Porto Alegre registrou 14.853 acidentes de trânsito em 2024. Os dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostram que 80 destas ocorrências foram fatais, resultando em 84 mortes (uma alta de 18% em comparação com o ano anterior).
A pedido de Zero Hora, a EPTC apontou os cinco cruzamentos com mais acidentes em Porto Alegre no ano passado. Todos eles ficam na Avenida Ipiranga, que corta a cidade de leste a oeste.
O local com mais registros foi o ponto onde a Avenida Silva Só e a Rua São Manoel convergem com a Ipiranga, entre os bairros Santana e Santa Cecília. A empresa pública contabiliza separadamente as duas vias, embora formem o mesmo cruzamento.
De acordo com o balanço da EPTC, foram 43 acidentes nesta intersecção, sendo 22 no entroncamento da Silva Só com a Ipiranga, e 21 no ponto de contato entre a avenida e a Rua São Manoel.
Os outros três cruzamentos da Ipiranga com mais ocorrências foram com as avenidas Salvador França (34), Erico Veríssimo (19) e João Pessoa (17).
O quinto lugar deste ranking tem um empate: também foram registrados 17 acidentes ao longo do ano na intersecção das ruas Dona Margarida e Edu Chaves, no bairro São João, na Zona Norte.
Apesar de abranger os cinco cruzamentos com mais acidentes na Capital, a Avenida Ipiranga não figura entre as que têm mais ocorrências fatais (posição que fica com as avenidas Sertório e Bento Gonçalves, também de acordo com a EPTC).
— A Ipiranga é muito semaforizada, mas é um ponto de grande movimento, com grandes esquinas, fluxo intenso e trânsito complexo. Curiosamente, são os pontos que mais têm acidentes, porém, não dos graves, com feridos e óbitos. Os cruzamentos da Ipiranga com a Salvador França e com a João Pessoa são campeões de "batidinhas", o que acaba sendo o mais comum na cidade — avalia o diretor-presidente da EPTC, Pedro Birsch Neto.
O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego do Rio Grande do Sul (Abramet-RS), Ricardo Hegele, avalia que há sobrecarga de tráfego nestas vias que concentram os acidentes.
— A Avenida Ipiranga, a Bento Gonçalves e a Sertório são avenidas que trazem, especialmente, esses veículos da Região Metropolitana para dentro de Porto Alegre, e vice-versa. Nós temos essas situações, inclusive, de uma sobrecarga de veículos nessas avenidas, o que acaba gerando esse maior número — aponta Hegele.
Para o diretor do aplicativo Sintáxi, Rafael Manganito, o uso do celular, em especial do aplicativo de mensagens WhatsApp, é um fator de risco a ser considerado na acidentalidade da Capital.
— Esse uso do aplicativo vem chamando a nossa atenção, especialmente nas sinaleiras. Com esse advento das redes sociais, tá tudo mais rápido e notamos esse aumento por parte dos motociclistas também, que precisam responder aos aplicativos o tempo todo, por exemplo. Esse tipo de serviço acaba gerando desatenção — avalia.
O aumento do uso do celular entre condutores é apontado também pela EPTC como possível causa da maior gravidade dos acidentes em Porto Alegre. O órgão ainda avalia as causas da alta nas ocorrências fatais, embora o número total de registros tenha caído. Se em 2024 foram 14.853 acidentes nas ruas e avenidas da Capital, em 2023 foram 15.233. O total de mortes no trânsito, porém, subiu de 71 para 84, e houve elevação também no total de feridos: foram 6.752 em 2024, ante 6.679 em 2023.
— Apesar de todos os cuidados clássicos, os acidentes de gravidade vêm aumentando e estamos tentando um diagnóstico para os motivos. A nossa maior desconfiança, embora não tenhamos como provar ou levantar estatística, é o uso, por vezes abusivo, do celular. Por isso, vamos fortalecer ações com esse foco para o ano que vem — avalia o diretor-presidente da EPTC.