Responsabilidade do município, a Educação Infantil vem sendo pauta há anos, especialmente nos debates eleitorais. O desafio é atender gratuitamente à população de Caxias do Sul com oferta de vagas. A fila de espera, em 2024, está com 2.834 mil crianças aguardando uma vaga nas escolas municipais, sendo todas da faixa etária de 0 a 3 anos. Porém, o problema afeta todo o Rio Grande do Sul, sendo o sétimo Estado com o maior déficit de vagas em creches no Brasil. São 38.835 crianças de 0 a 3 anos aguardando, conforme levantamento divulgado pelo Gabinete de Articulação para a Efetividade da Educação (Gaepe-Brasil) e pelo Ministério da Educação (MEC). No país, o déficit é de 632 mil vagas.
Para tentar solucionar o problema na cidade, a prefeitura de Caxias vem comprando vagas no setor privado. Atualmente o número chega em cerca de 4,5 mil vagas adquiridas, mas é necessário mais escolas. Com isso, surgiu o projeto de parceria público-privada (PPP) da Educação Infantil, que prevê para 2026 o atendimento de 7.306 vagas, sendo 2.244 para berçário, 2.934 para maternal e 2.128 para pré-escola. Todas elas são para crianças entre 0 e 5 anos.
A questão do ensino integral também é uma reivindicação antiga. Iniciada em 2014, atualmente o município conta com duas escolas de Ensino Fundamental de tempo integral na sua totalidade e uma que está no processo. Além disso, há 49 escolas de Educação Infantil e anos iniciais com tempo integral. No entanto, é preciso de mais instituições com esse perfil e trabalhar com outras formas de ensinar as novas gerações, principalmente com os índices de evasão escolar. Nos últimos três anos, mais de 1,2 mil alunos não estavam frequentando a escola e, até o final de 2023, cerca de 3 mil estudantes tinham fichas de aluno infrequente — têm faltas reiteradas, assim, não acompanham o conteúdo e podem se tornar candidatos ao abandono ou à evasão.
Desta forma, o Pioneiro entrevistou dois especialistas em educação para entender quais devem ser as prioridades na área nos próximos anos, bem como buscou as diretrizes e prioridades dos quatro candidatos à prefeitura de Caxias do Sul.
O que dizem os especialistas
Para o Doutor em Letras, professor da UCS e ex-presidente da Associação Criança Feliz (ACF), Delcio Agliardi, um dos eixos para melhorar o oferecimento da educação pública de qualidade é a gestão democrática e participativa da escola.
— Porque ela dá as condições para as pessoas que efetivamente entendem de ensino e aprendizagem falarem, porque tem muita gente se colocando como entendedor de educação, mas não é. E essa questão tem basicamente três grandes camadas: a gestão pedagógica, a gestão administrativa e financeira e a gestão das pessoas. Isso significa lidar com a comunidade escolar, onde a escola está inserida. E essa gestão democrática e participativa, ela tem que ser construída em contexto, cada bairro, cada região, porque as escolas são muito diversas entre si, tem histórias muito diferentes entre si.
Outros pontos que o professor destacou são os investimentos na formação dos professores e zerar as filas de espera.
— Não é de hoje que nós sinalizamos que, em 2040, a educação básica vai ter uma falta gigante de professores. Para ser específico, 235 mil professores farão falta (no país), então nós temos que começar a fazer agora um tema de casa, valorizando quem é professor. Além disso, eu nem sei se já é um sonho pedir para acabar com a fila de espera, se a educação é um direito de todos, ela tem que começar com o nível da Educação Infantil, então a prioridade dos governos municipais é cuidar da primeira infância, isso significa creche e ir para a escola, condição básica.
Um quarto elemento que Delcio frisou foi melhorar a infraestrutura das escolas.
— Sem dinheiro a gente não faz escola, não faz educação escolar, sem prioridades também não, e isso implica, por exemplo, melhorar a infraestrutura em todos os sentidos, porque tem gente falando de adotar a escola de internet, de wi-fi. Não, isso não é prioridade, prioridade é livro, é material de boa qualidade, é sala de aula adequada, é isso que as políticas públicas devem mirar, para depois a gente poder chegar a outras conquistas, entre elas o letramento digital.
A Pós-Doutora em Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres, doutora e mestre em Educação pela UFRGS, Especialista em Gestão do Ensino na Educação Básica e MBA em Gestão da Educação Superior pela UCS, Nilda Stecanela, mencionou a questão de projetar futuros em uma articulação equilibrada, olhando para o passado e presente. Ela também explica que o sucesso da educação não depende só dos professores, mas sim de todo um conjunto de pessoas.
— É preciso olhar para o passado, observar o presente e projetar futuros em uma articulação equilibrada de responsabilidades entre o poder público, a sociedade e suas forças vivas e produtivas, os professores, os estudantes, as famílias e a pesquisa em educação. Os processos educativos acontecem em todos os momentos e espaços da vida cotidiana, portanto, os professores não são os únicos responsáveis, tampouco são os únicos profissionais que devem se preocupar com os processos formativos e de socialização.
Nilda pontua a necessidade de valorização dos professores e melhorias na infraestrutura.
— Não se faz educação de qualidade sem financiamento e equidade. Isso significa: valorizar os professores com salários dignos e condições de trabalho adequadas; investir na infraestrutura das escolas, equipando-as com espaços de aprendizagem alinhados às exigências da contemporaneidade, tornando "a escola um espaço gostoso de ficar". E, portanto, fazendo com que a escola seja um tempo-lugar que acolhe a diversidade e respeita as diferenças.
A professora salientou a importância dos professores seguirem se aperfeiçoando.
— Não se trata mais de 'transmissão' de conteúdos, mas de promoção da construção de conhecimentos e de partilha de saberes. E isso não acontece naturalmente. É preciso uma formação continuada e permanente de professores, com base no que emerge do cotidiano escolar e nos saberes prévios dos estudantes como ponto de partida para a construção de aulas que dinamizem a relação pedagógica e considerem "as pessoas que moram nos alunos" e "as pessoas que moram nos professores".
O que dizem os candidatos
Adiló Didomenico (PSDB)
"Seguiremos investindo muito na educação como fizemos nestes quatro anos. Disponibilizamos uniformes completos para 42 mil alunos, inauguramos a sede nova da Central de Matrículas, o Centro Multidisciplinar de Educação (Cemape) e 7 escolas de Educação Infantil, inclusive a primeira no interior, e a ampliação de escolas municipais através do sistema modular. Também estamos implementando Centro de Intervenção Especializada para Autistas. Com a PPP da Educação Infantil, que já está em andamento, vamos construir 32 escolas com mais de 7 mil vagas. Falando em vagas, criamos 4,5 mil novas vagas neste período. Vamos criar o projeto "Mãe Canguru", um auxílio financeiro que permitirá que as mães fiquem em casa no primeiro ano de vida dos filhos. Seguiremos ofertando ensino de qualidade às crianças e adolescentes, com infraestrutura, recursos tecnológicos e atenção integral aos alunos e profissionais de educação. Ainda, vamos qualificar o sistema de verbas de manutenção emergencial das escolas."
Denise Pessôa (PT)
"A educação é prioridade em nossa atuação. No governo Denise e Alceu, ampliaremos as oportunidades e a qualidade do ensino, aumentando gradualmente as vagas em tempo integral na Educação Infantil e Fundamental, alinhados ao Programa Escola em Tempo Integral do Governo Federal. Trabalharemos para zerar a fila de crianças de até 3 anos que aguardam vaga em creche, priorizando famílias em situação de vulnerabilidade. Para isso, planejamos construir novas creches, escolas e salas de aula em escolas já existentes. Vamos melhorar as condições de trabalho e o apoio aos professores, e construiremos um programa permanente para garantir aulas de reforço a estudantes com defasagem de aprendizagem. Investiremos em quadras cobertas e ginásios e no Programa Caxias Mais Futuro, com atividades no contraturno. Fomentaremos o uso de novas tecnologias no ensino e apoiaremos a instalação da UFRGS aqui, que vai ser transformada na Universidade Federal da Serra, para fortalecer a educação regional."
Felipe Gremelmaier (MDB)
"A educação é uma prioridade. Com urgência, o nosso governo focará na Educação Infantil. Há necessidade de novas vagas, sejam através de PPPs, de construção de escolas ou de parcerias existentes com escolas privadas. Teremos uma política da Secretaria da Educação conjunta com as secretarias da área social e de segurança e proteção para fortalecer a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente. Umas das ações será retomar as Cipaves, programa lançado pelo (ex-prefeito José Ivo) Sartori na prefeitura, que depois foi expandido pelo Estado. Combateremos o bullying. Buscaremos recursos federais e estaduais para reformar nossas escolas e oferecer uma infraestrutura mais adequada e moderna. Queremos preparar alunos para o mercado de trabalho, promovendo cidadania. Formaremos crianças e jovens com competências para o Século 21, como pensamento crítico, criatividade e colaboração. Qualificaremos cada vez mais os professores e retomaremos o Núcleo de Atenção e Cuidado ao Profissional da Educação, com serviço social e psicologia para ampará-los."
Maurício Scalco (PL)
"Em nosso programa de governo, a educação ocupa uma posição central e indispensável. Nossa ambição é elevar Caxias ao patamar das cinco melhores cidades do Estado no ranking do IDEB. Para alcançar essa meta, desenvolvemos um plano estratégico e abrangente. Primeiramente, enfrentaremos o déficit de vagas escolares e da Educação Infantil, por meio de parceria público-privada (PPP), assegurando que toda criança tenha acesso a uma educação de qualidade. Modernizaremos as infraestruturas das escolas para proporcionar condições ideais para alunos e professores, com especial atenção à acessibilidade. Introduziremos o contraturno escolar e investiremos na capacitação contínua dos nossos professores. Além disso, estabeleceremos escolas cívico- militares para uma formação acadêmica robusta e disciplinada. Incorporaremos atividades extracurriculares focadas em cidadania e preparação para os empregos do futuro. Criar o Programa Família na Escola fortalecerá a colaboração entre alunos, pais e professores. Essas iniciativas visam não apenas aprimorar a qualidade da educação, mas também garantir um futuro brilhante para cada aluno."