Embora o Palácio do Planalto evite se manifestar sobre a escolha do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) para relatar a denúncia contra o presidente Michel Temer e seus ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência), os primeiros sinais em relação ao nome do tucano são positivos. O governo, porém, não descarta a preocupação, já que o então peemedebista Sergio Zveiter (RJ), relator da primeira acusação, votou contra o presidente. Por isso, o discurso oficial segue a linha da primeira denúncia, de que esperam que seja apresentado um relatório técnico, favorável a Temer, com pedido de arquivamento de denúncia.
Interlocutores do presidente, no entanto, avisam que, caso o relatório seja contrário ao presidente, um dos aliados governista na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) será convocado a apresentar um texto paralelo, repetindo o trâmite anterior, quando Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) relatou a favor do arquivamento da acusação. A princípio, não deverão ser realizadas novas trocas de integrantes da CCJ, além das já feitas. A avaliação, neste momento, é que os nomes que compõem o colegiado estão ajustados. Para votar a primeira denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) no dia 13 de julho, a CCJ sofreu 25 movimentações, desde o dia da acusação, o que acabou garantindo a vitória do peemedebista nesta primeira etapa.
O governo continua dando como certa a rejeição da segunda denúncia. Mas o presidente Temer tem dito aos seus auxiliares diretos que manterá a intensa agenda iniciada na segunda-feira de atender os parlamentares. Desde o início da semana, oficialmente, mais de 70 deputados e senadores já passaram pelo gabinete presidencial. O deputado Paulo Maluf (PP-SP), por exemplo, esteve no Planalto pelo menos três vezes esta semana. Temer também está convocando seus ministros, em busca de agendas positivas. No caso dos ministros-parlamentares, o pedido inclui convencimento dos aliados de seus partidos e estados.
Auxiliares do presidente minimizaram a bronca do vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB), que atacou o governo por conta da realização do leilão da Cemig por desagradar a bancada mineira. Disseram que o deputado, que acompanhou Temer nas últimas viagens internacionais, está fazendo o seu papel público, ao se queixar do leilão. Mas não acreditam em uma rebelião de fato, que possa contaminar a votação pelo arquivamento da denúncia.
Além do atendimento com corpo a corpo para garantir uma votação maior do que anterior, de 263 votos, Temer está em contato direto com seus advogados para discutir a estratégia. A intenção, segundo auxiliares do Planalto, é de entregar a defesa até quarta-feira, 4. O mesmo deve valer para os ministros Padilha e Moreira, que têm advogados específicos trabalhando nas suas defesas.
Temer poderá ir nesta sexta-feira, 29, mais uma vez, a São Paulo, para se reunir com seu novo advogado, o criminalista Eduardo Pizarro Carnelós. Fora as idas a São Paulo para estas conversas jurídicas, Temer não está planejando viagens para anunciar projetos ou visitar obras este mês, nem mesmo ir ao Vaticano ou Uruguai, que chegaram a ser cogitadas. Este mês de outubro, avisam auxiliares do presidente, será principalmente dedicado ao trabalho de sua defesa.
Escolha de Andrada incomodou líderes do PSDB
A escolha de Andrada para a relatoria da segunda denúncia contra Temer na CCJ não agradou alguns líderes tucanos . O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati, e o deputado Ricardo Tripoli (SP), líder do partido na Câmara, estariam pressionando Andrada a deixar o posto de relator. Caso Bonifácio não ceda à pressão, os tucanos estudam retirá-lo da CCJ, obrigando o presidente do colegiado, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), a escolher um novo relator para o caso.
Agenda positiva
Outro esforço do presidente Temer tem sido em busca de agendas positivas. Nesta quinta-feira no Planalto, em uma cerimônia feita de última hora, o presidente anunciou pessoalmente a liberação de recursos do PIS/Pasep e a redução o teto da taxa de juros de empréstimos consignados para servidores e aposentados.
Temer fez um discurso exaltando os resultados da economia e não quis responder a questionamentos sobre política, por exemplo sobre o que achava da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastar o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
O presidente tem pedido aos seus ministros que façam balanços de ações e vejam a possibilidade de mais cerimônias para mostrar que o governo segue trabalhando independente da crise política.