Nas águas turvas em que ora navegamos, têm sido frequentes os sinais de intolerância, com histerias individuais e coletivas, comportamentos irracionais e quebra de fundamentos da civilidade. Subitamente, falece a prudência, esvai-se a racionalidade e cresce aquele tipo de violência que o animador canadense Norman McLaren ilustrou no documentário Neighbours (Oscar de 1952), em que uma flor nascida na divisa dos terrenos de dois cordiais vizinhos aos poucos provoca disputa feroz, e que Spike Lee expôs em O Verão de Sam (1999) e Alejandro Amenábar em Ágora (2009). Sem margem para argumentos polidos, sem dialética, os homens se tornam bestas, piores que animais, e transformam cólera em violência. Neste estado de obnubilação, erros trágicos são cometidos. A quem assiste, resta um sentimento de perplexidade: o que podemos fazer para impedir a escalada da intolerância e seu fruto ignóbil, a violência?
Colunistas
Francisco Marshall: intolerância
"A investigação sobre as origens da intolerância leva, frequentemente, à história das religiões instituídas, pois são estas que produzem os graus mais críticos de negação da alteridade: eu estou com a verdade, e quem não a tem, é sub-humano e ameaça o triunfo do que me garante, um poder maior, divino"