Durante pronunciamento na sessão desta terça-feira sobre a portaria que regula o manuseio de carnes em pequenos estabelecimentos comerciais, o vereador de Caxias do Sul Adiló Didomenico (PTB) disse que a dona de casa é a melhor fiscal de açougues e que a mulher, por sua sensibilidade e capricho, é capaz de saber se um estabelecimento merece ou não ser frequentado:
– O melhor fiscal que tem para o açougue é a dona de casa, vocês não tenham dúvida. Não é o dono mercado, não sou eu...
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A declaração do parlamentar caxiense lembra o episódio envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB) no dia 8 de março. Durante a cerimônia em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Temer afirmou que as mulheres têm uma "grande participação" na economia porque ninguém é mais capaz do que elas para "indicar os desajustes de preço no supermercado e ninguém é melhor para detectar as eventuais flutuações econômicas, pelo orçamento doméstico maior ou menor".
Confira o discurso do vereador Adiló Didomenico:
VEREADOR ADILÓ DIDOMENICO (PTB): A Portaria nº 146/2017 que regula o manuseio das carnes nos pequenos açougues, pequenos mercados, nós podemos chamar ela da lei Friboi ou lei JBS, porque todas as informações que nos chegam é que essa ideia nasceu e foi gestada por esses grandes frigoríficos. O ano passado, antes do problema ser deflagrado o Carne Fraca. E lamentavelmente o Ministério da Agricultura e a Secretaria da Agricultura aqui do Estado e a Secretaria da Saúde se prestaram para embarcar nesse pacote furado que é apoiar a iniciativa dessas grandes cadeias de frigoríficos. Não conseguiram fiscalizar esses frigoríficos, causando prejuízo enorme à nação e agora querem liquidar com o pequeno açougue, com o pequeno mercado de bairro, e, acima de tudo, dar um xeque-mate na tradição e nos costumes do povo gaúcho que tem essa tradição. E não é por portaria que se muda a tradição, se muda os costumes de um povo. Me admira o secretário Gabardo, o secretário Ernani Pólo, que é um político, que é um homem de origem, do interior, entrar nessa canoa furada. E o pior de tudo, está sendo o apoio de grandes supermercados.
VEREADOR EDSON DA ROSA (PMDB): Concede um aparte, vereador.
VEREADOR ADILÓ DIDOMENICO (PTB): Depois, se possível, vereador Edson. Eu quero só complementar aqui, porque o mais estarrecedor de tudo isso é a declaração do presidente da AGAS, quem deveria estar defendendo os pequenos varejos, os pequenos supermercados, ele dizer o seguinte: [...] novas adequações não vão prejudicar a operação de pequenos varejos. [...] Esta adequação vai gerar mais vagas de empregos na cadeia da indústria" [...]. Por favor, aí passa do limite. Que pena que eu não tenha mais supermercado, porque isso aí, olha... Mas eu fui supermercadista, com muito orgulho, muitos anos. Onde que se viu não poder cortar uma galinha congelada para a dona de casa levar para casa para fazer a sopa? Ela tem que ir para casa, pegar um facão e trucidar essa galinha em cima da pia. Não poder preparar um guisado de manhã cedo para atender o fluxo no sábado, que é onde o pequeno mercado faz movimento. Não, tem que moer na hora. Isso vai encarecer de 6 a 10% o custo do guisado, porque vai ter que se colocar mais açougueiro só por um dia, só por um dia, durante a semana eles vão ficar às moscas. Não pode cortar uma chuleta, não pode... Ou seja, não pode vender mais peças de aves separadas, sobrecoxa. Nós tivemos um frigorífico que abatia ovelha aqui em Vila Seca, histórico, do Pasquali, que trouxe grandes benefícios para a economia de Vila Seca, para os açougues de Caxias. Fechou, porque não aguentou a fiscalização da saúde, da higiene, da agricultura. E eu não estou culpando a fiscalização nossa aqui do Município, porque eles estão apenas cumprindo uma lei que é parecida com a Lei Kiss. Essas leis absurdas, feitas por pessoas de gabinete, que nunca foram nem sequer com a sua mãe de mão dada frequentar um açougue. Nunca foram fazer compras no açougue. Então essas pessoas que saem da academia... E aqui cabe muito bem o ditado para algum desses, que faculdade alisa o pelo, mas não encurta as orelhas. A pessoa tem que aprender no dia a dia o que é um açougue, ir para dentro, observar como se faz o desdobramento de uma peça, de um traseiro, de uma paleta para ver o aproveitamento que se faz para chegar com um custo razoável na casa da dona de casa. E o melhor fiscal que tem para o açougue é a dona de casa, vocês não tenham dúvida. Não é o dono mercado, não sou eu... Só para concluir, senhor presidente. É a mulher. Pela sua sensibilidade, pelo seu capricho, pelo seu olhar observador, ela vai saber se o açougue merece ou não merece ser frequentado. E eu tenho certeza de que a fiscalização nossa aqui do Município está constrangida em ter que cumprir essa lei, porque vai fechar, inclusive, o açougue que eles frequentam. Era isso, senhor presidente. Muito obrigado.