Uma das primeiras coisas que Natalia Jancen da Silva, 11 anos, aprendeu no meliponário da fazenda de turismo ecológico Quinta da Estância, em Viamão, já a tranquilizou. Aluna do quinto ano de uma escola pública da cidade, ela ainda não fazia ideia de que as abelhas nativas brasileiras cultivadas ali não têm ferrão, diferentemente das exóticas, trazidas da África e Europa.
Ao inaugurar, nesta quinta (3), Dia Nacional da Abelha, a coleção de abelhas sem ferrão (meliponário), o objetivo da Quinta da Estância é sensibilizar as pessoas sobre a importância dessas espécies, muitas vezes desconhecidas da população, e ampliar as populações do inseto. Se tudo der certo, elas vão se espalhar de forma natural, potencializando a polinização na região.
De acordo com Rafael Goelzer, diretor de relacionamento com o mercado, a novidade vai de encontro às mortandades de abelhas que o Estado vivenciou recentemente – morreram ao menos 500 milhões de abelhas melíferas entre outubro de 2018 e março de 2019 em decorrência de agrotóxicos.
Inicialmente, a fazenda está trabalhando com quatro espécies de abelhas sem ferrão, distribuídas em um simpático caminho com sete colmeias e placas informativas. São elas a Jataí, a Mandaguari, a Mirim Droryana e a Mirim Preguiça – espécie de apenas 3 mm que faz sucesso quando o monitor Maicon Mayer explica que tem esse nome porque só inicia seu trabalho por volta das 10h da manhã, quando a temperatura está um pouco mais elevada.
A ideia é ampliar o meliponário para sete espécies nativas, com 12 colmeias no futuro, focando em diversidade de morfologia e tamanho para que sejam complementares no papel de polinizadoras. Quanto mais espécies de polinizadores diferentes estiverem instaladas na região, melhor deve ser o resultado na produção agrícola, na reprodução das plantas nativas e na biodiversidade.
– Com o formato e tamanho de corpo diferentes, elas conseguem acessar desde flores com cavidades muito pequenas até as maiores – comenta Goelzer, acrescentando que, como a ideia é fortificar as colmeias, a fazenda não pretende recolher o mel das caixas.
Remetendo a uma das frases mais conhecidas de William Shakespeare ("Ser ou não ser"), o projeto foi apelidado de Meliponário - Bee or not be. Propõe, segundo Goelzer, um olhar para o futuro.
– Sem abelhas e seu importante papel de polinizadoras, o mundo não seria como conhecemos hoje.
Durante o evento, também foram inaugurados na fazenda ecológica dois hotéis de abelha, desenvolvidos pelo projeto Bee Care da Bayer, voltados para atender a população de abelhas solitárias, ou seja, são insetos que vivem em pequenos grupos e não em colmeias.
Os "hotéis" são estruturas feitas para servir como abrigos para essas espécies e estão colocados em locais estratégicos como na trilha ecológica da Quinta da Estância e também próximo a área do pomar da fazenda.