O reforço na zeladoria pública, a continuidade da regularização fundiária e a redução dos transtornos nas grandes obras realizadas são algumas das promessas de Adiló Didomenico (PSDB) para a segunda gestão dele em Caxias do Sul. Na manhã desta quarta-feira (25), o prefeito reeleito fez uma avaliação dos últimos quatro anos e uma primeira projeção do novo mandato em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra.
Adiló tocou em um dos temas mais comentados nas eleições de 2024: a zeladoria urbana. O prefeito relembrou as dificuldades causadas pela crise climática, que teve o pior episódio em maio desse ano. Apesar de, como enfatiza, a cidade não ter parado e ter servido até como corredor humanitário, houve diversos estragos no interior que precisaram receber atenção. Por isso, o tucano acredita que a área urbana "deixou a desejar":
— A zeladoria sofreu por dois motivos. Primeiro, pelo longo período de chuva que começou em maio de 2023 e veio até janeiro de 2024. Tivemos fevereiro, março e abril com tempo bom, quando tínhamos colocado as estradas do interior em perfeitas condições. Mas, depois de maio para cá foi um desastre. Nós dedicamos toda a nossa força e estrutura no interior. Isso eu reconheço, acabamos deixando a área urbana a desejar. Para isso, estamos criando agora uma Secretaria de Zeladoria porque percebemos que são várias equipes atuando e que muitas vezes em tempos diferentes, e aí o serviço não fica bom, não aparece e às vezes não é completo.
A criação da pasta já foi aprovada pela Câmara de Vereadores e o prefeito afirma que será uma das primeiras estruturadas implementadas.
Outra novidade é que todas as licitações estarão diretamente ligadas ao gabinete do vice-prefeito, Edson Néspolo (União Brasil).
Já do primeiro mandato, Adiló destacou os avanços na educação com a ampliação de cinco mil vagas e o atendimento de 1,2 mil estudantes estrangeiros e a regularização fundiária.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista que Adiló concedeu aos jornalistas Alessandro Valim, André Fiedler e Ciro Fabres.
Qual é o balanço dos quatro primeiro anos de governo? Podemos dizer que o Papai Noel foi bom com o senhor?
Entendo que ele foi bem com Caxias. Até porque nós vivíamos um quadro muito difícil, e a cidade precisou de muita serenidade para superar todos os desafios que restaram, especialmente da calamidade. Aparentemente parece que a cidade não sofreu nada. A cidade funcionou, a cidade foi corredor humanitário, mas nós temos obras pesadas para serem feitas fruto daquelas quatro enchentes. Não foi uma só, foi uma em setembro, uma em novembro, uma em janeiro e a outra para arrebentar mesmo na virada de abril para maio. Apesar de tudo isso, nós conseguimos recuperar bastante. Eram 137 trechos bloqueados no interior, mas bloqueios violentos. Tenho certeza que se Deus quiser e a natureza nos der uma trégua, nós vamos conseguir fazer muita coisa porque tem muitos projetos bem encaminhados e muita coisa que foi feita.
A eleição do primeiro turno revelou que de cada quatro votos o senhor obteve um. Qual é a leitura que o senhor tira deste dado da eleição para ser trabalhado em relação ao seu segundo governo?
Eu discordo de muitas opiniões porque de cada quatro pessoas, 27% aprovou o nosso governo. Ter um voto do eleitor no meio de um cenário tão adverso e com duas candidaturas bem polarizadas, uma à esquerda e uma à direita, e uma terceira candidatura já mais neutra, e fazer 27%, eu considero bastante interessante... Tenho o hábito de visitar com muita frequência, de circular muito nos bairros, de ir lá falar com as pessoas diretamente. Isso me ajudou muito no processo eleitoral.
As ruas, principalmente buracos, foi onde eu mais apanhei. E justamente onde nós tínhamos todo um projeto para fazer o capeamento (das ruas), muito antes da eleição, que já estava contratado o projeto. Mas, pelo excesso de chuva, pela perda da usina de asfalto, que às vezes passa batido, tu perde o britador e a usina de asfalto, no momento que tu mais precisa, tu fica praticamente sem força para poder reagir. As pessoas, legitimamente e com razão, reclamando dos buracos... Nós nem discutimos, tanto que fizemos vários processos de indenização de pneu e roda, para não deixar essas pessoas no prejuízo. Mas, hoje (as obras de capeamento) está andando, estamos tocando essas obras, inclusive com uma intensidade bem maior do que antes da eleição, porque no começo era só a Codeca, agora é a Codeca e a Encopav.
O que o senhor considera ser a principal marca da sua gestão?
Nós fizemos talvez os maiores investimentos da história na área da educação e conseguimos vaga na escola para todas as crianças que chegaram em Caxias num volume muito grande. Mais ou menos cinco mil novas vagas abrimos nesse período. Nós temos hoje 1,2 mil estudantes estrangeiros que não falam a nossa língua, que estão sendo ensinados a Língua Portuguesa para depois poderem ser alfabetizados adequadamente. Todos eles foram acolhidos, com cartão SUS, matrícula no colégio para todos eles.
Ao par disso, também acho que uma marca muito forte do nosso governo foi a regularização fundiária. Quantos anos se comentava, discutia, que tinha que fazer a regularização. Eu entreguei escritura para a pessoa que estava aguardando há 54 anos uma escritura. Isso é um processo que nós vamos ampliar a equipe, vamos acelerar muito nos próximos anos porque é o legítimo ganha-ganha. A pessoa que tem o título de propriedade e o município também que, após isso, começa a cobrar seu IPTU, a taxa de lixo, ou seja, traz esses moradores que são caxienses, que ajudaram a construir essa cidade, para formalidade também.
A situação do lixo esparramado nos contêineres persiste. A cidade e os moradores terão que conviver por muito mais tempo com essa questão?
Estamos trabalhando forte para coibir essa movimentação das pessoas tirando o material para fora, mas também estamos negociando com o Sinduscon duas coisas importantes: novos prédios licenciados em Caxias com 20 matrículas ou mais, eles terão obrigatoriamente de ter espaço de segregação interno e a Codeca vai recolher sem custo nenhum. Nós estamos negociando com o Sinduscon para que também, em seguida, a gente normatize como esses prédios vão fazer para ter o seu espaço de segregação interno. Porque não tem container que dê conta ao surgimento do empreendimento de 100, 130 novas matrículas. Ou seja, 130 famílias de repente saindo para colocar o seletivo num container no outro lado da rua que não vai ter capacidade de jeito nenhum. Não existe isso. Então, nós vamos trabalhar essa questão, já tivemos duas reuniões. Só não queremos botar a faca no peito de ninguém porque terão prédios que não vai ter como fazer e nós vamos ter que ter essa tolerância e entender que muitos prédios não vão ter espaço para fazer essa adequação. É um desafio que já viemos discutindo e com muito diálogo e paciência de todos os lados, nós vamos encontrar uma solução. Isso vai melhorar muito. Por enquanto, estamos pedindo que a Codeca faça mais do que uma coleta por dia nessa área dos contêineres, que já melhorou em vista do que era. Mas, tem que melhorar bem mais.
Nos últimos anos, tivemos problemas na gestão de obras, que tiveram paralisações, por exemplo. Já foi comentado sobre o seguro garantia, mas quais ações o município deve tomar para evitar que isso se repita?
Evitar paralisação é difícil porque, historicamente nós vínhamos há mais de 30 anos sem um estouro inflacionário como deu no pós pandemia. Isso pegou o mercado todo desprevenido. Ninguém imaginava que o aço fosse dobrar de preço de um momento para o outro. O dólar agora a R$ 6,20, se tu pegar as projeções que nós tínhamos de um ano atrás, ninguém imaginava que ia acontecer. E o processo de licitação brasileiro contempla quem faz o menor preço. Esse é um problema sério. Com o pregão eletrônico ficou pior ainda, porque daí se habilita uma empresa lá do escambau, vem e ganha. Nós tivemos várias licitações de repavimentação de passeio. O pessoal olha lá 10 ou 20 mil metros quadrados, cresce o olho, vem e participa, só que não se dá conta que é dois metros num lugar, três no outro, e o custo é bem diferente.
Para isso, temos melhorado muito o nosso processo licitatório, tanto que a Central de Licitação e a parte de projetos que vamos estruturar melhor, vai estar diretamente ligadas ao gabinete do vice-prefeito para ter alguém que fique com o olhar permanentemente em cima dessas questões, principalmente projetos. Nós vamos reforçar bastante a equipe que já existe, o escritório do projeto, e que todos os projetos do município sejam feitos só nesse escritório. Outra questão que nós vamos melhorar bastante, que identificamos e reconhece a nossa falha, é o planejamento das obras com relação ao seu impacto perante o trânsito e a fiscalização durante a obra. Essa obra da rótula da São Leopoldo que está acontecendo agora. O transtorno para o usuário é bem menor porque todas as pastas se reuniram, previram o desvio e previram a sinalização. Tem transtorno? Tem. O túnel da Matteo Gianella vai ser uma obra que vai incomodar muito, mas é necessária. É aquilo que eu dizia na campanha. O transtorno é temporário, o benefício será permanente.