Em texto publicado em GZH, o colunista Fabricio Carpinejar classificou o Jardim Botânico de Porto Alegre como o "endereço mais subestimado da cidade". E recorreu aos números para sustentar a tese: são cerca de 65 mil pessoas que visitam o local por ano, enquanto o de Curitiba, por exemplo, recebe 2 milhões de visitantes anuais (leia mais abaixo).
No final de 2022, o governo do Estado tentou conceder a gestão do Jardim Botânico da capital gaúcha à iniciativa privada, mas não apareceram empresas interessadas em participar da disputa. Agora, a expectativa é de que um novo edital seja lançado em outubro pela Secretaria de Parcerias e Concessões do RS.
— Estamos avaliando sobre a ausência de interessados, fazendo alterações no projeto e reavaliando alguns pontos — explica o secretário estadual de Parcerias, Pedro Capeluppi, que aponta o contexto político no final de 2022 como um dos motivos para o afastamento de possíveis investidores naquele momento.
Segundo o governo do Estado, a concorrência pública internacional prevê investimentos de R$ 27,3 milhões para requalificação, modernização, operação e manutenção da infraestrutura da área de 39 hectares. O contrato será de 30 anos.
O modelo de concessão é diferente da privatização tradicional, porque não acontece a transferência de propriedade do ativo. Pela proposta, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) permanecerá responsável pela pesquisa científica e manutenção das coleções da flora nativa, jardim de plantas medicinais e da área de produção de mudas.
— Acredito que, por volta de outubro, vamos fazer o lançamento deste edital — estima Capeluppi, dizendo que os ajustes estão quase finalizados.
— Estamos deixando claro o que pode ser feito de melhoramentos no Jardim Botânico. Vamos deixar claro para o investidor qual tipo de atividade econômica pode ser explorada ali dentro — conclui.
Após o lançamento do edital, o leilão acontecerá cerca de três meses depois. Dessa maneira, se houver algum vencedor, no primeiro semestre de 2024 poderia começar a operação privada da gestão do Jardim Botânico.
A modelagem do projeto de concessão foi elaborada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com apoio do consórcio Araucárias e do Instituto Semeia, sob coordenação da Secretaria de Parcerias e Concessões do RS, Sema, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) e Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
Um dos cinco melhores do país
Perto de completar 65 anos, no próximo dia 10 de setembro, o Jardim Botânico de Porto Alegre fica localizado em plena Terceira Perimetral, na Rua Doutor Salvador França, e é administrado pela Sema. Cerca de 80 pessoas, entre profissionais concursados e terceirizados, trabalham no local.
O espaço possui infraestrutura e oferece segurança, estacionamento, bicicletário, lancheria, banheiros, elevador para idosos e rampas para cadeirantes. Os ambientes são cuidadosamente mantidos limpos e com a grama aparada.
O parque integra a Rede Brasileira de Jardins Botânicos, sendo uma das cinco unidades com classificação "A" no Brasil, conforme a Resolução Conama 339. Na prática, isso significa que o Jardim Botânico da Capital está entre os melhores do país na avaliação do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Também aparece com parecer positivo no site do Tripadvisor, onde ostenta a nota 4.5 em uma escala que vai até 5. Na mesma página da internet, os usuários reclamam da proibição de se levar animais de estimação ao parque, o que de fato não é permitido.
O Jardim Botânico se dedica ao estudo e à conservação de espécies vegetais nativas do RS, particularmente aquelas ameaçadas de extinção, desenvolvendo atividades de pesquisa, conservação e educação ambiental. Nesse contexto, o Museu de Ciências Naturais e o Serpentário são algumas das tantas atrações, mas não as únicas.
— Além dos recantos para as pessoas fazerem piqueniques, estamos revitalizando o palco para trazer espetáculos, temos as coleções científicas das plantas medicinais, do cactário, os lagos e as trilhas — enumera a chefe da Divisão de Pesquisa da Sema, bióloga e pesquisadora Patrícia Witt.
Na última quinta-feira, quando a reportagem de GZH percorreu os espaços, havia algumas pessoas aproveitando a manhã ensolarada e visitando o Jardim Botânico. Eram casais com filhos, namorados e turmas de Escola Infantil.
— O Museu de Ciências Naturais, com suas coleções científicas, recebe visitantes não só do RS, mas do mundo todo. Acessam às coleções de fauna, flora, o herbário, a paleontologia — destaca a bióloga, mencionando que o Jardim Botânico ainda publica duas revistas científicas.
Durante a visita da reportagem ao local, uma família se aproximou para sugerir mais informações nas atrações ao ar livre por meio de leitura por QR Code. Na verdade, alguns espaços, como na coleção de butiazal, plantada em 2022, esta opção já está disponível em placas.
— No Serpentário, a grande maioria das espécies são nativas do próprio Estado. Algumas são exóticas oriundas de apreensões. É um grande atrativo ver as serpentes vivas — diz Patrícia.
Abrigar esses répteis ainda permite outra função no campo da pesquisa, diz a bióloga.
— Fazemos a extração de peçonha ao vivo. No momento, armazenamos soro para uma situação emergencial — revela.
Recentemente, um meliponário — coleção de colmeias de abelhas sem ferrão —, que faz parte do trajeto da trilha ao lado do viveiro de produção de mudas, foi criado com proposta educativa para os visitantes. Além disso, está em andamento um projeto de revitalização das vitrines do museu, o que deverá estar concluído até o aniversário de setembro.
— Temos implementado as melhorias na própria exposição e estamos iluminando o Jardim Botânico, projetando atividades noturnas de visita ao museu. Fizemos um piloto durante o evento Noite dos Museus — relata a chefe da Divisão de Pesquisa da Sema.
Nas imediações do Jardim Botânico será erguido um complexo de compras, que envolve as avenidas Tarso Dutra e Protásio Alves, além das ruas Cristiano Fischer e Antônio Carlos Tibiriçá. Questionada se a construção poderá afetar de alguma maneira a biodiversidade do local, a bióloga disse que não acredita nessa hipótese.
Entretanto, em relação à infraestrutura do próprio Jardim Botânico, a sensação é de que há margem para aprimorar alguns aspectos.
— Precisamos melhorar a nossa infraestrutura também. Temos alguns espaços, de acordo com o Plano Diretor, que podem ser construídos e melhor explorados — reflete Patrícia, acrescentando:
— O que nos falta aqui são atrativos como, por exemplo, ter um local para meditação ou um restaurante panorâmico, que traga alimentação natural em harmonia com esse ambiente, não só de dia, mas também de noite.
Serviço
O Jardim Botânico da Capital abre de terça a domingo, das 9h às 17h. Os ingressos custam R$ 6 (adultos) e R$ 3 (estudantes). Crianças até cinco anos e idosos, a partir dos 60 anos, não pagam.
O estacionamento é cobrado nos finais de semana e feriados. O valor é R$ 11.
Confira a situação de outros parques semelhantes pelo país
Jardim Botânico de Curitiba
Com quase 280 mil metros quadrados, o Jardim Botânico de Curitiba abriga um enorme jardim em estilo francês, pista de caminhada, estufa envidraçada e até velódromo. Trata-se de um dos pontos turísticos mais visitados da capital paranaense.
Foi inaugurado em 5 de outubro de 1991 e é administrado pela prefeitura da cidade. A entrada é gratuita.
Um mirante acessível para pessoas com deficiência ou com alguma limitação motora está entre as novidades recentes do lugar. Foram instalados em alguns trechos e espaços 7,5 mil metros quadrados de piso novo e antiderrapante, em pedrisco e pó de granito, para maior segurança dos visitantes.
A estufa foi reaberta após um mês para a realização de obras para manutenção. Foram lavadas as 3,8 mil peças de vidro e a estrutura metálica por dentro e por fora. O local possui loja de recordações e até centro de atendimento ao turista.
O Jardim Botânico ficou com a quarta colocação entre os "Pontos Turísticos que mais nos fazem felizes no mundo em 2023", conforme levantamento realizado pela Casago, empresa americana de administração de imóveis para aluguel de férias. Também lidera a lista de lugares preferidos dos fotógrafos.
Em 2007, foi o monumento mais votado numa eleição das Sete Maravilhas do Brasil, promovida pelo site Mapa-Mundi. O canal de TV norte-americano CNN colocou o Jardim Botânico na lista dos 20 lugares mais belos do país em 2014. Cerca de 2 milhões de visitantes passam pelo local anualmente.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, fundado em 13 de junho de 1808, nasceu de uma decisão do então príncipe regente português, Dom João VI, de instalar no local uma fábrica de pólvora e um jardim de espécies vegetais vindas de outras partes do mundo. Possui cerca de 54 hectares de área de visitação pública, e o ingresso em suas dependências é pago (R$ 17).
Além de abrigar milhares de espécies de plantas, inclusive algumas árvores gigantes, o local oferece opções como museus, praça de teatro, biblioteca, exposições, atividades culturais, visitação temática e escolar, portal de dados, livros, mapas, teses entre outros atrativos.
O lugar, que completou 215 anos em junho, sempre foi uma referência na área da pesquisa e já recebeu visitantes ilustres, como o físico Albert Einstein e a rainha Elizabeth II. Um jardim de seringueira, em homenagem ao ambientalista Chico Mendes, foi inaugurado recentemente no local.
Em 1991, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura considerou o Jardim como Reserva da Biosfera. Também se trata de monumento nacional tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Oferece até visitas noturnas às sextas-feiras. Apenas em 2022, recebeu 450.627 visitantes.
Jardim Botânico de São Paulo
Com entrada paga (R$ 19,90), o Jardim Botânico de São Paulo tem importância histórica no país. Sua área abriga os três afluentes que formam o riacho do Ipiranga, onde, às suas margens, o imperador Dom Pedro I declarou a Independência do Brasil em 1822.
O lugar conta com uma área de 360 mil metros quadrados de Mata Atlântica. Fundado em 1928, promove atividades de pesquisa, conservação, educação ambiental, além da promoção da cultura e lazer.
Entre as atrações estão o Jardim de Lineu e suas escadarias construídas em 1928. Nas estufas, os visitantes podem conhecer um pouco mais dos exemplares das vegetações da Mata Atlântica e do Cerrado.
Em 2021, o governo de São Paulo oficializou a concessão do Zoológico, do Zoo Safari e do Jardim Botânico para o grupo Reserva Paulista, atualmente responsável por revitalizar e administrar essas áreas, além da operação e do atendimento aos visitantes pelo período de 30 anos.
A concessão pretende aumentar o uso público do lugar com a implantação de programas de educação ambiental, novos espaços de lazer, cultura e alimentação. Também visa garantir mais acessibilidade aos visitantes que chegam por meio do transporte coletivo. Os investimentos obrigatórios somam pelo menos R$ 70 milhões. Em 2022, o Jardim Botânico paulista recebeu 151 mil pessoas.