
O deputado Pedro Lucas Fernandes, líder do União Brasil na Câmara dos Deputados, decidiu recusar o convite para assumir o Ministério das Comunicações. Ele havia sido anunciado como titular da pasta pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, no dia 10.
"Tenho plena convicção de que, neste momento, posso contribuir mais com o país e com o próprio governo na função que exerço na Câmara dos Deputados", disse o parlamentar em nota divulgada após reunião com o presidente do partido, Antônio Rueda, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) (leia a íntegra no fim da reportagem).
Ele também pediu desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil", escreveu.
Anunciado por Gleisi Hoffmann
Pedro Lucas está no segundo mandato na Casa. Natural de São Luís, capital maranhense, tem 45 anos e é administrador.
Ele havia sido anunciado como o novo ministro das Comunicações do governo de Lula, por Gleisi Hoffmann há 12 dias, após indicação do União Brasil.
Dois dias antes, o então titular da pasta, Juscelino Filho (União-MA), havia pedido demissão do cargo após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em uma investigação sobre suposto desvio de emendas parlamentares na época em que atuava como deputado federal.
Instabilidade no União Brasil
Pesou para a recusa de Pedro Lucas o clima de instabilidade no partido caso ele abrisse mão do atual cargo na Casa legislativa. Há, também, dúvida dentro da própria legenda se deve manter proximidade ou não com o governo.
Reservadamente, figuras do gestão Lula dizem que a ação é desrespeitosa e que pode levar a uma reavaliação do grupo sobre qual deve ser o espaço de participação do União Brasil no governo.
Considera-se, ainda, na relação do partido com o governo Lula, o fato de que o União foi o partido do Centrão que mais entregou assinaturas no requerimento de urgência ao projeto de lei da anistia aos presos do 8 de Janeiro. Quarenta dos 59 deputados do partido assinaram o documento.
A insatisfação dos deputados gerou a preocupação de que a saída de Pedro Lucas da liderança provoque uma nova guerra pela sucessão e, em último caso, resulte na eleição de um parlamentar de oposição ao governo.
No começo do ano, a própria decisão por Pedro Lucas causou uma divisão no partido, quando outros dois nomes estavam na disputa. Leur Lomanto Júnior (União-BA) falou em uma reunião da bancada do partido, em dezembro de 2024 que o partido poderia a voltar a ser "piadinha" pela desunião interna.
Leia na íntegra a nota de Pedro Lucas:
"Com espírito de responsabilidade e profundo respeito pela democracia brasileira, venho a público agradecer ao presidente Lula pelo honroso convite para assumir o Ministério das Comunicações. A confiança depositada em meu nome me tocou de maneira especial e jamais será esquecida.
Reflito diariamente sobre o papel que a política deve exercer: servir ao povo com compromisso, equilíbrio e coragem.
Sou líder de um partido plural, com uma bancada diversa e compromissada com o Brasil. Tenho plena convicção de que, neste momento, posso contribuir mais com o país e com o próprio governo na função que exerço na Câmara dos Deputados. A liderança me permite dialogar com diferentes forças políticas, construir consensos e auxiliar na formação de maiorias em pautas importantes para o desenvolvimento do Brasil.
Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil.
Seguirei lutando pelo bem-estar de todos os brasileiros, especialmente daqueles que mais precisam. Continuarei atuando com firmeza no Parlamento, buscando consensos, defendendo a boa política e acreditando que o respeito às diferenças é o que fortalece nossa democracia."
Décima troca de ministros
Esta é a décima troca de ministros na Esplanada. Desde o início do governo, em janeiro de 2023, três caíram diante de denúncias. Além de Juscelino, polêmicas derrubaram Gonçalves Dias (GSI) e Silvio Almeida (Direitos Humanos). Relembre:
Abril de 2023 - Gonçalves Dias cai do GSI após filmagens do 8 de Janeiro
O então ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) general Marco Edson Gonçalves Dias foi o primeiro da equipe do governo Lula a cair. A saída dele se deu após a imprensa divulgar uma gravação em vídeo que mostrou ele em uma postura passiva diante da invasão do Palácio do Planalto durante os Atos Golpistas do 8 de Janeiro.
Com o estouro da crise, membros do governo aconselharam o então ministro a pedir demissão, o que foi feito por ele. A solicitação foi prontamente aceita por Lula.
O GSI passou então a ser chefiado interinamente por Ricardo Cappelli . Desde maio de 2023, o chefe da pasta é o general Marcos Amaro dos Santos.
Julho de 2023 - Daniela Carneiro deixa Ministério do Turismo
Bastou seis meses de governo para Lula fazer a primeira mudança na equipe para agradar o Centrão e buscar apoio do Congresso. Sem o prestígio do União Brasil, a deputada federal e então ministra do Turismo Daniela Carneiro foi substituída pelo deputado federal Celso Sabino (União-PA). A troca foi feita para acomodar a sigla, que se sentia subvalorizada pelo Planalto.
Setembro de 2023 - Ana Moser deixa Esporte para abrigar PP de André Fufuca
Na véspera do feriado de 7 de Setembro de 2023, Lula demitiu a então ministra dos Esportes Ana Moser em uma minirreforma ministerial que buscou trazer o PP e o Republicanos para a base governista.
Moser, que não tinha trajetória política, foi substituída pelo deputado federal André Fufuca (PP-MA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Setembro de 2023 - Márcio França sai de Portos e Aeroportos e vai para Microempreendedorismo
Também na minirreforma eleitoral, Lula tirou Márcio França do Ministério dos Portos e Aeroportos e o colocou em um novo ministério - o 39° da gestão - chamado Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Quem assumiu a vaga deixada na antiga pasta de França foi Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), representante do Centrão.
Janeiro de 2024 - Ricardo Lewandowski substitui Flávio Dino na Justiça
A chegada do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça foi a primeira troca de Lula no ano passado. Lewandowski substituiu o atual ministro do STF Flávio Dino, indicado pelo petista para a Corte.
Lewandowski foi alçado ao cargo por ter uma relação de confiança pessoal com Lula. Ele chegou ao STF em 2006, indicado por Lula com apoio da então primeira-dama Marisa Letícia.
Ele foi um dos principais interlocutores de Lula no Judiciário até 2023, quando completou 75 anos e precisou se aposentar. Em 2016, como presidente do STF, ele presidiu o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no Senado e foi o responsável por articular a manutenção dos direitos políticos da petista.
Setembro de 2024 - Suposto assédio sexual contra ministra derruba Silvio Almeida dos Direitos Humanos
Em um dos grandes escândalos da Esplanada durante a terceira gestão de Lula, o então ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida foi demitido por suposto assédio sexual contra pessoas ligadas ao governo federal. Uma das vítimas teria sido a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
A demissão de Almeida se deu um dia após a Me Too, ONG que atua na proteção de mulheres vítimas de violência sexual, afirmar, em nota, que ele foi denunciado por assédio sexual por pessoas ligadas ao Planalto.
A organização omitiu o nome das denunciantes sob o argumento de que era preciso protegê-las, mas assegurou ter o consentimento das vítimas para expor o assunto.
Assim como no caso de Juscelino Filho, Lula decidiu exonerar Almeida para estancar a crise deflagrada pelas denúncias. Para o lugar dele, o presidente escolheu a deputada estadual do PT de Minas Gerais Macaé Evaristo.
Janeiro de 2025 - Paulo Pimenta deixa Secom após queda na popularidade de Lula
Diante de uma queda na popularidade de Lula, o petista decidiu demitir o então ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) Paulo Pimenta. Buscando uma comunicação mais efetiva para fazer os feitos do governo federal chegar na população, além de combater as ações digitais da oposição, o petista escolheu o marqueteiro Sidônio Palmeira para o cargo.
Após a demissão, Pimenta afirmou que o governo estava entrando em uma fase da gestão em 2025, e que Lula queria um perfil diferente para chefiar a pasta.
De acordo com ele, o governo entrará em uma nova fase da gestão a partir de 2025, e o presidente Lula quer um perfil diferente do seu para a chefia da pasta. Lula julgou que o governo tinha grande número de obras e bons programas sociais, mas que problemas de comunicação estavam impedindo que isso resultasse em popularidade junto ao eleitorado.
Março de 2025 - Nísia Trindade é trocada por Alexandre Padilha e Gleisi Hoffmann assume articulação
Antes da queda de Juscelino, as trocas mais recentes de Lula foram no Ministério da Saúde e na Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Na primeira pasta, a socióloga Nísia Trindade foi demitida em meio a um fogo amigo no Executivo com críticas sobre o trabalho dela, e substituída por Alexandre Padilha, que comandava a SRI desde o início do governo.
Padilha também era alvo de críticas, principalmente de lideranças da Câmara dos Deputados. O ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) chegou a chamar ele de "desafeto pessoal" e "incompetente" em uma coletiva de imprensa. Além da transferência de ministério, a solução encontrada por Lula foi nomear a deputada federal e então presidente do PT Gleisi Hoffmann para a SRI.
A indicação de Gleisi foi bem vista pelos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), mas foi duramente criticada por líderes da oposição ao governo Lula. Para eles, a ida dela para a articulação indicaria uma "radicalização" devido à postura combativa da ministra.