informa que a Escola Estadual Humaitá, na rua Senhor do Bom Fim, está localizada abaixo do nível da rua e das redes. Por isso, é um ponto suscetível a alagamentos em episódios de chuvas intensas. O local precisa de intervenção viária completa - incluindo instalação de rede de drenagem urbana, equipamentos como bocas-de-lobo e poços de visita e, por fim, pavimentação da via e calçadas. Intervenções do tipo são projetadas pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi)."