Porto Alegre é sede de um dos maiores parques tecnológicos do Brasil, o Tecnopuc, que com seus 15 prédios ocupa uma área de 55 mil metros quadrados. E isso só no espaço ao lado da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), na Capital. Em Viamão, na Região Metropolitana, ocupa outros 33 mil metros quadrados. Os dois espaços, somados, são equivalentes a 10 campos de futebol.
O Tecnopuc abriga 178 organizações, de multinacionais como a HP, empresa de tecnologia americana que está instalada em quase um prédio inteiro, a startups como o Thummi, plataforma idealizada em 2018 pela oncologista Alessandra Menezes Morelle, que utiliza um dos coworkings do parque. Essa tecnologia monitora sintomas, rotinas, efeitos colaterais do paciente com câncer e possibilita o acesso das informações à equipe médica, para dar maior assertividade ao tratamento.
— A gente conecta paciente e equipe de forma mais próxima, garantindo mais conforto e menos solidão durante o tratamento — explica Alessandra.
A área do Tecnopuc foi comprada em 2001. Antes, era um quartel do Exército. A primeira empresa, a Dell, começou a funcionar ali em julho de 2002, quando os planos eram ainda de ocupar um prédio apenas, o do comando do Exército.
— O reitor da época aprovou o projeto, mas disse que não seria um prédio só, seria todo o quartel. E, até a pandemia, a gente só cresceu — conta o superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Tecnopuc, Jorge Audy.
Entre outras estruturas, o Tecnopuc tem hoje coworkings, condomínios de empresas, um centro de produção audiovisual, um laboratório de prototipagem com impressoras 3D e um programa que capacita alunos de diferentes áreas para o desenvolvimento de produtos nas plataformas Apple – o Apple Developer Academy.
Dentro desse universo de interação, foram criados hubs temáticos, agrupando startups e empresas com características ou propósitos similares. Como o Celeiro, que conecta produtores, fornecedores, cooperativas, startups e investidores do setor do agronegócio, o BioHub, de inovação em saúde, e o Navi, que conecta startups que aplicam inteligência artificial (IA) em seus produtos. Essa conexão tão próxima com o meio acadêmico acaba diferenciando um parque tecnológico de outros espaços de inovação.
— Os hubs trazem pessoas interessadas naquela temática, e a gente consegue agregar a universidade para levar novas tecnologias, novas discussões. Nesse hub de IA, a gente tem grupos de pesquisa da PUCRS que trabalham lá dentro focados na questão ética. Afinal, o negócio não é só criar um robô inteligente, é fazer que haja um uso ético — diz o gestor de Negócios e Relacionamentos do Tecnopuc, Leandro Pompermaier.
O parque tecnológico ainda tem programas que apoiam startups em diferentes estágios, desde a idealização. Não usam mais o nome de incubadora, mas a função segue sendo ajudar a ideia a ficar de pé, a modelar o negócio.
— Uma startup não é uma empresa, é um conjunto de pessoas que estão querendo desenvolver um negócio. Vai trabalhando o grupo até que tenha quase certeza que o que tem nas mãos é um negócio. Muitas vezes, a ideia vem capenga, boa de negócio mas sem a tecnologia, ou vice-versa — afirma Rafael Chanin, líder do Tecnopuc Startups.
Ao mesmo tempo em que as empresas arcam com uma espécie de aluguel para se instalar no Tecnopuc, há startups em nível inicial que são incluídas sem pagar nada e vão colaborando a partir do momento em que ganham corpo.
Também há no parque tecnológico outro tipo de negócio importante na nova economia: as aceleradoras. Uma aceleradora fornece capital financeiro e intelectual (chamado de “smart money”) para novas empresas inovadoras em troca de uma participação minoritária no futuro. A ideia é acelerar o crescimento dessas empresas visando uma venda futura da participação.
Uma das que estão no Tecnopuc é a WOW, que foi a primeira aceleradora de startups do Estado e é hoje a maior independente do Brasil. Criada em 2013, já viabilizou o investimento de mais de R$ 20 milhões em 114 startups. Seu primeiro grande case foi a TownSq, plataforma de gestão e comunicação para condomínios sediada em Porto Alegre.
A startup foi vendida para a Associa, maior administradora de condomínios do mundo, e internacionalizou seu produto para México e EUA. O Tecnopuc não é o único parque tecnológico da Capital. A cidade também sedia o Zenit, da Universidade Federal do RS (UFRGS), e tem braços dos parques de outras duas importantes instituições de Ensino Superior do Estado: Feevale e Unisinos.