Centenas de motoristas foram às ruas, nesta quinta-feira (10), em Lima, em protesto contra a inação do governo da presidente Dina Boluarte diante da onda de extorsão do crime organizado, que matou 15 profissionais do setor desde o começo do ano na capital peruana.
A manifestação atraiu um grande número de sindicalistas, que saíram às ruas e paralisaram seus veículos, causando aglomerações de passageiros e atrasos na entrada dos locais de trabalho.
Entre janeiro e abril, em Lima e Callao, 15 motoristas foram assassinados e houve mais de 25 ataques contra o serviço público dos transportes, segundo a Associação Nacional de Integração de Profissionais dos Transportes (Anitra).
Quadrilhas do crime organizado exigem o pagamento mensal de até 50.000 soles (13 mil dólares ou 78,7 mil reais na cotação atual) às empresas de transporte. Quando as empresas se recusam, elas atacam a tiros os veículos, mesmo com passageiros dentro.
Ao menos 20.000 veículos deixaram de prestar serviço por 24 horas nesta quinta-feira na capital peruana, com população de 10 milhões de habitantes, de acordo com a Anitra.
"Estão matando nossos motoristas das empresas (associadas) que são extorquidos por quadrilhas", disse à AFP Martín Valeriano, presidente do sindicato da Anitra.
A paralisação obrigou universidades e escolas a realizarem aulas remotas nesta quinta-feira.
Os motoristas "desligaram seus motores" devido ao protesto e realizaram uma marcha até o Congresso, no centro de Lima.
Alguns carregavam fotografias das vítimas e cartazes com mensagens como "Agora os criminosos se consideram valentes só por portar uma arma!" e "Nem mais um irmão morto".
"Assassinaram um colega de nossa empresa. Já não temos paz, temos medo de sair para trabalhar", declarou Adrexi Cardel, que segurava nas mãos uma bandeira preta e branca como sinal de luto.
"Diariamente estamos sofrendo atentados contra nossas vidas. Estamos trabalhando e eles vêm de moto e atiram", disse à AFP o motorista Jean Flores.
Segundo os sindicatos, "mais de 50% das empresas estão sendo extorquidas". A Anitra reúne 460 empresas em Lima e Callao, o porto vizinho à capital peruana.
Nos últimos sete dias, três motoristas foram assassinados nos bairros de Lima e Callao, segundo a polícia.
"Estamos protestando pelo direito à vida, chega de assassinatos!", disse à AFP Julio Campos, vice-presidente da Aliança Nacional de Profissionais dos Transportes, outro sindicato do setor.
Este é o segundo protesto do setor em 2025. O primeiro ocorreu em fevereiro em Lima.
Segundo a polícia, em 2024 houve 19.434 denúncias de extorsão no Peru. No ano de 2023, foram reportadas no total 22.294 denúncias.
* AFP