Sem a presença de José Fortunati, que renunciou à candidatura na manhã desta quarta-feira (11), o PTB anunciou oficialmente apoio à candidatura de Sebastião Melo (MDB) no primeiro turno das eleições municipais para a prefeitura de Porto Alegre. O ato ocorreu no comitê do partido, no início da tarde desta quarta, e foi transmitido pela internet.
Durante a cerimônia, o presidente do PTB, Everton Braz, relembrou os problemas judiciais que levaram à renúncia de Fortunati e disse que “não era um dia fácil”. Ele pediu aplausos ao ex-prefeito, a quem descreveu como alguém que “se desprendeu de todas as vaidades pessoais” e a quem o partido deve “gratidão”. Antes de passar a palavra a Melo, que foi pessoalmente ao comitê, atribuiu a mudança de rumo de última hora à “providência divina”.
— Não era nosso plano inicial, mas sempre tivemos pelo Melo todo o respeito e toda a admiração. Estávamos em caminhos separados. Hoje, quis Deus que estivéssemos unidos todos para chegar à vitória no primeiro e depois no segundo turno. (...) Nós do PTB, agora, somos 15 — disse.
Em mais uma aula de pragmatismo político, o PTB, poucas horas após a renúncia do seu candidato, mobilizou mais de uma centena de militantes que lotaram o comitê do partido, mesmo em tempos de covid-19, todos já devidamente adesivados e portando bandeiras com as cores e o número do MDB.
Cenas tradicionais de uma campanha, mas que até então eram raríssimas por conta da pandemia, voltaram a ser vistas: políticos em discursos inflamados para pequenas multidões, transpirando em bicas e marcando de suor as camisas abaixo do busto e das axilas.
Sebastião Melo chegou ao comitê acompanhado do vice, Ricardo Gomes (DEM), sob aplausos dos militantes do PTB. Vice-prefeito de Fortunati entre 2013 e 2016, começou o discurso relembrando a relação com o agora ex-candidato, com quem “resolveu muitos problemas da cidade”. Também aproveitou a fala para criticar a gestão de Nelson Marchezan (PSDB), a quem chamou de “incompetente”, e convocou os eleitores a ajudarem a divulgar a adesão da coligação de Fortunati a sua campanha.
— Há um ditado popular que diz que quem corre com gosto nunca cansa — disse o candidato, que, à vontade, lembrou sua trajetória política e falou que quer ser prefeito para “devolver tudo o que a cidade lhe deu”.
A aliança entre a coligação Porto Alegre Somos Todos Nós e a campanha de Melo vinha sendo discutida pelas lideranças dos dois partidos desde segunda-feira (9), quando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) indeferiu a candidatura do vice de Fortunati, André Cecchini (Patriota). Mas o MDB pode não contar com apoio explícito do ex-prefeito. Por telefone, Fortunati disse que ainda não decidiu se irá ou não pedir votos para o emedebista.
— Não tenho posição alguma por enquanto. O partido entrando na campanha, posso explicitar meu apoio, mas ainda vou pensar de que forma — ponderou, antes de gravar seu programa eleitoral, que deve ir ao ar à noite.
Melo diz que "gostaria muito" de contar com apoio pessoal de Fortunati
Depois de discursar, bater fotos com candidatos a vereador do PTB e gravar vídeos, Melo mostrou esperança em contar com o apoio pessoal de Fortunati. Com a adesão do PTB, o emedebista ganha uma militância numerosa e experiente nas periferias, mas as pesquisas internas dos partidos mostram que os votos de Fortunati, quando migram para outros candidatos, costumam se pulverizar entre Melo, Marchezan e Manuela D'Ávila (PCdoB).
A avaliação de bastidor é que maior capitalização dos votos de Fortunati em favor de Melo dependeria de manifestação explícita do petebista. Há empecilhos para que isso ocorra porque foi um vereador do PRTB, da coligação de Melo, quem moveu a ação judicial que barrou o vice de Fortunati. Há clima de mágoa.
— Eu respeito a decisão do PTB, estou aqui poque fui convidado pelo PTB, e respeito o tempo e a decisão do Fortunati. É claro que eu gostaria muito de poder contar com uma manifestação do Fortunati, mas eu compreendo o momento difícil, como as coisas aconteceram, mas ele olhou para a cidade quando tomou essa decisão. Teve um gesto de grandeza. E eu creio que ele é um homem de partido — disse Melo, indicando crença de que o ex-prefeito acatará a decisão final do PTB.
As críticas do ato foram direcionadas a Marchezan, que deverá disputar voto a voto com Melo uma vaga no segundo turno. Além dos fatores políticos, o emedebista fez um discurso voltado a problemas nos bairros populares de Porto Alegre e convocou a militância a tomar as ruas na reta final da campanha.
O ato não deixou de ser uma reunião de antigos aliados de Marchezan e que, ao longo dos quatro anos de mandato, brigaram com ele. O PTB teve papel relevante para a vitória do prefeito no segundo turno em 2016, contra Melo, e assumiu cargos importantes de primeiro escalão. As divergências os separaram. Líder do governo na Câmara em 2017, Clàudio Janta (SD) também esteve presente no ato desta quarta para manifestar apoio ao enlace do PTB com Melo. Janta deixou a função no Legislativo após desavenças com o tucano.
Em um canto ao lado do palanque em que ocorria o anúncio, muito discreto, quem observava tudo era o ex-vereador Kevin Krieger (PP), coordenador de campanha de Marchezan em 2016 e, depois, secretário de Relações Institucionais. Krieger foi reconhecidamente um dos fiadores da vitória de Marchezan na eleição passada, mas a parceria de ambos no governo durou apenas quatro meses.