A Porto Alegre que recebeu o papa João Paulo II, em 4 de julho de 1980, era bem diferente da vista em 2020. Há 40 anos, havia pelo menos 300 mil habitantes a menos (o censo apontava uma população de 1.125.477 pessoas) e a cidade tinha outras prioridades.
Se hoje é uma das capitais com mais shoppings por habitantes, não tinha um sequer naquela época — o pioneiro Iguatemi foi inaugurado em 14 de abril de 1983. Um dos principais lazeres do porto-alegrense era ir a cinemas de rua, que estão praticamente extintos. O Almanaque Gaúcho já destacou que nos anos 1970 e 1980 havia mais de 30 salas (Carlos Gomes, Rex, Coliseu, Rosário, Cacique, Continente, Palermo, Marabá e São João pelo Centro, Apolo, Astor, Avenida, Baltimore, Bristol, Castelo, Colombo, Coral, Garibaldi, Ipiranga e outros pelos bairros).
Padre Chagas e Cidade Baixa não eram os redutos boêmios, mas havia muita gente concentrada no alto da Protásio Alves e no Bom Fim. Na hora da janta, você teria uma dificuldade absurda em encontrar sushi, por outro lado, poderia comer bem e barato em uma das incontáveis carrocinhas de xis e de cachorro quente.
Futebol já era a grande paixão, mas nem Grêmio nem Inter haviam trazido ainda uma taça de campeão mundial. Hoje parcialmente demolido, o Estádio Olímpico que Papa enxergou enquanto rezava sua missa campal estava em seus tempos áureos, e o ginásio Gigantinho, onde foi recebido por 200 cavalarianos, tinha um estado de conservação incomparável ao atual.
O colunista de GaúchaZH Ricardo Chaves era repórter fotográfico da revista Veja quando João Paulo II veio pela primeira vez ao Brasil e percorreu várias capitais fazendo a cobertura. Ele lembra da dificuldade de se comunicar, pois não havia telefones celulares ou computadores. Se com um clique no smartphone enviaria um retrato do papa Francisco, precisou correr ao aeroporto e pedir a algum passageiro do próximo voo que levasse os filmes com os registros de João Paulo para a revista.
A fotografia das ruas também era diferente. Há apenas 10 anos os bondes haviam parado de circular na cidade, e recém havia começado a implantação de corredores de ônibus. Vendo as fotos da visita do Papa, é possível se chocar com uma cena, inimaginável com os procedimentos de segurança adotados hoje. Naquela época, se admitia que fãs fossem até a pista para receber ou se despedir dos ídolos — João Paulo II deixou uma "confusão" no terminal velho do Salgado Filho, como destacou Zero Hora na época.