O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve desembarcar na cidade na próxima sexta-feira (9), onde cumprirá agenda na Universidade de Caxias do Sul (UCS). A visita ocorre em tempos tumultuados para o governo federal diante do avanço da CPI da covid no Senado, recentes denúncias envolvendo supostos pedido de propina de integrantes do governo para aquisição de vacinas e participação de Bolsonaro no esquema de "rachadinhas" quando ainda era deputado federal. De qualquer forma, do ponto de vista institucional, a agenda é um fato importante, tanto pela aproximação do governo federal à produção de grafeno local (motivo da visita) quanto para o próprio município, que recebe um presidente da República.
— Independente de ser o Bolsonaro, sempre que temos visita do presidente, governador ou ministro temos que receber bem. É uma maneira de conquistarmos projeção para a nossa cidade, obras que precisamos. Quando estiveram outros presidentes Caxias sempre teve tradição de recebermos bem. Espero que desta vez também não seja diferente, concordemos ou não com todos os atos da Presidência, mas ele é chefe da nação. Discutir ou discordar vai vir no momento certo ano que vem, na época da eleição — afirma o prefeito Adiló Didomenico (PSDB).
No entanto, além da presença institucional de Bolsonaro, a figura política controversa que ele representa também suscita situações prováveis demonstrada por ele durante o período de pandemia. Uma delas é a resistência para o uso de máscara. O Pioneiro perguntou a Adiló que atitude a prefeitura deve tomar caso a situação ocorra na cidade. A expectativa do prefeito é que Bolsonaro entenda sua representatividade e simbolismo de exemplo para o país e, com isso, vista a máscara na sua passagem pela cidade:
— A gente já sabe que em vários lugares ele teve situações que recebeu notificações por parte da fiscalização. Eu entendo que ele deveria dar o exemplo. Qualquer um, qualquer dirigente, enquanto tiver obrigatoriedade do uso da máscara deveria usar, o próprio ministro da Saúde recomenda o uso da máscara.
O protocolo de distanciamento em vigência na cidade prevê multa de R$ 689,80 para quem circular sem uso da máscara na cidade.
"Imagina mandar um fiscal notificar o presidente"
O risco de Bolsonaro não aderir ao protocolo, contudo, não deve enquadrá-lo na penalidade prevista por decreto municipal. A desigualdade na aplicação da lei, em comparação aos efeitos previstos para a população em geral que desrespeita, também esbarra no próprio formato do evento, organizado pela universidade e pelo governo federal, segundo o prefeito.
— Eu acho que não (poderá ser multado). Imagina mandar um fiscal notificar o presidente. Primeiro que não consegue chegar perto. Mas acredito que ele usará (a máscara) — acredita Adiló.
Além disso, o prefeito afirma que a visita deve ser vista como uma oportunidade de aproximação, e não de hostilidade com o presidente:
— Nós não vamos hostilizar ele. Está vindo prestigiar um assunto da mais alta relevância tanto para a universidade quanto para Caxias e até para o país. Então, queremos tirar o maior proveito dessa vinda dele para divulgar e buscarmos ações do governo federal em torno desse produto que é a riqueza do futuro.
Apesar de o presidente se negar a usar máscara em diversas ocasiões, Adiló ainda vê no equipamento o símbolo de proteção e contenção do vírus:
— Eu, enquanto prefeito, procuro dar exemplo. Uso a máscara direto, desde começou, na época quando era vereador ainda. Fui o primeiro vereador que pediu uso da máscara e até hoje a estatística mostra que eu estava certo. (...) Uso da máscara até hoje é necessário e importante.
O prefeito informou que ainda não recebeu convite oficial para participar da visita de Bolsonaro, embora já tenha sido comunicado pela Fundação Universidade de Caxias do Sul (Fucs) que seu nome constará no protocolo.
SMU AVALIA
A Secretaria Municipal de Urbanismo é a responsável pela aplicação dos protocolos de segurança e de combate à covid-19. O titular da pasta, João Uez, reforça a dificuldade de acesso ao presidente para notificá-lo caso ele desrespeite o uso da máscara em locais públicos.
— Se ele estiver em local público, ele tem de fazer a utilização. Se ele estiver em local privado, uma sala, por exemplo é uma questão da organização do local. Acredito que vai ser difícil algum fiscal se aproximar dele para entregar uma notificação, até porque tem toda a parte de segurança.
Ainda assim, o secretário diz que a questão está sendo analisada para adoção de possíveis "providências cabíveis".
— Está passível de fiscalização, como qualquer cidadão — afirma.
No entanto, para aplicação de multa, segundo ele, seria preciso notificar o presidente no flagrante da irregularidade.
Entrega de prêmio ainda incerta
Até a tarde desta segunda, a Câmara de Vereadores ainda não havia recebido confirmação de participação na visita do presidente Jair Bolsonaro a Caxias do Sul na próxima sexta-feira. Com isso, torna-se incerta a entrega do Prêmio Caxias do Sul ao presidente.
— Ainda não tem nada confirmado, nem sei se vai acontecer, precisamos receber o retorno — afirma o presidente do Legislativo, Velocino Uez.
Também até ontem, não havia sido instalada a identificação com o nome de Bolsonaro no troféu da distinção que será entregue a ele.