Há mais de uma semana, dezenas de moradores da Ilha das Flores, em Porto Alegre, estão acampados às margens da BR-290. Eles não podem ficar em suas casas em razão da enchente, mas também não querem se distanciar, com medo de ter pertences furtados de suas casas por criminosos. Por isso, acampam próximo às residências.
Barracas foram montadas nos dois sentidos da rodovia. Há também moradores em Kombis, que foram usadas para garantir a segurança dos bens resgatados antes da inundação no local. Eles contam com lonas, muitas das quais fornecidas pela Defesa Civil de Porto Alegre. Os moradores afirmam que têm recebido suporte do órgão, inclusive com entrega de alimentos.
Mesmo assim, quem está na região pede mais doações de lonas e de madeiras. Anderson Renato Gomes Barbosa, 39 anos, é um deles. Com o nível de água atingindo a cintura no ponto onde fica a sua residência, na Rua do Pescador, ele tem precisado da ajuda de vizinhos para adquirir materiais de construção.
— A Defesa Civil entregou algumas lonas, mas precisamos mesmo de madeira por aqui. A água chegou a bater no meu pescoço ali na minha casa. Perdi muita coisa e muita gente tem de recomeçar. Precisamos de muitas doações por aqui — disse Barbosa.
Desde segunda-feira (25), Maria Luísa Araújo Pereira, 42 anos, montou uma barraca na região.
— Subimos para cá na manhã de segunda-feira e só fui em casa para pegar a comida do gato. Até consigo acessar, mesmo com o nível alto, mas seguimos cuidando das casas — relatou.
Maria Luísa conta que perdeu tudo durante a cheia e só conseguiu salvar uma televisão no local:
— Tem de começar do zero. A casa está destelhada. Não tem mais nada da estrutura. Está detonada. É difícil, porque eu tenho cinco crianças que só saíram com a roupa do corpo.
Desde 7 de setembro, Priscila Alves Antunes, 31 anos, vem sofrendo com o impacto das chuvas na região. Ela está acampada com os filhos há uma semana às margens da rodovia. Num primeiro momento, após a casa dela ficar cheia de água, a família se refugiou na casa da mãe que, há cerca de duas semanas, também inundou.
— Depois da casa minha mãe, viemos para cá. Não tem para onde ir, infelizmente. Aí não queremos sair, porque o pouco que conseguimos salvar, não queremos que as pessoas roubem — contou.
O número de pessoas afetadas na Ilha das Flores não foi divulgado.
Nível da água reduz na Ilha da Pintada
Apesar da redução do volume de água em pontos com inundação, como na Avenida Presidente Vargas, moradores da Ilha da Pintada seguem sofrendo com os transtornos causados pela chuva na região.
Segundo a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), 109 pessoas estão fora de suas casas, a maioria delas — 105 — acolhidas na igreja Nossa Senhora da Boa Viagem.