O ciclista atingido por um táxi durante protesto da Massa Crítica na última sexta-feira, em Porto Alegre, entrou com representação contra o motorista nesta segunda-feira, e a Polícia Civil abriu inquérito para apurar o caso. Na noite de sexta-feira, os participantes da Massa Crítica lembravam os quatro anos do atropelamento coletivo de ciclistas na Cidade Baixa. O ciclista, de 41 anos, fazia a função de "rolha", o responsável por bloquear o trânsito enquanto as demais bicicletas passam, quando houve o incidente. Ele prefere não ter o nome divulgado porque, ao lado de sua advogada, teria sido ameaçado pelo taxista.
- Quando a advogada chegou, ela ficou apavorada. Ela disse que tinha falado com o taxista e que "eles estão passando entre os táxis o teu nome completo e as características da bicicleta. É para te procurar e te dar um pau" - afirmou.
O ciclista tem um filho de 17 anos, que também estava na pedalada. Depois de ter sido atingido, ele saiu atrás do jovem, nervoso, e acabou encontrando-o. Ao retornar ao local onde estava o táxi, relatou ter sido abordado pela Brigada Militar. Durante a confusão, o táxi teve vidros quebrados e pneus furados. Policiais o apontavam como o causador da depredação.
- Vi várias pessoas depredando o carro. Não concordo com isso. A minha intenção era parar, fazer com que ele descesse e registrar ocorrência. Mas, na hora que eu voltei, o brigadiano queria me prender. Ele falou que eu tinha agredido o cara e depredado o carro. A minha sorte foi que naquele momento apareceram várias testemunhas. Elas disseram "não, seu policial, ele foi atropelado". Não posso responder pelo que aquela meia dúzia de ciclistas que depredou o carro - argumentou.
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Depois do fato, o ciclista deu entrada no Hospital de Pronto Socorro às 22h24min, após sentir dores "em todo o lado direito do corpo". Saiu à 0h28min. Segundo ele, nesta segunda-feira não havia marcas causadas pelo carro, porém a dor permanecia na perna, joelho e pulso direitos.
O taxista, de 37 anos, negou ter ameaçado o ciclista. Ele mora com a mãe e garantiu estar tendo prejuízo por não poder trabalhar - o táxi pertence a outra pessoa, que tentaria liberar o veículo, apreendido pela polícia, ainda nesta segunda-feira. Ele ressaltou que ajuda a sustentar os irmãos, que têm filhos, e também pediu para não ser identificado:
- Não consegui dormir de noite. Não sei se vou manter o emprego, se vou conseguir pagar as contas.
Taxista pode ter punição maior por ser profissional
Assim que o episódio se tornou notícia, participantes da Massa Crítica iniciaram uma discussão via redes sociais. Muitos deles criticaram o ataque ao táxi, dando origem a um acalorado debate. O desenvolvedor de software Hélton Moraes, 37 anos e antigo frequentador das pedaladas, resumiu as discussões a uma conclusão: o melhor seria que não tivesse havido a confusão.
- O grupo sofreu uma agressão. É compreensível que as pessoas tenham se exaltado - salientou.
No perfil público da Massa Crítica no Facebook, alguns ciclistas foram mais críticos. Entre as mensagens postadas estavam "Investir mais em conscientizar as pessoas que vão na massa de que devemos nos portar de forma pacífica" e "Não vamos combater a injustiça fazendo o mesmo"
O delegado Gabriel Bicca investigará o caso. Os envolvidos e as testemunhas deverão ser ouvidos nos próximos dias. A apuração será no sentido de tentar achar "quem rateou", comentou o delegado.
Bicca ressaltou que a linha de investigação segue, a princípio, a regra de que no trânsito "o mais protegido protege o menos protegido". Assim, se for comprovado o atropelamento, a situação fica pior para o taxista porque ele é profissional:
- Se for comprovada a responsabilidade do taxista, a sanção é um pouco maior. Como profissional, ele tem que ter mais cuidado.
A versão do ciclista
- O sinal estava vermelho, eu parei bem entre as três ruas: André da Rocha, Lima e Silva e Fernando Machado. E fiz um sinal com a mão espalmada. Abriu o sinal, ele veio da André da Rocha e tocou, eu disse "para, para, para", e ele não parou. Pegou na roda da frente da minha bicicleta e me derrubou no chão. Nisso ele foi cercado e ficou acelerando. Ele falou: "Sai que eu vou passar". As pessoas diziam "calma, tu atropelou, desce aí". Nesse momento, ele acelerou de novo. Aí as pessoas começaram a depredar o carro, ele saiu e veio com as duas mãos fechadas para me bater, mas nem conseguiu chegar perto de mim porque alguém, acho que outro ciclista, o derrubou antes. Aí ele ficou naquela de tentar levantar, viu que ia ficar ruim pra ele e saiu correndo.
A versão do taxista
- Eu estava parado no sinal da André da Rocha. Tinha levado um passageiro do aeroporto para um hotel nessa rua e acabara de pegar outro passageiro. O sinal abriu e eu saí devagar. Aí, quando eu vi, veio aquele ciclista, do nada. Ele vinha da Lima e Silva, correndo, e cortou a minha frente. Eu parei o carro e ele bateu com a bicicleta na frente do carro. Ele se atirou em cima do capô. Aí eu falei "para que fazer isso?" Aí ele se levantou, saiu da frente. Eu vi que ele estava bem e, quando fui arrancar, pularam dois em cima do carro e começaram a quebrar o vidro. Veio um correndo com uma coisa na mão e deu no vidro, quebrou o para-brisa. O passageiro ficou em estado de choque. Aí vieram para cima de mim, queriam me pegar, empurrei dois, três e saí correndo para procurar a Brigada.
* Zero Hora
Porto Alegre
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