Diante do altar de uma igreja, na Ilha da Pintada, em Porto Alegre, roupas são dobradas e distribuídas para famílias atingidas pelas chuvas. A Capela Nossa Senhora da Boa Viagem abriu as portas, mais uma vez, para acolher quem precisa de ajuda. A medida atende a um pedido da Defesa Civil municipal e seguirá pelo tempo que se avaliar necessário.
O padre Rudimar Dal’Asta, aliás, conhece muito bem esse tipo de problema. Ele assumiu o local em 2015, ano em que as ilhas de Porto Alegre foram atingidas gravemente por uma inundação.
— Todo ano, quando vem a enchente, as famílias perdem seus bens materiais. Ainda bem que preservam suas vidas. Agora, dói. Porque a gente sabe as condições das famílias das ilhas, as necessidades que elas têm, perder algo tão precioso para elas dói demais pra gente — admite o clérigo.
Conforme medição da régua automática localizada no Cais Mauá, na área central da cidade, o nível do Guaíba, que recebe as águas do Rio Jacuí, estava em 2m70cm no começo da tarde desta quinta-feira (14). A marca supera a cota de alerta em três centímetros – já a cota de inundação é 3m. Já na régua manual, na Ilha da Pintada, o nível estava 24 centímetros acima da cota, com 2m44cm.
Durante a tarde desta quinta, 38 pessoas, sendo pelo menos 15 crianças, eram acolhidas num pequeno abrigo montado ao lado da igreja. De acordo com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), ao todo, 10 famílias recorreram ao local a partir do momento em que as águas do Rio Jacuí invadiram suas casas. Em toda cidade, são 105 acolhidos nos três abrigos administrados pela fundação. Além dos 38 da Pintada, há 48 desabrigados no bairro Lami e 19 na Ponta Grossa.
— Aqui na capela, elas vão ser alimentadas tanto fisicamente quanto na sua fé — destaca o padre Rudimar.
Ariana Querin Silva, de 39 anos, não tem certeza, pois perdeu contato com o marido, mas até pouco tempo atrás tinha a informação de que pelo menos a geladeira havia sido salva.
— Quem tá no meu colo é a Sofia Marisa, ela tem três meses. Tenho mais dois filhos. Meu outro guri está com febre, já foi atendido. Acho que é porque eles não estão acostumados com isso tudo — acredita a mãe.
A prima de Ariana se chama Maria Ana Ávila Macedo. Diagnosticada com diabetes, ela teve as duas pernas e algumas partes dos dedos da mão amputadas. A idosa se encarrega, volta e meia, de pegar a nenê no colo. São duas gerações distantes que compartilham da mesma necessidade de resiliência.
— É muito triste, a gente perde tudo o que ganha. Se eu tivesse condições já teria saído de lá.