Presidente do PDT em Caxias do Sul e articulador decisivo das coligações vitoriosas de José Ivo Sartori (PMDB) e Alceu Barbosa Velho (PDT) nas últimas eleições municipais, o ex-vereador e atual presidente da Festa da Uva Edson Néspolo não fala em voltar ao protagonismo após o evento de 2016.
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Néspolo defende a candidatura de Alceu Barbosa Velho (PDT) e do vice Antonio Feldmann (PMDB) à reeleição, esquiva-se sobre concorrer no ano que vem, critica a posição ambígua do partido em relação ao governo Dilma e lamenta o fracasso da reforma política.
A presidência da Festa da Uva pela segunda vez garante projeção politica. Pensas em concorrer em 2016?
Não. Não é minha ambição. Não me empolgo. Estou feliz na Festa da Uva. De jeito nenhum. Faço festa da uva pela paixão que tenho há 20 anos, comecei lá com Nestor Perini. A Festa é muito maior do que nossos desejos ou ambições pessoais. De coração, não penso em concorrer.
No ano passado, na época da definição das candidaturas do PDT, o senhor teve em uma reunião interna uma postura forte, lembrando a sua saída estratégica em prol de um projeto maior e colocando que em determinado momento gostarias até de voltar a uma posição de protagonismo.
Até tem isso, mas antes de falarmos qualquer questão sobre isso, primeiro que não é a minha ambição pessoal, e segundo, porque eu faço parte de um grupo que tem um prefeito e um vice e que eu defendo a continuidade deles. Quanto à minha situação de presidente do PDT, eu vou defender sempre o fortalecimento do partido, melhorar as candidaturas, ter quadro completo de mulheres concorrendo. Se eu for fazer tudo isso, obviamente que eu não vou pensar em mim. Vou pensar primeiro no partido. Então, tudo isso demonstra que eu não estou com ambição pessoal. Na Festa da Uva, se eu ficar aqui e puder contribuir cada vez mais nessa questão do turismo, na questão do parque temático, eu acho que dou uma contribuição muito maior do que tendo um cargo comum.
O então prefeito Sartori cunhou uma frase que se consolidou: "Eleição só depois da Festa da Uva".
E o Alceu está igual. Mas eu acho que é isso, porque a Festa da Uva é o foco do prefeito. Ele está querendo manter esse foco mesmo. As coisas vão se decidir mesmo em março, abril. Então, não tem porque precipitar uma questão que está muito cedo para falar.
Um sobrinho de Alceu chegou a dizer que a família defendia que ele não concorresse à reeleição. Como isso repercutiu no PDT? Existe mesmo essa possibilidade?
Mas isso é para as pessoas também verem, acham que ser um gestor de uma cidade é tudo uma maravilha. Eu convivi oito anos com o Sartori, convivo com o prefeito Alceu. É uma pressão, é uma dificuldade econômica, é lidar com vários setores, ser taxado injustamente por algumas coisas, então é natural que a família reaja desta forma. Mas o prefeito tem sido muito sólido, muito firme nas suas convicções e vamos respeitar essa decisão dele de se manifestar depois da Festa da Uva.
Se Alceu não for, Néspolo é uma opção?
Não. Não, pelo seguinte: primeiro eu entendo que quando tu desmanchas uma chapa, tu começas tudo do zero. Eu defendo que tenha uma caminhada sendo construída por vários anos. É muito complicado se mexer nos membros das chapas.
Como está a relação PDT e PMDB?
Muito bem. Nós estivemos com o governador Sartori na semana passada e a gente vê o carinho que o Sartori tem com o Alceu, o Alceu com o Sartori. Aqui nós estamos trabalhando na Festa da Uva com pessoas de vários partidos. Eles têm, claro, uma luta por espaço, mas eu acho que não tem um caminho para a próxima eleição de PDT sem PMDB e de PMDB sem PDT. E também com os outros partidos que, hoje, estão juntos.
O caminho natural é repetir a chapa Alceu e Antonio Feldmann?
É repetir a chapa.
Tem alguns movimentos como, por exemplo, a entrada do Ovídio Deitos no PP, o PSB fazendo um programa de governo.
Por isso que eu digo, se nós quisermos mexer muito na chapa tu talvez dê opção para tudo isso. Mas, claro, isso é uma coisa costurada, formal. E essas coisas vão surgir, porque também é um grito de liberdade. É o momento do partido poder se colocar em uma situação de protagonismo, muitas vezes até para poder estar presente no dia a dia de uma administração. Então é tudo normal. Agora vai da realidade das pessoas que estiverem construindo o processo, mantê-los todos juntos. A gente vê que a nossa coligação começou lá em 2004, com cinco ou seis partidos e ano após ano só foi aumentando. Então, é fruto também de que as coisas são bem conduzidas por quem tem cabeça.
Não achas que aumentou demais? Partidos com representação no Legislativo, com densidade, são seis ou sete.
Mesmo assim nós temos uma oposição contundente, firme. Então, a gente tem um espaço para a oposição se manifestar. Dos partidos, tu não ouves dos que fazem parte que tem problema. Então, claro, tem luta por ampliar espaço, isso é normal. Agora eu não vejo isso como problema. Até porque, dos prefeitos que eu participei, o Sartori e o Alceu, eles sempre tiveram seis ou sete pessoas sem filiação partidária. É uma coisa muito tranquila.
O PCdoB, que aderiu depois da campanha, permanece?
Eu defendo, porque sou uma pessoa de esquerda. Eu defendo o PCdoB também, porque é uma voz de uma outra linha que a gente tem que ouvir e respeitar. Então, acho que a gente conviver com pessoas que pensam diferente também é uma questão de grandeza e também nos orienta para que a gente saiba tratar pessoas que pensam diferente. Então, eu defendo o PCdoB.
Os partidos fazem pesquisas internas. O que vocês têm sobre a avaliação do prefeito Alceu?
Nós fazíamos pesquisas constantes com dois anos e meio de governo do prefeito Sartori e não era nada diferente do cenário que a gente vê nos dois anos e meio do prefeito Alceu. O prefeito Alceu está em um bom momento e acho que vai crescer. Com a entrega das obras no final do ano, principalmente do SIM Caxias, ele já tem uma quantidade de obras bem grande. A gente vê que em todos os municípios quase estão estagnados. Caxias tem obras para todos os lados. Então, é uma tendência natural. Muita gente se apavora quando tem críticas, mas é normal do momento. É claro que o prefeito tem defeitos, mas ele é uma pessoa séria, trabalhadora, honrada, e vai crescer muito para chegar em um bom momento para a eleição do ano que vem.
Algumas promessas da campanha dificilmente serão cumpridas, como os viadutos que pararam no governo federal. Tem também o déficit na educação infantil. Como lidar com essas cobranças na campanha?
Eu acho que é normal. Na educação infantil nós vamos provar que foi feito nesses três anos uma quantidade de escolas muito grande. Lógico que se Caxias cresce tem demanda. Tem necessidade de fazer mais? Tem. Essa questão dos viadutos, os projetos estão elaborados. Nós precisamos de um empréstimo, nada a ver com o governo federal, porque é o município que paga, mas pelo momento econômico está sendo segurado lá por questões de impactar na dívida externa. Mas também deve estar se resolvendo. Tem muita perspectiva dos dois viadutos que foram prometidos estarem em obras até metade do ano que vem. Os asfaltos do interior, a entrada do bairro Planalto, tem muita coisa boa que tem cenário de que ainda pode acontecer. Então eu acho que o prefeito Alceu vai cumprir praticamente todas as promessas que fez na campanha. Além das lutas também para colocar o aeroporto regional, ninguém tem lutado mais que o prefeito. E a questão, que é mais complexa, que é a do trem. O prefeito tem lutado por essas causas que prometeu na campanha.
Tens conversado com Sartori?
Muito, muito. Seguidamente por telefone e pessoalmente. Nós temos uma amizade e uma relação direta de oito anos.
O que ele fala sobre a situação do Estado?
Ele está angustiado, está preocupado, mas ele está muito firme. Além de ter pego uma situação pior do que se imaginava, pegou um cenário econômico horrível agora. Então, não tem milagre. As pessoas podem criticar o Sartori no que quiserem, mas poderia ter ganho qualquer um que estaria igual agora ou pior. Não tem mágica. Tem que fazer o que deve ser feito, tem que segurar gastos, conter despesas, mas tem que fazer o que tem que fazer no mínimo para ter uma condição para estrutura, para dar condições de os servidores receberem e fazer o Estado girar.
O parcelamento dos salários é uma situação péssima...
É uma questão necessária e vai fazer na semana que vem de novo.
E o não pagamento da dívida com a União, que acaba tendo um impacto.
É, tem isso também. Acho que essa questão da dívida com a União talvez não aconteça mais. Mas o parcelamento do salário é algo inevitável de novo para este mês.
A bancada do PDT, como a maioria, não abraçou a ideia de aumento do ICMS. Como avalias essa posição do partido e essa proposta do governador?
As manifestações dos votos dos deputados são pessoais, até esse momento. Vai chegar um momento em que o partido vai se reunir e tomar uma decisão, e eu ainda acredito que a bancada vote unida. Não é justo ter secretários, ter cargos de diretoria e na hora que o governo precisa o partido não estar junto. Então acredito que o PDT vai estar junto com o governador Sartori nesta decisão.
E a posição do PDT em relação ao governo Dilma?
Eu acho que deveria sair do governo. Ou é do governo ou não é. A única contestação que eu faço de tudo isso é que se não vai votar no governo, que saia do governo. Não existe o PDT votar para retirar direitos do trabalhador. Isso é história do PDT, é história do Brizola. Quem começou tudo isso foi Getúlio Vargas, foi Jango. Essas questões não dá para se perder assim.
Quando chefe de gabinete do Sartori e do Alceu, deves ter perdido a conta do número de viagens para Brasília que agendastes para o prefeito ou secretários. Essa crise, também institucional, deixa alguma esperança de que o Brasil reveja essa centralização, em que tudo passa por Brasília?
Isso me tira a esperança. Essa reforma política maquiada é uma vergonha, os deputados federais e os senadores não querem perder regalias e privilégios. Essa questão do centralismo, de não fortalecer os municípios, tira a esperança. Quando a gente os vê gerenciando tão longe de nós, faz mal em todas as instâncias. Daí fica um governo centralizado, que retorna pouco aos municípios.
Às vezes, um burocrata de Brasília tem mais poder do que um prefeito?
Exatamente. Essa lógica não fecha mesmo.
Que reforma política defendes?
Eu defendo o financiamento público. Essa questão na iniciativa privada é uma coisa absurda. Tirar a reeleição. A reeleição é injusta para quem está no poder e para quem está fora.
Com aumento dos mandatos?
Sim, cinco anos. E acho também que tinha que ser isso para os congressistas. Essa oxigenação é o que iria fazer essas mudanças acontecerem. É uma reeleição para o Legislativo e terminou. Eu fiquei oito anos de vereador e eu resolvi que tinha que sair, porque eu não tinha mais o que somar para a comunidade. Eu via que no sétimo, no oitavo ano já não me dava muito prazer. Eu disse que não iria mais concorrer a vereador, porque naquele momento eu não ia somar mais nada. Isso vale para toda a vida. Tem que renovar, tem que oxigenar, tem que ter ideias novas, tem que ter gente que não esteja lá tão viciado, cheia de manias. Isso tudo é importante para a política.
Defendes o voto proporcional como é hoje?
Sim. Claro que tem aspectos negativos, mas eu ainda defendo esse processo. Os partidos tem que fazer justo e igual para todos. Eu acredito nisso para tu ter uma eleição sem privilégios.
A posição antagônica que o senado adotou à pauta bomba da câmara devolve a sensação de que o Senado é necessário?
Primeiro que eu acho, que tinha que baixar em 20 ou 30% o número de congressistas em Brasília. Ninguém ia sentir falta nenhuma. Iria baixar muito a despesa. E reduzir o Senado também. Nós deveríamos dar uma enxugada.
Então Dilma tinha razão quando, durante os protestos de junho, defendeu uma Assembleia Constituinte Exclusiva?
Exatamente. Só que o povo não entende isso e acha que é uma despesa.
Entrevista
Néspolo aposta em repetição da chapa Alceu/Feldmann para disputa da prefeitura de Caxias
Presidente do partido em Caxias do Sul defende a manutenção da coligação que elegeu Sartori e Alceu e aposta em crescimento da aprovação da atual administração
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