Parte do grupo de risco da covid-19, a produtora Ariane Laubin, 40 anos, fez uma conta simples: por R$ 250 ao mês, gastaria pouco mais de R$ 8 ao dia para alugar uma bicicleta elétrica. É centavos a menos do que duas passagens de ônibus para o trabalho (R$ 4,55 por trajeto), e ainda ganharia uma opção de transporte para outros percursos pela cidade.
– Eu moro no Centro e precisava ir todos os dias até o Bourbon Country. É um trajeto longo demais para fazer em uma bicicleta tradicional e não estava disposta a passar esse tempo todo correndo risco de contágio no ônibus. A opção de alugar uma bike elétrica foi a mais viável e ainda me proporcionou fazer exercício. Ter mais qualidade de vida – conta.
Ariane não está sozinha. Em Porto Alegre, diferentes empresas relatam ter triplicado a procura por bicicletas elétricas durante a pandemia. Elas acompanham uma tendência internacional nas metrópoles e vêm para solucionar dois problemas, o da mobilidade - em que se revelam mais rápidas e exigem menos esforço do que as bicicletas normais - e o do exercício físico diário frente ao receio de frequentar espaços fechados.
Como o preço para a compra dos equipamentos ainda é salgado, surgiram modalidades de aluguel. A Volta E-bikes, start up gestada na UFRGS que é dona da magrela elétrica de Ariane, começou as atividades em abril de 2019, alugando as bicicletas para lazer junto à Fundação Iberê Camargo por R$ 30 a hora. A pandemia obrigou os empreendedores a modificar os serviços para um modelo de mensalidade. Acabaram descobrindo um filão.
– Hoje, tenho fila de espera para o aluguel. Acabei alugando até a minha. O que me consola é que entre 30% e 40% de quem aluga acaba comprando uma bicicleta própria, então, logo elas voltam – projeta Marilin Moura Parode, uma das sócias da Volta E-Bikes.
Nesse caso, de interesse na compra, a empresa intermedeia a aquisição do melhor veículo. Segundo Farlei Fischer, marido e sócio de Marilin, o modelo de negócio em que eles levam a buscam a bicicleta até os clientes e oferecem toda assistência técnica teve uma aceitação que permitiria dobrar a clientela. Eles buscam, agora, capital para ampliar a frota de 10 bikes.
Reguladas por uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito de 2013, as bicicletas elétricas tem potência máxima de 350 watts e velocidade máxima de 25 km/h, e não necessitam de habilitação. É indispensável buzina, retrovisores e capacete.
O motor é ativado e desativado pelo condutor, permitindo que em trajetos planos ela possa funcionar como uma bicicleta normal. Nas subidas, o motor pode ser ativado para dar uma mãozinha – a chamada pedalada assistida. É ela que garante que o ciclista das bikes elétricas não vai chegar ao trabalho ensopado de suor.
A bateria – em geral, de lítio – é destacável das bicicletas e demora cerca de 2h30min para ser carregada em uma tomada comum. A duração da carga varia conforme o peso do condutor e a ativação do motor, mas costuma oscilar entre 20 e 35 quilômetros com uma pessoa de 75 quilos. O gasto de energia para carregá-la é irrisório: cerca de R$ 0,40. O grande impeditivo ainda é o preço do produto, em parte pela carga de imposto. Enquanto as bicicletas normais pagar 10% de IPI, as elétricas pagam 35%.
– O aumento do dólar também não ajudou. Acredito que as bicicletas que vendíamos a R$ 4,6 mil, nas próximas vendas já saiam cerca de 10% mais caras – calcula Marilin.
Mesmo que o investimento seja significativo, os empresários do ramo apontam para as vantagens a médio prazo. Conforme Marco Aurélio Barreiro, sócio da marca carioca Lev, o veículo vem sendo procurado por famílias que desejam deixar de ter dois carros. O custo a menos da manutenção do automóvel e combustível já compensa a prestação da bike. Conforme Barreiro, o condutor ganha ainda outro bem precioso.
– Utilizar bicicleta no dia a dia te dá uma previsibilidade de tempo maior que a de qualquer outro veículo, porque escapa do engarrafamento. Eu, por exemplo, gasto 18 minutos para vir da minha casa até a loja, na Goethe. De aplicativo, levo meia-hora. Isso para alguém que é professor, personal trainer, um médico que trabalha em dois ou três lugares, representa muito menos tempo dentro de um carro ou do transporte público.
A fuga do trânsito é apontada como o principal motivo para as bikes elétricas terem caído no gosto dos cariocas. No Rio de Janeiro, onde a Lev tem 13 lojas, há mais de 40 mil bikes elétricas em circulação. Em Porto Alegre, a Lev completa três anos neste mês experimentando um crescimento de 200% nas vendas em 2020 e escolhendo o endereço de uma segunda loja a ser aberta nos próximos meses, provavelmente na Zona Norte, de olho em clientes em busca de veículos para trajetos mais longos no cotidiano.
– Como o pessoal quer evitar veículos fechados, a pandemia acelerou esse processo, mas mesmo antes a bicicleta elétrica já demonstrava ser o grande veículo para mobilidade dentro das cidades no futuro. Resta a cidade perceber isso e apostar nas ciclovias – aponta Barreiro.
Como funciona para alugar
A start up Volta E-Bike oferece o serviço, mas há uma lista de espera. O preço é de R$ 99 para alugar de segunda a sexta-feira, R$ 300 o pacote mensal, e R$ 250 o trimestral. O serviço inclui a entrega e a busca da bicicleta, manutenção (se for necessário) e seguro. Além da bicicleta, os clientes recebem capacete, trava e carregador de bateria. O WhatsApp é (51) 99235-7005.
Como funciona para comprar
A Volta E-Bike comercializa bikes elétricas das marcas Pedalla Bikes e da Move Your Live, com montadoras no interior de São Paulo e Minas Gerais. As últimas comercializadas custavam a partir de R$ 4,6 mil, mas o preço pode oscilar conforme a variação do dólar.
Na Lev, marca carioca, os modelos mais populares entre os porto-alegrenses é a dobrável, que sai por cerca de R$ 6,4 mil, e a L+, de R$ 7,4 mil. A loja oferece parcelamento em 12 vezes e seguro por cerca de 10% do valor da bike. A Lev fica na Avenida Goethe, 27.
Cuidados
Diferentes marcas nacionais e importadas oferecem modelos elétricos de bicicletas, mas os empresários aconselham cuidado nas aquisições feitas pela internet. Desconfie de preços baratos demais, o que pode indicar peças piratas, de segunda mão ou mesmo tentativas de golpe. Também é aconselhável se informar se a loja oferece assistência técnica e garantia.