Mesmo sob forte oposição, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stédile recebeu, na tarde desta segunda-feira (16), a medalha Mérito Farroupilha, considerada a maior honraria da Assembleia Legislativa gaúcha. Diversas pessoas vestindo camisetas e bonés do movimento participaram da sessão, demonstrando apoio ao homenageado.
A homenagem ocorreu em meio a aplausos e gritos de apoio ao líder do movimento, no salão Júlio de Castilhos, na sede da Assembleia. No local, mais de 200 pessoas, entre assentados, acampados e políticos da esquerda acompanhavam a solenidade. Do lado de fora da Casa, um número semelhante de apoiadores acompanhava a sessão, em um telão que foi instalado na Esplanada.
A cerimônia teve início com um discurso do deputado Adão Pretto Filho (PT), que propôs a homenagem. Durante a fala, Pretto destacou que a distinção ocorre no ano em que o movimento completa 40 anos de existência.
— Cada deputado tem a prerrogativa de indicar uma liderança, uma personalidade à medalha. Em nome do MST, nós escolhemos o João Pedro Stédile, que foi um dos fundadores do movimento e uma das principais lideranças de reforma agrária reconhecida no mundo — destacou o deputado.
A solenidade teve sequência com a apresentação de músicas sobre o movimento sem terra, seguida da leitura de uma carta de associações e movimentos sociais que prestigiaram a iniciativa do parlamento gaúcho.
Logo depois, a medalha foi entregue pelo deputado estadual Pepe Vargas (PT) à Stédile. O líder do movimento levou a plateia aos aplausos ao beijar a distinção, colocar um boné vermelho e estender a bandeira do movimento entre os braços.
— Estamos aqui celebrando a reforma agrária. Essa medalha não é para mim, nem para o MST, é para todos os que lutam pela terra, pelos direitos — disse Stédile no começo do seu discurso no parlamento.
A cerimônia foi encerrada com a fala do deputado estadual Pepe Vargas (PT), que foi único da mesa diretora da Casa a não assinar um pedido para a realização uma reunião que poderia reconsiderar a entrega da medalha.
— A Assembleia Legislativa é a Casa do povo gaúcho. Aqui estão representadas as principais forças políticas e ideológicas. É, portanto, uma casa plural. Essa Casa democrática não poderia deixar de conceder com unanimidade a entrega da medalha, como fez hoje — disse o deputado, fazendo referência à polêmica envolvendo a homenagem.
Na Praça da Matriz, em frente ao auditório, dezenas de simpatizantes esperavam Stédile com bandeiras, faixas e uniformes do Movimento Sem Terra. Alguns deles vieram de diferentes municípios gaúchos para acompanhar a entrega da medalha.
O líder saiu do plenário e subiu em um carro de som, onde continuou discursando para a multidão. Dentre os pontos abordados na fala, ele prometeu fazer milhares de exemplares da medalha Mérito Farroupilha para distribuir entre os componentes do movimento social.
Polêmica
A homenagem ao líder do MST foi proposta pelo deputado Adão Pretto Filho (PT) e aprovada por unanimidade pela mesa diretora do parlamento ainda em fevereiro. Na ata da reunião do começo do ano, ficou registrado o consenso entre os parlamentares, sem manifestações contrárias à concessão.
Meses depois, às vésperas do ato de entrega, teve início um movimento contrário à homenagem a Stédile. Uma dessas tentativas foi coordenada pelo deputado estadual Capitão Martim (Republicanos), que fez um abaixo-assinado para cancelar a entrega da medalha. O documento reuniu mais de 25 mil assinaturas. Houve também a tentativa de levar o assunto de volta à mesa diretora da Casa, buscando barrar a homenagem.
A norma interna da Assembleia diz que cada deputado estadual pode indicar a entrega de uma Medalha do Mérito Farroupilha a cada legislatura.
Depois de apresentada a proposta, ela é analisada em última instância pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa — grupo de deputados que comanda administrativamente a Casa. A mesa é composta por parlamentares de diferentes orientações e partidos políticos.
Depois de aceita pelo grupo, não há como indeferir a entrega da medalha. Portanto, a reação dos deputados de direita e ligados a correntes do bolsonarismo não impediu a homenagem, uma vez que ela já havia sido aceita pelo parlamento e estava seguindo as normas da Casa.