
A notícia de que a votação da reforma da Previdência havia sido adiada para 2018, divulgada na tarde desta quarta-feira (13) pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), causou surpresa nos corredores da Câmara. Deputados atônitos buscavam informações, inclusive em contato com o presidente Michel Temer, internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após passar por uma pequena cirurgia.
No início da noite, ainda pairavam dúvidas sobre os próximos passos. Segundo Jucá, um acordo teria empurrado a apreciação da proposta para fevereiro, após o recesso:
— Só vota Previdência em fevereiro. Está conversado entre Rodrigo (Maia, presidente da Câmara) e Eunício (Oliveira, presidente do Senado). Estamos esperando apenas o presidente chegar (de São Paulo) para fechar o acerto — disse.
Cerca de uma hora depois, Maia desmentiu Jucá. Segundo ele, houve uma reunião entre os chefes das Casas Legislativas, mas nenhuma ação foi definida:
— O que disse para o presidente do Senado é que devemos tomar a decisão em conjunto com o presidente Michel Temer. Não ficou nada decidido.
O Planalto também se apressou em desmentir Jucá, apesar das sinalizações recentes do presidente de que o tema pode ficar para 2018. Em nota, informou que Temer discutirá nesta quinta-feira (14) com Maia e Eunício sobre a data de votação, e que a leitura do relatório do deputado Arthur Maia (PPS-BA) no plenário está mantida.
Maia reconheceu a dificuldade na aprovação, mas afirmou que ainda não foi informado pelo Planalto sobre a estimativa de votos. O líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), seguiu o mesmo caminho. Em uma primeira entrevista, ao lado da Mesa Diretora da Câmara, ainda demonstrava desconhecer quais seriam os próximos passos. Minutos depois, falou novamente à imprensa, salientando que a votação estava mantida para a próxima semana:
— Tivemos nesses últimos dias uma melhora clara em relação à reforma da Previdência no ambiente interno e no externo.
Um dos principais articuladores do Planalto e vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP) foi ríspido ao comentar o ruído na informação:
— A gente não vai votar no Senado agora a reforma da Previdência. Vamos votar na Câmara. Então quem tem de dar o calendário é o presidente da Câmara.
Outro influente interlocutor de Temer, que não escondia o descontentamento com a situação, afirmou que ninguém estava autorizado a comentar o assunto e disparou contra o colega do Senado.
— Este é o Jucá fazendo jucadas — indignou-se um deputado integrante da base, que afirmou ter recebido a informação do adiamento pela imprensa.
De acordo com esse articulador, apesar das negociações com deputados e um pacote de benesses votado na Câmara, o Planalto não conseguiu ampliar o número de votos para aprovar a reforma, estacionado em cerca de 260, 50 abaixo do mínimo necessário.