Na avenida Grécia, pertinho da Assis Brasil, uma polêmica envolve um simpático palhacinho vendido no meio da rua por outros palhaços maiores. Os donos do circo Tihany, montado ali desde o dia 11, dizem que os pierrôs são, na verdade, meros camelôs fantasiados que querem enganar sua plateia. E agora, respeitável público?
A trupe alvo da acusação veio do Paraná e é formada por sete palhaços de rua, vestidos a caráter para vender "miniaturas de si mesmos". Eles acompanham circos como o Tihany em turnês pelo Brasil. Seu trabalho é notado na área externa ao estacionamento, onde abordam os carros para oferecer informações e vender o polêmico brinquedinho.
Ao parar os veículos, distribuem folhetos oficiais do espetáculo, contendo horário, valor do ingresso e possibilidade de desconto, e mostram o objeto, principalmente quando há crianças no interior. O preço, que parte de R$ 10, é colocado na hora e pode mudar de acordo com o vendedor e a circunstância. Segundo o gerente do circo Julio Castañeda, pessoas da plateia já chegaram a pagar quatro vezes esse valor sob argumento de que a venda seria revertida para os artistas ou para ações sociais do circo.
- É um grupo organizado, tem um público que sempre compra. Em todas as cidades que visitamos, eles nos acompanham, por isso acionamos as autoridades responsáveis e avisamos o público no início do espetáculo que não fazem parte do corpo circense - diz Castañeda.
Indignados com as acusações, que avaliam como falsas e descabidas, os palhaços de rua manifestam-se:
- A gente sempre trabalha uma hora e meia antes do espetáculo começar. Acompanhamos o circo em toda a temporada deles no Brasil. Todos nós somos pais de família, vendemos esse material, que nós mesmos fazemos. A gente trabalha fora porque aqui a gente ganha mais, e não queremos ficar submissos aos horários do circo - diz Guido Ramiro Arruda, palhaço há 21 anos.
- Estamos aqui a trabalho, não estamos para extorquir ninguém, não somos bandidos, temos a ficha limpa - completa Andreia Maria Machado, vendedora-palhaça há dois meses.
Dentre as pessoas do público entrevistadas pela reportagem, diversas afirmaram ter sido abordadas pelos palhaços, nenhuma confirmou ter recebido informações sobre doação social ou desconto. Apenas uma família disse que, ao oferecer o produto, o palhaço afirmou que a verba seria destinada para uma escola de palhaços.
O gerente do circo afirmou ter acionado autoridades locais, como a Guarda Municipal. Contatada pela reportagem, a entidade disse não saber do que se tratava. A Secretaria Municipal de Indústria a Comércio (Smic), responsável pela fiscalização de ambulantes, também afirmou não ter recebido nenhuma reclamação pelo disk-denúncia 156.