A Polícia Federal (PF) prendeu, na manhã deste sábado (14), o general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL). Ele foi detido em Copacabana, no Rio de Janeiro, em uma operação que contou com o apoio do Exército. Braga Netto será entregue ao Comando Militar do Leste, onde ficará sob custódia das Forças Armadas.
Além do mandado de prisão preventiva por obstrução da Justiça, expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a operação cumpre dois mandados de busca e apreensão, além de uma medida cautelar diversa da prisão, contra indivíduos suspeitos de dificultar a produção de provas durante a instrução processual penal. Os mandados estão sendo cumpridos no Rio de Janeiro e em Brasília, com o apoio do Exército.
Braga Netto, Bolsonaro e mais 38 pessoas foram indiciados pela Polícia Federal pela trama de um golpe de Estado, incluindo os atos de 8 de Janeiro, que teriam o objetivo de remover do poder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2022. Eles são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Braga Netto é apontado pela Polícia Federal como uma figura central na tentativa de subversão da ordem democrática. A PF afirma que o general participou ativamente de um movimento coordenado para pressionar os comandantes do Exército e da Aeronáutica a aderirem ao golpe de Estado.
Segundo o relatório do inquérito, as chamadas "medidas coercitivas" previstas no plano Punhal Verde e Amarelo, que incluíam o planejamento operacional para ações de Forças Especiais, foram elaboradas para serem apresentadas ao general. Entre outras ações, o plano previa o assassinato do presidente Lula e do vice, Geraldo Alckmin, além da prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
"Os elementos probatórios obtidos ao longo da investigação evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da abolição do Estado democrático de direito, inclusive na tentativa de embaraçamento e obstrução do presente procedimento", diz a PF.
Relatório do golpe
O general da reserva é um dos personagens mais mencionados no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe, sendo citado 98 vezes.
Segundo o relatório, as "ações operacionais para o cumprimento de medidas coercitivas foram planejadas em reuniões que ocorreram na cidade de Brasília, nos meses de novembro e dezembro de 2022". Ainda segundo os federais, em reunião do dia 8 de novembro, pouco depois do segundo turno da eleição presidencial, os militares investigados ajustaram a elaboração do plano que seria exibido a Braga Netto.
A defesa de Braga Netto, no entanto, afirma que ele "não tomou conhecimento de qualquer documento relacionado a um suposto golpe, nem do planejamento de assassinato de alguém".
Em relação à prisão deste sábado, ainda não houve manifestação oficial.
Reunião golpista
Como foi divulgado após a deflagração da Operação Contragolpe, houve reunião na casa de Braga Netto na qual teria sido discutido o planejamento para sequestrar e executar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o então presidente eleito Lula e seu vice, Geraldo Alckmin.
Este encontro serviu, diz a PF, para o general Mario Fernandes “apresentar o planejamento das ações clandestinas com o objetivo de dar suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário”. Na ocasião, conforme os investigadores, “o planejamento foi apresentado e aprovado” por Braga Netto.
A reunião contou também com a presença do tenente-coronel Mauro Cid, que atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro, do major Rafael de Oliveira e do tenente-coronel Ferreira Lima.
A participação do candidato a vice de Bolsonaro também aparece no plano do que seria o momento posterior ao rompimento democrático. Os investigados teriam planejado a criação de um gabinete vinculado à Presidência da República, que seria composto em sua maioria por militares. A Polícia Federal aponta que eles seriam liderados por Braga Netto e pelo general Augusto Heleno, à época ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Empecilho
Segundo conclusão da PF, a recusa do general Freire Gomes (Exército) e do tenente-brigadeiro do ar Baptista Júnior (Aeronáutica) ao plano golpista teria sido o principal empecilho para a sua realização.
Conversas de WhatsApp extraídas do telefone celular de Ailton Barros, militar reformado do Exército, reforçam a suposta participação de Braga Netto ao intento golpista que teria o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O alvo principal de uma possível ação do general seria Freire Gomes, chamado de "cagão" por resistir às pressões para aderir ao golpismo.
Braga Netto teria encaminhado a Ailton Barros mensagem recebida de um militar das Forças Especiais em que a "culpa" do que estava acontecendo, em referência a um fracasso do possível golpismo, era atribuída a Freire Gomes, acusado de "omissão e indecisão". Ailton Barros, na resposta, sugere manter a pressão e, caso o general Freire Gomes continuasse reticente, afirmou: "Vamos oferecer a cabeça dele aos leões".
Braga Netto, destaca o despacho de Moraes, teria concordado e acrescentado: "Oferece a cabeça dele. Cagão".
Repasses em dinheiro
Informações indicam ainda que Braga Netto teria participado no financiamento das ações ilegais, realizando repasses em dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, conhecidos como "kids pretos", utilizando até embalagens de vinho para transportar os valores.