Há mais de 15 anos, resolvi: ia mudar pra São Paulo. Não tinha nada concreto, nada armado, apenas a minha vontade incrível de sair da cidade que me sufocava. Eu não queria trabalhar com publicidade e trabalhava, não queria estudar jornalismo e estudava, não queria mais dividir a vida e dividia, não queria viver sob uma sombra e vivia. Não era nada daquilo que eu queria pra minha vida. Precisava ir embora. E fui. Dez discos, dez livros, dois pares de sapatos e duas malas grandes. Um microquarto de fundos em Pinheiros e toda uma cidade me abrindo as pernas e as possibilidades. Eu sentia a eletricidade do ar e passava perrengue, fazia novos amigos e sexo como se não houvesse amanhã, e, bom, não havia, sempre só há o hoje quando se tem os vinte e dois anos que eu tinha. Disso veio meu primeiro romance, que escrevi com a mesma pressa que vivia naquela época. E vieram as ilusões de ser uma escritora, uma incrível síndrome de Bandini delirante pensando em dominar a cidade e todos nela.
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