
Os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro acabam neste domingo e mostraram, mais uma vez, a superação de atletas. Na canoagem, esgrima, judô, entre outros, esportistas do mundo inteiro se superaram em busca de medalhas durante pouco mais de uma semana. Mas o evento serviu também para, novamente, a acessibilidade nas cidades brasileiras voltar à discussão.
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Em Caxias, uma passada rápida pelas ruas centrais mostra que as Pessoas com Deficiências (PCDs) precisam lutar diariamente para conseguirem se locomover. Calçadas sem piso tátil e rampas de acesso com alturas inapropriadas são alguns dos exemplos que apontam que o poder público necessita tirar ações do papel para garantir a mobilidade de quem sofre com alguma limitação. Desde fevereiro, a prefeitura realiza um mapeamento para conhecer melhor as PCDs, com o intuito de facilitar a criação de políticas públicas mais efetivas. O levantamento deve ser finalizado somente em 2017.
– A demanda é grande e muito tem que ser feito, mas não adianta fazer as coisas sem planejamento, só por fazer. Avançamos, mas faremos mais – garante Rosa do Carmo Fonseca, titular da Coordenadoria de Acessibilidade.
O mapeamento servirá, também, para que se tenham dados estatísticos mais precisos desse público em Caxias. Atualmente, de acordo com o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Ivan Froes, a prefeitura trabalha com 128 mil pessoas com alguma deficiência, 26% da população. O número, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é grande, mas, segundo ele, inclui até mesmo quem tem problemas de visão e usa óculos.
– Hoje as pessoas podem ter problemas pequenos, como baixo grau de miopia, mas que podem ser agravados com o tempo. Então temos que pensar no futuro, em como as incluiremos na acessibilidade se o caso piorar – justifica.
Para avaliar a mobilidade no Centro, o Pioneiro convidou um cadeirante e um deficiente visual para percorrerem alguns espaços próximos da Praça Dante Alighieri e apontarem problemas. O aposentado Francisco Zanzi, 50 anos, se movimenta com cadeira de rodas há 27 anos, desde que foi atingido por um tiro durante um assalto. O estudante Lucas Borba, 24, nasceu com deficiência visual e perdeu completamente a visão aos 12 anos.
Confira alguns problemas detectados:
Rampas de acesso a prédios públicos e em calçadas

Grande parte das edificações novas em Caxias estão adaptadas às normas de acessibilidade, com rampas ou elevadores nos acessos, mas a maioria das antigas ainda não foi reformulada. O problema é percebido em prédios públicos, inclusive. No Palácio da Polícia, na esquina das ruas Sinimbu e Dr. Montaury, há uma rampa, mas ela é de um material inapropriado e fica, geralmente, na entrada de uma porta entreaberta.
– Sempre precisamos da ajuda de alguém para entrar. Quando está chovendo, as rodas da cadeira derrapam nesse material e aí fica quase impossível – diz o cadeirante Francisco Zanzi, 50 anos.
O acesso das ruas para as calçadas também está longe do ideal. No Centro, boa parte das rampas foi reformulada, mas ainda há o que ser melhorado. Próximo ao Quiosque de Informações, na Sinimbu, uma das rampas está muito inclinada e, se o cadeirante não tomar cuidado, pode virar a cadeira ao descer da calçada para a rua.
Piso tátil

Um dos principais meios de orientação dos deficientes visuais na rua é o piso tátil. Assim como as rampas, eles devem ser aplicados conforme um regramento específico. Mas, mais do que tudo, precisa fazer sentido naquele espaço para que tenha, de fato, uma função. Na Praça Dante Alighieri, o piso tátil foi colocado apenas ao redor do Quiosque de Informações da prefeitura, sem uma continuidade pela quadra. Ou seja: o cego é orientado somente naquele pequeno espaço, sendo que uma das linhas com indicações no chão, em alto relevo e da cor amarela, termina no meio de uma das quadras (pela Dr. Montaury). Se o deficiente deseja dar a volta na praça, não consegue sem ajuda.
Sinaleiras sonoras
Em muitas ruas centrais, atravessar a rua sem ajuda é tarefa impossível para deficientes visuais. Sem a indicação de que o semáforo está vermelho, indicando a passagem livre dos pedestres, os cegos precisam de orientação sonora para passar de uma rua para outra. A autonomia, nesse caso, é conquistada com as sinaleiras sonoras, quase inexistentes no Centro. De acordo com a prefeitura, Caxias tem 18 semáforos para pedestres, com botoeira e som. Mas esse número não é suficiente, de acordo com Lucas, que circula muito pelo Centro. Além da falta dos equipamentos em muitas esquinas, ele afirma que alguns não funcionam algumas vezes.
Orelhões e buracos nas calçadas

Andar pelas calçadas é ver que as PCDs precisam de atenção constante _ e que muitas vezes suas condições são ignoradas. Buracos nos passeios públicos, orelhões e sobras e materiais de construção são obstáculos para quem tem algum tipo de limitação. Nas ruas centrais, os buracos não são tão comuns, mas é normal, de acordo com Zanzi, que a passagem esteja obstruída para os cadeirantes. Os orelhões são temidos pelos deficientes visuais, que não conseguem detectá-los com as bengalas. Eles até conseguem, mas só depois de terem se batido na estrutura superior do equipamento.
– A cabeça sempre chega antes. Percebemos ainda que muitos nem estão funcionando, então é essencial que eles ainda existam? Se sim, o formato poderia ser mudado. Eles são um transtorno para nós – lamenta Lucas Borba.