O ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco se falaram por meio de um aplicativo de mensagens na madrugada do dia em que foram presos, em 21 de março, segundo o Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro que apresentou nesta sexta-feira (29) denúncia contra os dois por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção na construção de Angra 3.
De acordo com os procuradores, a comunicação entre os dois é um forte indício de que eles tiveram informações privilegiadas sobre a prisão iminente. E, também por isso, uma justificativa suficiente para o pedido de prisão preventiva dos dois.
O primeiro contato ocorreu à 1h24min. Temer manda uma mensagem para Moreira perguntando se ele está acordado. Por volta de 1h40min, Moreira tenta ligar para Temer sem sucesso. Ele, então, responde dizendo que está acordado e que tentou ligar.
Os procuradores rastrearam os contatos entre os dois por pelo menos 80 dias, revelando que, ao longo deste período, eles nunca se falaram de madrugada.
— Nos causou espécie que a menos de cinco horas da prisão eles tenham se comunicado de madrugada — disse Eduardo El Hage, coordenador da força-tarefa do MPF.
— É um indício de um possível vazamento.
Almirante
O MPF no Rio informou ainda que ex-presidente da Eletronuclear almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva e suas duas filhas Ana Cristina e Ana Luisa mantinham quatro contas não declaradas no exterior para recebimento de dinheiro oriundo de propina. Os três foram denunciados pelo MPF na mesma denúncia que envolve Temer e Moreira Franco.
Pelas quatro contas na Suíça passaram cerca de R$ 60 milhões, advindos de atividades ilícitas relacionadas a empresas envolvidas na construção de Angra 3, afirmou o MPF.
— Queria lamentar, pessoalmente, o envolvimento do almirante Othon nesses crimes de corrupção — afirmou o procurador Leonardo Cardoso.
— Ele é uma referência do programa nuclear brasileiro e certamente não precisava disso. Nós brasileiros também não merecíamos ter uma pessoa dessa envolvida nesses fatos — completou.