Cercado pela crise das queimadas na Amazônia, pelo mal-estar com os países europeus e pela falta de anúncios positivos ao setor agropecuário, o presidente Jair Bolsonaro foi aconselhado por assessores próximos a não comparecer ao Parque de Exposições da Expointer, em Esteio.
A visita dele deveria acontecer na próxima sexta-feira (30), mas, até esta terça (27), o Palácio do Planalto não confirmou sua presença no Rio Grande do Sul. A vinda dele deveria ter sido confirmada aos organizadores do evento ainda na semana passada.
A maior feira do setor na América Latina é tradicionalmente palco de manifestações e protestos contra governadores e presidentes. Caso a ausência de Bolsonaro se confirme, a atitude não seria inédita. Outros presidentes também não participaram da feira.
Fernando Henrique Cardoso, nos seus oito anos de governo - 1999 a 2002 - não esteve nenhuma vez na Expointer. Lula só se fez presente no primeiro ano (2003) e no último (2010), quando tentava eleger Dilma Rousseff como sua sucessora. Ela, que esteve durante cinco anos à frente do país, veio à feira por duas vezes, em 2011 e 2014.
Algumas polêmicas marcaram o evento:
1999 — O governador que recém havia sido eleito, Olívio Dutra, e o secretário da agricultura da época, José Hermetto Hoffmann, foram vaiados ao falarem que estavam fazendo esforços para impedirem a produção de transgênicos. Ao ouvirem isso, os produtores vinculados a Farsul começaram suas manifestações contrárias à fala dos governantes. Além disso, apesar da ausência de FHC, o ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, foi surpreendido por manifestantes com faixas de protestos contra a política agrícola do governo federal.
2000 — As vaias que aconteceram em 1999 voltaram a aparecer na Expointer para Olívio Dutra. Dessa vez, na final do Freio de Ouro. Assim que Olívio passou no corredor entre a arquibancada e a pista de provas, foi recebido com apupos e palavras agressivas, ainda que tenha recebido alguns aplausos. Assim que pisou na tribuna, grande parte das pessoas presentes gritava em coro:
— Fora, fora, fora.
Mas o fato que mais marcou a Expointer de 2000 foi quando a pista de julgamento de animais se transformou em uma batalha ideológica entre militantes de esquerda de produtores ligados à Farsul, o que quase acabou entre violência entre os dois grupos.
2001 — Servidores aproveitaram a inauguração oficial da Expointer para protestarem contra a falta de reajustes da categoria que já durava seis anos. Olívio menosprezou a manifestação e não se manifestou sobre reajuste. Nesse ano, o então governador não se fez presente na disputa do Freio de Ouro, palco dos protestos de 2000.
2003 — No primeiro ano de seus governos, Germano Rigotto e Lula estiveram no Parque de Exposições da Expointer, no que ficou marcada como "a Expointer da pacificação".
2007 — A governadora Yeda Crusius foi vaiada insistentemente por dezenas de funcionários da Emater/RS que empunhavam uma faixa escrita "Emater/Ascar de luto".
Eles eram contra a demissão de, pelo menos, 350 funcionários da entidade. Os mesmos manifestantes não a deixaram iniciar seu discurso e, quando Yeda conseguiu falar, todos se retiraram da pista.
2010 — Após inúmeros escândalos no governo de Yeda, a governadora não esteve presente na abertura da Expointer, quando o secretário estadual da Agricultura, Gilmar Tietböhl, esteve encarregado de cortar as faixas da inauguração da feira.
Ainda naquele ano, Yeda e Carlos Sperotto, presidente da Farsul, dançaram música típica alemã para comemorar os resultados alcançados.
Na segunda participação de Lula na Expointer, o presidente foi aplaudido por dirigentes da Farsul, mas, em um outro momento, foi vaiado por produtores, em um ambiente que estava contaminado pela disputa eleitoral que viria a acontecer em outubro.
2011 — Depois de muitos anos, foi a segunda vez consecutiva que o presidente da República se fez presente na Expointer. Dilma Rousseff, durante inauguração oficial da Expointer, foi aplaudida inúmeras vezes ao relacional o papel do campo ao desempenho positivo da economia brasileira. Ainda assim, em alguns momentos enfrentou buzinaços e gritos de protestos de servidores descontentes.
2013 — A feira foi marcada por manifestações de agricultores familiares e fiscais federais agropecuários. Os produtores reclamavam contra as demarcações de terra no Estado. Os fiscais, contra as indicações do Ministério da Agricultura para a secretaria de defesa agropecuária e para o departamento de inspeção de produtos de origem animal.
As vaias se sobrepunham aos discursos feitos pelas autoridades. Quando questionado sobre os protestos, o governador Tarso Genro disse que ali era o palco de escuta, fazendo referência à característica da Expointer de ser palco de reivindicações do setor.
2014 — A presidente Dilma Rousseff esteve na feira para assistir ao desfile dos grandes campeões junto ao governador Tarso Genro e ao ministro da Agricultura, Neri Geller. As manifestações se dividiram entre os coros de "Dilma guerreira, mulher brasileira" e " Dilma a culpa é tua, trabalhadores na rua".
2015 — Em um dos primeiros dias de Expointer, com o governo em crise em virtude do parcelamento dos salários, José Ivo Sartori dançou com a primeira dama Maria Helena.
Dias depois, durante a cerimônia de desfile dos grandes campeões, o governador foi vaiado insistentemente por servidores estaduais.
Com cartazes de protesto, bandeiras e apitos, eles se aglomeraram a poucos metros do palanque das autoridades. Aconteceu até uma dança para ironizar o que o governador havia feito no início da feira. Foram 10 manifestações, todas com apupos e palavras agressivas. Durante os minutos que discursou, o governador ouviu inúmeras vezes os gritos de "Sartori caloteiro". Dias antes, o governo havia pago a primeira parcela do salário dos servidores do Executivo, no valor de R$ 600.
2017 — Manifestantes integrantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Sul), da Via Campesina, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram o pátio da Casa Branca, sede do governo estadual dentro da Expointer. Eles reivindicavam uma reunião com o governador, José Ivo Sartori, que no momento do protesto não se encontrava no local.