![Marcello Casal Jr. / Agência Brasil Marcello Casal Jr. / Agência Brasil](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25418906.jpg?w=700)
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que pegou as gravações da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, onde tem casa, para que o material "não fosse adulterado". A declaração foi feita neste sábado (2), na saída de uma concessionária em Brasília, onde o presidente comprou uma moto.
— Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha. Não é o seu Jair. Agora, que eu desconfio que o porteiro leu sem assinar ou induziram ele a assinar aquilo (o depoimento)? Induziram entre aspas, né? Induziram a assinar aquilo (sic) — disse.
Reportagem da TV Globo, veiculada na terça-feira (29), apontou que um porteiro do condomínio deu depoimento dizendo que, no dia do assassinato da vereadora Marielle Franco, em 14 de março de 2018, Élcio Queiroz — ex-policial militar acusado do crime — afirmou na portaria que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal.
Pelo depoimento, ao interfonar para a residência, um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a entrada. O suspeito, no entanto, teria ido a outra casa dentro do condomínio, pertencente a Ronnie Lessa, apontado como um dos envolvidos no assassinato da vereadora.
O funcionário relatou ter interfonado uma segunda vez para a casa de Bolsonaro, tendo sido atendido pela mesma pessoa, que afirmou saber que a casa 66 era o real destino do visitante. A planilha manuscrita do controle de entrada de visitantes, apreendida no dia 5 de outubro, registra a entrada de Élcio para a casa 58, do presidente.
Na quarta-feira (30), a promotora Simone Sibilio afirmou que a investigação teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone, e que ficou comprovado que a informação dada pelo porteiro não procede. Segundo a Promotoria, há registro de interfone para a casa 65, e a entrada de Élcio foi autorizada pelo morador do imóvel, Ronnie Lessa.
A perícia feita pelo Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro nas gravações da portaria do condomínio do presidente não avaliou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de ser entregue às autoridades, aponta documento apresentado à Justiça.
Outra promotora do caso, Carmen Carvalho, que apoiou Bolsonaro na campanha eleitoral, deixou a investigação no final da semana. O presidente não quis comentar seu afastamento.
— Olha só, deve ter no meio de vocês gente que votou em mim, deve ter, com toda a certeza. Agora a promotora resolveu sair, tá certo? Eu estava em Brasília, está comprovado. Várias passagens minhas pelo painel eletrônico da Câmara, com registro de presença, na quarta-feira geralmente parlamentar está aqui — disse Bolsonaro.
Acusações contra Witzel
O presidente insinuou, ainda, que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o delegado responsável pelo caso atuaram conjuntamente para vazar as informações sigilosas para a TV Globo.
— Qual era a ideia? Botar no processo, divulgar com exclusividade da Globo de sempre, essa Globo de sempre, que tem acesso a qualquer processo aí com segredo de Justiça, para exatamente tentar moer reputações. Se deram mal — afirmou.
Apesar de dizer ter "convicções" de que o governador interferiu nas investigações, Bolsonaro não forneceu evidências de que isso tenha ocorrido.
— Quem está por trás disso? Eu não tenho dúvida: governador Witzel, que só se elegeu graças ao meu filho, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que colou nele o tempo todo. Chegando, um mês depois virou nosso inimigo. Começou a usar a máquina do Estado para perseguir o Flávio, o Carlos (vereador e filho do presidente) agora, também, o Hélio Negão (deputado federal), tudo quanto é amigo meu tão sendo investigados agora lá no Rio de Janeiro (sic) — disse.
Bolsonaro ainda insinuou que a atuação tenha se dado por meio do delegado da Polícia Civil que cuida do caso, chamado pelo presidente de "amiguinho de Witzel".
— A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro. Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador. Como é que pode um delegado da Polícia Civil ter acesso às gravações da secretária eletrônica? Dado o depoimento do porteiro? Será que não teve a capacidade (de questionar): "Onde estaria o deputado numa quarta-feira?" — criticou.