Cada vez mais, viver nas ruas se torna a opção derradeira dos que perderam tudo. São histórias de vida que passam despercebidas de um olhar mais atento e sensível. Pessoas que sofrem com o frio intenso registrado nos últimos dias, somado à fome, condições de insegurança e a carência de condições de higiene.
Atualmente, segundo a Fundação de Assistência Social (FAS), aproximadamente 400 pessoas vivem neste cenário em Caxias do Sul. Por mais que as circunstâncias da vida tenham conduzido essas pessoas a um estado de miséria, alguns preferem viver nas ruas do que ser atendido pelas três casas que, atualmente, fornecem acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Segundo a FAS, essa é uma situação muito comum.
_ Os que estão há mais tempo nas ruas, têm receio de dormir nas casas de passagem _ conta a diretora de proteção social de média complexidade da FAS, Ana Lúcia Albuquerque.
Equipes de educadores mantêm contato direto com as pessoas que estão permanentemente nas ruas.
— São duas duplas de educadores sociais que desenvolvem um vínculo e fazem um processo de convencimento para que eles sejam acolhidos. Mapeamos os pontos da cidade e percorremos um roteiro fixo, visitando essas pessoas. Muitos não aceitam, e a gente retorna no dia seguinte, pra ver como eles estão e tentar levá-los para os abrigos — explica Ana.
Até ontem, 12 vagas ainda estavam disponíveis nas casas que oferecem moradia, alimento e atividades educacional. A Casa Carlos Miguel dos Santos, no bairro Fátima, abriga até 30 pessoas e a Casa São Francisco, no Cinquentenário, 40. Ambas são mantidas por meio de uma parceria com a Associação Mão Amiga. São locais em que as pessoas podem permanecer por um período de até três meses, de acordo com a necessidade.
Também sobram vagas na Hospedagem Solidária, serviço de voluntários gerido pela Diocese de Caxias do Sul desde o início do mês de maio, na Igreja do bairro Sagrada Família.
— O limite é de 100 pessoas. Nos dias mais frios, a hospedagem chegou a 72 pessoas — destaca a diretora da FAS.
"Melhor aqui que em qualquer abrigo"
Outro do bairro Pio X, na esquina da Visconde de Pelotas com a Hércules Galló, serve de morada para Ismael Martins, 27, e Oldair da Silva, 38. Ambos dizem estar acostumados a dormir nas ruas e rejeitam a possibilidade de ficar em qualquer abrigo.
— Melhor aqui do que em qualquer abrigo. Não tenho medo, só da polícia vir "se arriar" na minha. Dos vagabundos eu não tenho medo, conheço todos. Quando preciso tomar banho, trocar de roupa ou tomar café de manhã, vou no Pop Rua — diz Silva, que mora nas ruas há quase 20 anos.
Embora tenha família, Ismael Martins diz que prefere ficar sozinho. Há 11 anos está sem casa.
— As drogas levam a gente pra rua. Quem é drogado não consegue ficar em casa. Não gosto de abrigo porque é muita gente junto, sempre dá briga — comenta.
A diretora de proteção social de média complexidade da FAS explica que, embora a situação de rua seja combatida através das ações de acolhimento, é preciso respeitar a opção deles quando decidem permanecer no espaço urbano. Eles são capazes de tomar as próprias decisões. Isso não quer dizer que a gente não insista.
Pop Rua é uma alternativa
O Centro Pop Rua, situado na Rua Duque de Caxias, no bairro Madureira, é uma alternativa para aqueles que não gostam de permanecer nos abrigos durante a noite. Ali, acontecem os chamados atendimentos em média complexidade, que abrangem uma série de serviços, desde o armazenamento de pertences, alimentação, higiene, elaboração de documentos e desenvolvimento do convívio social entre os moradores de rua.
Além disso, são realizados diversos tipos de oficinas culturais. O espaço conta com educador social, psicólogo e assistente social.
Diariamente, a partir das 8h30min, o local oferece alimentação e café.
— Aqui é muito bom. Ninguém pode falar mal do Pop. Dá para tomar banho, fazer documento e comer — diz o morador de rua Laudecir da Silva, 26, enquanto aguardava o portão da unidade abrir.
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