Um projeto de implantar linhas de aeromóvel entre municípios da Região Metropolitana ganha força no governo federal como alternativa ao metrô subterrâneo ao prever investimentos estimados em cerca de R$ 10 bilhões.
O recurso para implantar oito linhas de aeromóvel para transporte de massa seria desembolsado pela iniciativa privada em troca da concessão da Trensurb por 30 anos – e um provável aumento na tarifa. Gigante chinesa da construção, a companhia China Railway First Group (CRFG) tem interesse no negócio e deverá apresentar ao Planalto um estudo mais detalhado, elaborado em parceria com a empresa gaúcha Aeromóvel do Brasil, no dia 21 de março.
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A ideia de criar uma rede de transporte com quase cem quilômetros de vias elevadas para aeromóvel conectadas a estações do trensurb avança em Brasília. Na semana passada, representantes da CRFG e da Aeromóvel apresentaram um esboço do projeto aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e das Cidades, Bruno Araújo – responsável pela pasta à qual a Trensurb está vinculada. Padilha e Araújo deram sinal verde para as empresas detalharem um plano com análise de viabilidade mais precisa e um esboço do possível modelo de concessão da Trensurb. Técnicos da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, subordinada ao Ministério das Cidades, também deverão apresentar um relatório sobre o sistema metropolitano.
Os chineses avaliam que a integração viária abrangendo 11 municípios seria capaz de movimentar 1,4 milhão de passageiros por dia e criar um negócio autossustentável. Hoje, o fluxo diário de passageiros apenas no trensurb gira ao redor de 200 mil, e a passagem de R$ 1,70 é subsidiada pela União. Como a operação do trem é deficitária, o governo federal é simpático à ideia de a iniciativa privada assumir a gestão do sistema, que contaria com uma nova tarifa ainda não definida.
O aeromóvel também ganha terreno em razão do menor custo e maior facilidade de implantação. Em Canoas, onde o município decidiu buscar financiamento de R$ 272 milhões para instalar por conta própria um primeiro trecho de 4,6 quilômetros, o custo ficou em cerca de R$ 60 milhões por quilômetro. O preço estimado para o metrô subterrâneo na Capital, agora descartado, chegava a ser quase 10 vezes maior. A via elevada também não exige desapropriações.
Estimativas preliminares indicam que a implantação da rede de aeromóveis custaria entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões, mas, conforme a CRFG, ainda não foi calculado o valor da modernização das estações e da frota da Trensurb – o que também faria parte do negócio. Mas o projeto deve enfrentar críticas e desconfianças antes de sair do papel. O aeromóvel, que hoje funciona em uma linha com menos de mil metros no aeroporto, ainda não foi implementado como meio de transporte de massa. O Sindicato dos Metroviários condena a proposta.
– O aeromóvel serve para trechos curtos, não para transportar milhares de pessoas. Além disso, o subsídio na passagem é um dos poucos retornos que o cidadão tem dos seus impostos – avalia o presidente do Sindimetrô, Luis Henrique Chagas.
O diretor da Aeromóvel do Brasil, Marcus Coester, garante que os veículos conseguem levar até 40 mil passageiros por hora em uma direção, cerca do dobro do necessário para atender a um corredor como o da Assis Brasil, em Porto Alegre.
Especialista em transporte e diretor de Cidades Sustentáveis do WRI Brasil, entidade que reúne ONGs em vários países, Luis Antonio Lindau sustenta que o aeromóvel é um tipo de sistema de média capacidade adequado para a criação de redes integradas de transporte.
– O importante é ter acessibilidade, ou seja, muitas estações por quilômetro quadrado. Nesse sentido, vale mais uma rede com muitas estações do que uma linha isolada de metrô – analisa Lindau.
Plano de expansão do aeromóvel é apoiado por gigante da construção
Por trás da ideia de interligar a Região Metropolitana com linhas de aeromóvel se encontra uma das maiores companhias de construção no mundo.
A empresa China Railway First Group (CRFG), que venceu a licitação para a obra civil do aeromóvel em Canoas e pretende ampliar o sistema para cidades próximas, é uma das subsidiárias da gigantesca China Railway Group – a qual conta com quase 300 mil funcionários divididos em 43 empresas afiliadas. Na lista das 500 maiores companhias do mundo elaborada pela revista Fortune, no ano passado a China Railway Group aparecia na posição 57.
Acostumada a assumir obras ambiciosas ao redor do planeta, a CRFG, que sozinha conta com cerca de 30 mil empregados, escolheu Canoas como ponto de partida para planos mais ousados. Isso inclui assumir a concessão da Trensurb por 30 anos, transformando a linha metropolitana em um eixo ao qual se ligariam oito novos percursos de aeromóvel.
– A gente conseguiu cumprir todas as exigências do governo brasileiro quando ganhou a licitação de Canoas. Isso vai facilitar muito (para participar de outras licitações), porque já estamos abrindo uma subsidiária em Canoas – explica o diretor comercial da CRFG no Brasil, Chhai Kwo Chheng.
O objetivo de criar essa rede interligada é elevar o número médio de usuários do trem urbano, que hoje fica ao redor de 200 mil, para mais de um milhão em todo o novo sistema e criar um negócio sustentável de grande porte. O projeto alinhavado pela CRFG, em parceria com a empresa gaúcha Aeromóvel do Brasil, faz parte de uma política de expansão internacional da empreiteira chinesa colocada em prática ao longo dos últimos anos. A intenção dos chineses, agora, é implantar essa estratégia em solo gaúcho.