O candidato à prefeitura de Caxias do Sul, Edson Néspolo (PDT) rompeu o silêncio de 54 dias após o segundo turno quando perdeu a eleição para Daniel Guerra (PRB). Desde o dia 30 de outubro, as únicas manifestações públicas sobre a eleição tinham ocorrido em duas reuniões da Executiva do partido e em uma reunião com os integrantes do diretório, no início de dezembro. Néspolo atribuiu a derrota a dois motivos: a onda de mudança que atingiu o país e Caxias do Sul e a ele próprio.
– Quero falar o momento todo: se teve erro, foi do candidato a prefeito. O resto é bobagem.
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Além de assumir a culpa pela derrota, o pedetista evitou comentar sobre as manifestações de integrantes da coligação que têm apontado erros na condução da campanha. Sobre seu futuro, Néspolo comenta que tem quatro convites de trabalho, mas ainda não definiu se permanece no serviço público ou retorna para a iniciativa privada.
Apesar de falar sobre a derrota, nitidamente o tema ainda incomoda o pedetista. Cuidadoso com as palavras, Néspolo evitou responder às críticas, por exemplo, do secretário municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Manoel Marrachinho (PTB), que afirmou que Néspolo não havia feito uma defesa “intransigente” do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM) Caxias durante a campanha.
Néspolo conversou com o Pioneiro, por telefone, na última sexta-feira. Confirma a entrevista na íntegra.
Pioneiro: Qual sua avaliação do resultado da eleição?
Edson Néspolo: A avaliação foi feita dentro do partido com duas reuniões da Executiva e com uma no diretório. Perdemos. O povo quis mudar e não tem o que fazer. O dia que a gente perdeu eu parabenizei quem ganhou. O foco não somos nós, mas é quem ganhou, o que ele prometeu e o governo que ele (Daniel Guerra) está montando. A prioridade é ele. A eleição passou há dois meses e ninguém mais está interessado. Estou indo para rua e só recebo carinho e palavras maravilhosas. Porque perdemos falamos no dia. O povo quis mudar e a gente respeita.
A onda de mudança foi o único motivo da derrota?
Não. Teve várias coisas. Cada um fez uma avaliação. Só interessa para os relatórios que a gente montou depois da eleição. Quando se perde uma eleição, os defeitos afloram mais. Mas isso é uma avaliação dos erros para a gente poder consertar ali na frente. Não interessa muito para ninguém. Tu pode ter uma avaliação, eu posso ter outra e, dentro do partido, eu vi que teve sete, oito pessoas que falaram coisas diferentes. Cada um tem uma opinião, mas, no geral, o que mais pesou no segundo turno foi a questão da mudança. O relatório que a gente tirou no partido vai ajudar certamente para estruturar melhor para as próximas (eleições). Quando tu ganha, também tem defeitos, só que não afloram.
O candidato a vice Antonio Feldmann afirmou que, além da onda de mudança, teve o desgaste dos 12 anos dos governos Sartori e Alceu. Concorda?
Se eu faço essa afirmação, posso estar achando defeito neles, e não estou aí para isso. Por isso é difícil (fazer uma avaliação). Quando a gente fala em mudança, essa dedução é quase lógica, é quase óbvia. Não quero levar para esse lado porque alguém pode estar interpretando que alguém prejudicou, e ninguém prejudicou. Quero falar o momento todo: se teve erro, foi do candidato a prefeito. O resto é bobagem. Um tem uma interpretação que o partido A ou B não deveria ter vindo (coligado). Cada um faz a sua interpretação, mas agora, neste momento, não constrói nada. A gente tem que ficar focado nos interesses da cidade, torcendo para que as coisas deem certo, e ajudar no que pode. Acho que falar publicamente (sobre a derrota) não leva a nada e também desmerece uma vitória que o povo quis. Estou mais nessa de respeitar o resultado. O resto é para consumo interno.
Como tem sido a recepção das pessoas depois da eleição?
Já encontrei tanta manifestação de carinho por onde ando na rua... É uma coisa impressionante. Quero ficar com esse momento de muito carinho e de muita consideração. Está tão bom o momento para mim.
Como avalia a manifestação do secretário Marrachinho (que a defesa no SIM Caxias na campanha não teve a ênfase necessária)?
É a opinião dele, eu respeito. Acho que defendi muito o SIM. O Marrachinho é um bom técnico e não vou desmerecer ele. Eu defendi o SIM, defendi o Sartori e não fui desleal com ninguém. Aliás, quem um dia me ajudou eu fui leal e é o meu princípio de vida a lealdade. Pelo amor de Deus, eu defendi o SIM, mas não vou entrar em polêmica com o Marrachinho. Eu respeito ele e pronto.
O senhor recebeu uma sondagem para comandar a Gramadotur?
Não.
O que pretende fazer em 2017?
Eu falei com muita gente de um mês para cá sobre propostas de trabalho para o ano que vem. É uma coisa que me gratifica tanto e nem imaginava que teria convites tão bons quanto eu tive. Acho que em 10 dias devo definir qualquer coisa e meus planos para onde vou. Tenho duas propostas do setor privado, uma de mista e uma pública, e não sei bem o que vou fazer.
Qual a sua avaliação sobre o pacote de medidas do governo José Ivo Sartori?
Acho que são medidas duras, mas, na situação que estava o Estado, são necessárias. Infelizmente, tem pessoas que foram prejudicadas, mas entendo que é para preservar o Estado.
Entrevista: Edson Néspolo (PDT)
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André Tajes
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