Para quem mora na Travessa dos Venezianos, na Cidade Baixa, há algo um tanto desconfortável: o barulho criado por aglomerações de pessoas que se juntam por causa do comércio, principalmente o noturno. A reclamação mais comum é sobre as festas aos finais de semana que, não raro, fecham a via.
– A rua ficou voltada muito para o comércio nos finais de semana, acabou ignorando o morador. Estou aqui e a 2 metros tem alguém tocando som, vendendo alguma coisa – diz o agente penitenciário Rafael Guimarães.
Segundo ele, o barulho é tão significativo que, por vezes,
é necessário recorrer a artimanhas para conseguir dormir:
– Tenho tampões de ouvido. De vez em quando funciona. É o jeito.
A queixa do barulho também é compartilhada por Alfredo Ferreira, 60 anos, mais conhecido como Pai Alfredo.
Ele relata não ter boas perspectivas para as próximas gerações da Travessa. Diz que cansou de reclamar deste e de outros problemas, mas nenhuma solução foi encontrada. Até um abaixo-assinado realizou – sem êxito.
– Olha, não adianta nada reclamar. O bar abriu em março e, desde então, reclamo todos os dias. Tenho vários protocolos e não se resolveu – comenta.
Rafael acredita que a Travessa ainda será dominada pelo comércio. Teme, porém, que as pessoas se esqueçam de que o espaço é um museu a céu aberto.
As reclamações sobre o barulho geralmente referem-se a celebrações promovidas por um dos moradores que criou um bar e realiza, com alguma frequência, festas em frente à residência durante a semana. A equipe do Primeira Pauta 2019 entrou em contato com ele, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Apesar das divergências, há pessoas que acreditam na harmonia entre comércio e casas residenciais. É o caso do comerciante Ronivon Martini, 49 anos.
– Os moradores fazem parte da vitalidade da rua, portanto, é necessário preservar essa história. O comércio e os moradores têm de ter equilíbrio nessa convivência, que às vezes é conflituosa, devido ao ruído de uma festa de rua ou pelo ruído de um bar. As pessoas têm o direito ao silêncio a partir de determinado horário. Com o tempo, isso se ajustará – acredita Martini.
Hoje, das 17 construções, só cinco servem como moradia. Quatro pertencem a restaurantes, e as demais se dividem entre três depósitos, um bar, um café, uma associação de artistas plásticos, um ateliê e um escritório de advocacia.
Quem fez
Conteúdo produzido pelos vencedores de 2019 do Primeira Pauta, programa que seleciona alunos de Jornalismo para imersão e treinamento em práticas jornalísticas na Redação de GaúchaZH. São eles:
- Camila Pellin, da Universidade de Passo Fundo (UPF)
- Darlan Fagundes Witchaki, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
- Erika Dal Carobo Viana, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
- Henrique Tedesco Abrahão, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
- Isabel Linck Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)