Caxias do Sul teve o ano menos violento dos últimos 15 anos. Em 2024, foram 75 vítimas, conforme dados da Polícia Civil. O número, que resulta de homicídios, feminicídios, latrocínios, abortos e situações de intervenção policial, ficou abaixo de 2019, que teve 82 mortes e era até então o menor. Do período, os dados da Secretaria de Segurança Pública do RS demonstram que o ano mais violento é o de 2016, quando 133 mortes foram registradas no município.
O titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), Caio Márcio Fernandes, detalha que no primeiro trimestre do ano passado a principal motivação das mortes violentas foi a disputa de organizações criminosos pelo tráfico. O período teve praticamente metade das mortes registradas no ano, foram 38 nos três meses.
— Com aquele começo de ano bastante duro que foi em Caxias do Sul, com um acirramento do número de homicídios consumados que verificamos, foi deflagrada uma ação bastante pesada de combate a esse tipo de crime. Em conjunto com todas as forças de segurança e também com uma inestimável parceria do Ministério Público e do Poder Judiciário, que, sensíveis ao contexto e cientes de suas parcelas de responsabilidade, forneceram todo o suporte adequado para que as forças de segurança também pudessem debelar essa crescente — destaca o delegado.
O trabalho integrado inclui todas as Forças de Segurança, como Polícia Civil, Brigada Militar (BM), Polícia Penal, Instituto-Geral de Perícias (IGP), prefeitura e o Poder Judiciário. Fernandes explica que, após a queda nos casos, identificou-se que não houve mais mortes por situações relacionadas às organizações criminosas.
— Nós passamos a identificar que a grande motivação dos crimes contra a vida, que fossem na modalidade tentado ou consumada, acabaram sendo aquilo que nós chamamos de fatos da vida. São fatos que não têm como a polícia tentar evitar ou intervir de forma antecipada. A título de exemplo, uma briga de bar, com dois indivíduos alcoolizados, onde um deles, às vezes, com uma faca, acaba ceifando a vida de um amigo. Ou briga entre vizinhos, uma discussão entre, às vezes, um ex-namorado com um atual companheiro de uma determinada mulher. Temos também a figura do feminicídio, enfim, uma série de outros contextos que fazem parte da dinâmica das relações sociais das pessoas, que faz parte da convivência e que, infelizmente, dizem muito mais a percepção de mundo, educação, falta de gentileza, empatia e outras questões dessa natureza. Falta de discernimento de como resolver problemas sem necessariamente apelar para esse grau extremo de violência — exemplifica o titular.
Índice alto de esclarecimento de casos
Para a Delegacia de Homicídios, o 2024 também trouxe outros dois números expressivos. Segundo o delegado titular, foram 171 investigações concluídas, com índice de esclarecimento dos casos em 80%. Ao mesmo tempo, foi um recorde de prisões, com 150 no período — todas relacionadas aos homicídios, sendo elas prisões em flagrante, prisões temporárias, renovações de prisões temporárias e prisões preventivas, além das cumpridas após sentença do Poder Judiciário.
— É um índice bastante elevado e nós conseguimos levar ao Ministério Público investigações bastante robustas, com elementos sólidos e bastante firmes, fidedignos, aptos a embasar denúncias bastante robustas, viabilizando, assim, ao Poder Judiciário proporcionar e impingir penas que têm sido, ao meu ver, bastante firmes e severas para esses criminosos. Desestimulando, assim, a prática de novos crimes — comenta o delegado.
Já os juízes da 1ª Vara Criminal avaliam como positivo o índice e relatam que buscam seguir o cronograma estabelecido para os processos. Como destaca o juiz Mauro Peil Martins, todos os fatos são analisados de forma rigorosa:
— Sobre a redução da criminalidade, é importante pontuar que a 1º Vara Criminal de Caxias do Sul tem trabalhado de forma firme para que fatos sejam processados com brevidade, a fim de evitar o sentimento de impunidade. Os fatos são analisados de forma rigorosa, tendo sido mantidos presos os agentes envolvidos em delitos graves, o que gera temor nos indivíduos envolvidos com atos criminosos, que passam a evitar a prática de ilícitos. No mais, cabe destacar que a Autoridade Policial tem agido de forma eficaz na prevenção dos crimes, o que é o fato preponderante da diminuição dos homicídios.
O magistrado Thiago Dias da Cunha acrescenta que o andamento dos processos pode gerar também o efeito para redução de reincidência ou desistência de crimes. Cunha lembra ainda da importância da participação de todos órgãos para que haja os julgamentos, como Defensoria Pública e Ministério Público.
O juiz destaca que todos os processos são justos e responsáveis. O desejo é que os números sigam reduzindo neste ano:
— Há realmente os casos que vão para o conselho de sentença, nós vemos que os representantes da comunidade de Caxias do Sul são bem responsáveis na análise. Temos muitos casos de absolvição, de desclassificação e de condenação que vemos que a comunidade chamada para fazer os julgamentos tem sido bem justa na apreciação. E realmente, quando existe essa sensação ruim por causa da violência, às vezes tem uma tendência geral por condenação e condenação. Mas a análise tem sido muito justa e vemos no resultado. Porque quando se condena uma pessoa inocente, isso não vai reduzir o número de homicídios. Tomara que 2025 seja melhor ainda, porque a comunidade de Caxias do Sul merece.
Os números
- 2024 - 75 mortes
- 2023 - 100
- 2022 - 85
- 2021 - 110
- 2020 - 105
- 2019 - 82
- 2018 - 110
- 2017 - 101
- 2016 - 133
- 2015 - 103
- 2014 - 99
- 2013 - 103
- 2012 - 122
- 2011 - 101
- 2010 - 102
Fonte: SSP/RS