Cherchez la femme ("procure a mulher"). A expressão foi empregada pela primeira vez em um romance do século 19 do escritor francês Alexandre Dumas e nunca mais perdeu a utilidade, tornando-se uma espécie de solução multiuso para diferentes tipos de mistérios. Quer saber quem matou o Max? Cherchez la femme. Quer descobrir todos os segredos do político corrupto? Cherchez la femme. Quer saber por que o marido matou a família e foi ao cinema assistir às três partes do Crepúsculo? Bom, você já entendeu o espírito da coisa.
A essa longa linhagem de fato e ficção envolvendo as mulheres e sua mítica capacidade de convencer o sexo oposto a engajar-se em projetos arriscados, o jornalista David Coimbra acrescenta agora a responsabilidade nada desprezível de terem dado o pontapé inicial para o nascimento da civilização.
Em Uma História do Mundo, que o jornalista autografa neste sábado, às 18h, na Feira do Livro, David Coimbra combina a antiga paixão pelos livros de história ("40 anos de leituras") ao estilo bem-humorado e politicamente incorreto das crônicas que publica em Zero Hora desde 1998. O resultado é um passeio divertido e informado através da história da humanidade, começando no dramático embate entre neandertais e Homo sapiens sapiens para decidir quem conquistaria o direito de comandar o controle remoto alguns milhares de anos depois e chegando até os dias de hoje, em uma narrativa que abre mão da ordem cronológica convencional para brincar com idas e vindas no tempo.
Em um capítulo sobre as origens da civilização egípcia, por exemplo, podemos ser convidados a observar o planeta Terra muito antes de Cleópatra deslumbrar o mundo com seu imperial narizinho: "O bicho número 1 a sair do mar e habitar o solo, acreditam os cientistas, foi o humilde... tatuzinho. Observe um meio enterrado na praia da próxima vez que você for passar um fim de semana às franjas do litoral: ele é seu tataratatataratatataratatataratatataratavô. Ou ao menos foi, há uns 460 milhões de anos".
Dos primeiros vestígios da vida humana na Terra aos patriarcas hebreus, de Napoleão aos grandes arqueólogos da História, passando por Homero, Megan Fox e Dilma Rousseff - e retornando para o Antigo Egito, cada capítulo cria o "gancho" para o seguinte, amarrando o final da narrativa a um assunto que será desenvolvido em seguida.
David já trabalha no segundo volume da sua história do mundo, mas ainda não decidiu em quantas partes o trabalho vai ser dividido.
- A história não é exatamente linear. É uma tese, digamos assim. A próxima parte será uma continuação a partir da conclusão desta - adianta o autor.
Sem estragar muito a surpresa, podemos adiantar que culpa, pecado e instintos têm muito a ver com essa história - ou com o fio dessa meada que David Coimbra escolheu puxar. O caminho para a solução desse mistério você já imagina onde pode estar: cherchez la femme.
E se...?
David Coimbra responde
Se pudesse viajar no tempo, iria para... a Viena do começo do século 20. Para tentar convencer o cabo Adolfo a se consultar com o doutor Freud.
Se pudesse convidar uma personagem da História para um jantar romântico, escolheria... Cleópatra. Uma mulher que seduziu os homens mais importantes do seu tempo devia ser interessante atrás de uma taça de vinho.
Se pudesse chamar para uma mesa de chope quatro personagens históricos, eles seriam... Schopenhauer, Freud, Churchill e Alexandre Dumas, o pai, que devia ser muito divertido.
Se pudesse mudar a História, eu... faria os piratas da rainha Elizabeth virem para o Brasil. Nada contra os portugueses, mas para que hoje nós falássemos inglês.
Se eu pudesse ser um personagem histórico por um dia seria... Julio César antes dos idos de março, quando ele estava se repimpando no poder.