Candidato do PT, Pepe Vargas foi o nono a ser ouvido pela Rádio Gaúcha Serra dentro da série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Em 20 minutos, o deputado estadual, que já foi prefeito por duas gestões, deputado federal e ministro do Desenvolvimento Agrário, da Secretaria de Relações Institucionais e da Secretaria de Direitos Humanos, respondeu perguntas sobre pandemia, saúde e geração de trabalho e renda. Também falou sobre a Maesa, transporte coletivo e agricultura.
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A entrevista foi ao ar durante o programa Gaúcha Atualidade, na Gaúcha Serra, na manhã desta quinta-feira (5), programa conduzido pelos jornalistas Tales Armiliato e Babiana Mugnol. Confira:
Caso for eleito, como irá enfrentar a pandemia na cidade?
Enquanto não tiver a vacina, nós teremos que fazer uma estratégia de bloqueio da transmissão do vírus, uma forma mais eficiente envolvendo a ampliação dos testes das pessoas que são sintomáticas, que têm sintomas compatíveis com a covid. Hoje se testa pouco, tem que testar mais. As pessoas que fazem sintoma têm que fazer teste, ficar em quarentena, fazer a busca ativa de todos os contatos e testá-los também. Com isso, a gente diminuirá o número de pessoas circulando com o vírus e, ao mesmo tempo, fazer um teste de telessaúde para monitorar as pessoas que estão em quarentena com o objetivo de fazer uma internação precoce em enfermaria, sempre que houver persistência de sintomas e também se as pessoas tiverem algum desconforto respiratório. Essa estratégia, onde foi desenvolvida, reduziu o número de pessoas que vão para a UTI e consequentemente é a forma mais efetiva, inclusive, de proteger a nossa economia, cuidando bem da saúde. Eu sei do que estou falando, porque sou médico e consequentemente tenho conhecimento sobre a área da saúde. Essa será a forma efetiva que combateremos a pandemia e, com isso, protegendo a nossa economia.
Em um eventual governo seu, como ficariam as gestões das UPAs? O governo tem a intenção de retomar a gestão? O município teria condições de administrar duas UPAs? E o senhor pretende construir e colocar em funcionamento outras UPAs e onde?
Primeiro, quero dizer que é um equívoco pensar saúde a partir de UPA e hospital. UPA e hospital é importante, mas a primeira coisa, que eu vejo muito pouco os candidatos falarem, é sobre a organização da atenção básica à saúde. Isso significa ampliar as equipes de saúde da família, significa ampliar, se necessário, em algumas regiões da cidade a construção de novas unidades básicas de saúde. É isso que desafoga a unidade de pronto-atendimento. Quando a atenção básica não é bem feita, a unidade de pronto-atendimento acaba tendo de acolher todas as pessoas que não conseguem consulta na unidade básica de saúde. Hoje é isso que está acontecendo em Caxias. Vamos reforçar a atenção básica, ampliar as equipes de saúde da família, construir mais unidades básicas de saúde. Com isso, vamos desafogar a unidade de pronto-atendimento. E a gestão do Sistema Único de Saúde na cidade tem que ser pública, obviamente, porque é preciso fazer uma integração mais efetiva entre os diversos serviços. Nós teremos uma gestão pública sobre o Sistema Único de Saúde, vamos ampliar os serviços, vamos ter que fazer mutirões para resolver o problema das longas filas de consultas especializadas, cirurgias e exames especializados que estão represados. Eu já fui prefeito da nossa cidade e a população de Caxias sabe que fui um prefeito que priorizou a saúde. A saúde vai voltar a ser prioridade em Caxias do Sul na nossa administração.
Qual será o foco de um governo de Pepe Vargas, se chegar pela terceira vez ao comando da cidade?
Considerando o momento em que a gente vive, a saúde e a geração de trabalho e renda terão que ser as grandes prioridades. É óbvio que a educação tem questões importantes. Nós ainda estamos com a pandemia. É a saúde que vai proteger a economia. Se a saúde não funcionar, a economia viverá dificuldades e a economia é importante para ajudar a saúde. Saúde e economia têm de andar de mãos dadas. Essa é a forma mais efetiva de toda a nossa economia girar, funcionar e gerar emprego e renda. Essas duas questões são fundamentais e terão que ser grandes prioridades. Para isso, a prefeitura vai ter que se reinventar. A administração pública tem que passar por um processo de inovação. É inadmissível que a prefeitura de Caxias do Sul, considerando a época em que nós vivemos, não tenha feito investimentos em tecnologia da informação e praticamente nada acontece na área digital. A maioria dos serviços que as pessoas precisam acessar na prefeitura poderia já estar ocorrendo de forma digital, sem as pessoas tendo que ir em uma repartição pública. Essas questões são fundamentais para a gente ter uma cidade realmente que garanta trabalho, emprego, renda, que melhore os serviços públicos, que atraia empresas para gerar trabalho para nossa população.
Como será a articulação política? Qual será a estratégia de governo com a Câmara se a Câmara não tiver a mesma representação que o partido já teve quando o senhor foi prefeito?
Governei por oito anos e nunca tive maioria de vereadores na Câmara, mas tínhamos um diálogo com a Câmara de Vereadores, respeitávamos o Poder Legislativo e tínhamos grande diálogo com a população. E essa população que dialogava com o governo também conversava com os vereadores. Por isso eu não tive nenhum grande sobressalto na aprovação de projetos. Eu terminei a minha gestão com 92% de aprovação popular segundo as pesquisas da época. Isso significa que mesmo as pessoas que não votaram em nós concordaram que nós fizemos um bom governo. Por isso que eu tenho dito para as pessoas: "olha, você sabe como foi o nosso governo." Portanto, estou pedindo voto para as pessoas com base naquilo que elas têm como avaliar, de como a gente governou. Eu o Cláudio Libardi, que é o nosso vice, queremos fazer um governo com participação popular, com Orçamento Participativo, discutindo com a Câmara de Vereadores, discutindo com todos os setores da população. Nós vamos governar para todos, independente do partido que a pessoa tenha como preferência, é um cidadão de Caxias e terá atenção do nosso governo.
Em abril de 2018, em apoio ao ex-presidente Lula, o senhor adotou o nome parlamentar Pepe de Lula Vargas. Seus adversários exploraram muito isso de forma crítica. Como o senhor avalia essa atitude, e isso lhe prejudica politicamente?
Foi um movimento que fizemos no sentido de dizer que todo cidadão que sofre alguma acusação tem que ter direito ao devido processo legal, coisa que não estava sendo garantida a ele naquele momento. É importante que as pessoas saibam que ele ainda não tem uma condenação com trânsito em julgado e, assim como outras pessoas que não tem uma condenação com trânsito em julgado, ele e qualquer cidadão têm esse direito. Agora, essa pergunta também deveria ser feita a quem apoia o Aécio Neves, para quem apoia Eduardo Cunha e o Geddel Vieira Lima, porque a maior parte dos partidos teve problemas e pessoas indiciadas pela Lava-Jato. Não foi só o PT. Eu não fui indiciado pela Lava-Jato. Eu tenho uma vida pública limpa, nunca respondi sequer um processo. Aliás, o único processo que respondi foi quando eu era vereador. Os vereadores se autoconcederam um aumento de 99%, eu fui contra, devolvi a diferença dos valores e aí um cidadão entrou com uma ação popular contra os vereadores e eu fui absolvido, os outros foram condenados, porque eu já tinha devolvido os valores e me manifestado contra esse aumento. Então, eu não tenho nenhum receio de debater essa questão.
O senhor disse no horário eleitoral que, no primeiro ano de governo vai lançar licitação para concessão e construção pela iniciativa privada da primeira fase de veículo leve sobre trilhos, o VLT, reutilizando o trajeto do antigo trem. Esse tema já foi abordado em outras eleições, mas não avançou. Qual seria o papel do município nesse projeto? É um compromisso seu, se for eleito?
O que foi abordado em outras eleições foi a questão do trem regional, mais do que o VLT. Na realidade, esse projeto do VLT é um debate mais recente, mais novo. Não temos a menor dúvida que Caxias precisa rumar para projetos que sejam mais audaciosos. Não podemos pensar pequeno, Caxias tem que pensar grande. Se a gente quer que Caxias vá para a frente novamente, temos que pensar nos novos modais de transporte, não só o VLT, mas inclusive uma cidade cicloamigável. Nós temos propostas que são muito baratas para viabilizar espaços para quem usa bicicleta, seja para o lazer, seja para o trabalho. E o VLT é, como a gente colocou, uma licitação pública, não envolverá recursos públicos. Existe projeto já desenvolvido por técnicos da prefeitura que pensa todo esse trecho que vai dos atuais trilhos do trem, do bairro Floresta até São Pelegrino, que é mais do que um VLT. Ali, inclusive, tem que ter dialogo com um projeto econômico, porque se você faz esse projeto vai atrair para aquela região empreendimentos na área do entretenimento, do lazer, o que incrementará o turismo. O VLT será uma prioridade. Isso significa fazer o projeto e lançar o edital de licitação pública para quem vencer implantar o VLT. E nós temos, inclusive, aqui em Caxias uma fábrica que produz VLT, o que vai gerar emprego e renda em Caxias.
Como o senhor pretende tornar atrativo o transporte coletivo? O senhor chegaria a traçar um preço para a tarifa do ônibus?
O preço da tarifa é um cálculo matemático, técnico, que leva em consideração um conjunto de fatores. O que é preciso é um movimento para redução da tarifa, não só em Caxias, no Brasil inteiro. Vamos nos articular com a Frente Nacional de Prefeitos, que já tem um debate em curso junto ao Congresso Naciona,l para a criação de um grande fundo de subsídio ao transporte coletivo. Nos anos 1980, o que salvou o transporte coletivo urbano foi o vale-transporte. Nós precisamos novamente de um grande movimento nacional que crie alternativas para o barateamento das tarifas. Isso significa, por exemplo, reduzir a tributação sobre os insumos do transporte coletivo, tanto a tributação federal quanto a estadual e a municipal. Por isso que tem que ser um movimento articulado, que leve em consideração deliberações do Congresso Nacional, da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores. Nós inseriremos Caxias nesse grande debate com o objetivo de reduzir a tarifa e também criar fontes de receita para um fundo nacional, fundo estadual e fundo municipal de transporte público para subsidiar a tarifa, reduzir o valor. O grande problema hoje é o preço da tarifa. Caxias precisa discutir definitivamente o seu plano de mobilidade urbana, coisa que não foi feita. Tem que discutir todos os modais e não só o transporte coletivo de passageiros por ônibus urbano.
O senhor foi ministro do Desenvolvimento Agrário. O que pretende realizar para a agricultura familiar, setor muito importante para a economia da Serra?
São três questões que precisamos para a agricultura: o apoio para a infraestrutura das estradas rurais, seja a continuidade do asfaltamento, seja a manutenção das estradas não asfaltadas. O apoio à infraestrutura dentro da propriedade, porque também tem uma parte do escoamento da produção que é dentro da propriedade. Nós fizemos lei no passado para viabilizar o apoio à infraestrutura dentro da propriedade, temos que retomar isso. O apoio à produção em si. A prefeitura de Caxias não tem mais, praticamente, assistência técnica para os agricultores, nós vamos retomar a assistência técnica. Vamos retomar com muita força o apoio às agroindústrias. As agroindústrias de Caxias foram praticamente aniquiladas. Não fosse a Cooperativa dos Agricultores e Agroindústrias Familiares (Caaf) de Caxias do Sul, hoje não teríamos mais agroindústrias. É a Caaf que está dando apoio, a prefeitura não tem dado mais apoio. Vamos retomar isso com certeza. E o apoio à comercialização, seja através de feiras, mas também usando as compras da prefeitura. A prefeitura precisa fazer merenda escolar e nós vamos comprar a merenda de acordo com a lei federal que prevê isso. Quando eu era ministro do Desenvolvimento Agrário, nós fizemos a lei do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que permite que as prefeituras comprem direto dos agricultores familiares do próprio município para que tenham produtos de boa qualidade. Isso melhora a renda dos agricultores e a qualidade da merenda. E não é só para a alimentação escolar. Os programas assistenciais, o Banco de Alimentos também pode comprar direto dos agricultores familiares. Além das feiras, vamos usar o instrumento de compras públicas para estimular a comercialização dos produtos da agricultura familiar, inclusive dos agricultores que produzem de forma orgânica. Apoiaremos aqueles que queiram fazer a transição agroecológica para que a gente amplie esse mercado, porque a agricultura orgânica também agrega mais renda para o agricultor.
Quais os planos para a Maesa?
O nosso plano é transformar aquele espaço em um exemplo concreto de economia criativa. Isso significa que tem um vetor cultural, lá tem espaços para a realização de atividades culturais. Há um outro vetor que é o vetor do entretenimento e do lazer, onde a cultura obviamente dialoga. Lá queremos que tenha restaurantes, cafés, bares. Outra vertente é do comércio em geral: livrarias, mercado público. E há uma vertente que é a vertente de um centro de inovação tecnológica, que queremos estabelecer lá para estimular startups e uma série de outras questões. Portanto, é um eixo cultural, econômico, por isso chamo de um grande espaço de economia criativa. Parte dos recursos que serão aplicados lá terá que ser recursos públicos, mas tem outra parte dos recursos que será da iniciativa privada. Quando digo que queremos abrir para restaurantes, também estou atraindo investidores que terão que aplicar recursos para a gente ir, progressivamente, recuperando aquele enorme espaço. A Maesa é uma vertente econômica para o município.
O senhor colocaria ali secretarias?
Não, muito pouco. Querer transformar aquele espaço num espaço de secretarias municipais é uma visão pequena, é uma visão que abriria mão disso que eu estou chamando de um grande exemplo de economia criativa. Nós queremos a Maesa como algo que faça rodar a cultura, o turismo e a economia da cidade, e não como um espaço para albergar órgãos públicos exclusivamente.
Sobre educação infantil, qual seu plano concreto para essa situação?
É importante dizer que a educação infantil é uma obrigação do poder público e um direito das crianças. Faz já alguns anos que o Congresso Nacional votou e mudou a lei dizendo que crianças de quatro e cinco anos têm direito à educação e é uma obrigação do Estado viabilizar as vagas, coisa que lamentavelmente a prefeitura de Caxias não fez. Nós vamos priorizar, e isso significa ampliar escolas já existentes, construir escolas novas e, enquanto esse movimento é realizado, obviamente, vamos ter que fazer convênios e eventualmente comprar vagas. Mas o objetivo é ampliar e construir novas escolas e garantir esse direito, que é uma obrigação da prefeitura.
Ouça a entrevista: