
Após a enchente que atingiu o Estado, Caxias do Sul atua em pelo menos duas frentes: a conclusão dos trabalhos de recuperação e a prevenção para volumes significativos de chuva. Conforme balanço divulgado pelo município, a Secretaria de Obras (SMO) identificou mais de 500 pontos críticos na cidade, sendo que 93% foram recuperados. Entre os trabalhos em andamento estão estudos em Galópolis e Vila Cristina, duas das regiões mais atingidas de Caxias. Ao mesmo tempo, projetos visando à prevenção foram reforçados, como a construção de novos piscinões e o plano de drenagem, esgoto e saneamento do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), no valor de cerca de R$ 80 milhões.
Neste último ano, os trabalhos do município foram especialmente na desobstrução, limpeza e reconstrução de estradas, conserto de redes de drenagem danificadas, construção de passagens provisórias como a ponte na Vila São Pedro, em Vila Cristina, além da recuperação de outras pontes e pontilhões, e o desassoreamento de rios e arroios. Até o momento, entre recursos da prefeitura, Estado e União, foram utilizados R$ 20 milhões.
— Um ano depois, nós temos que agradecer a todas as forças da comunidade que se aliaram conosco naquele gabinete de crise. Não teve ninguém que deixou de participar quando convidado. Isso é uma marca do povo gaúcho que ninguém tira. Essa solidariedade, essa força e essa resiliência. Um ano depois em muitos lugares, muitos não acreditam por aquilo que passaram. O aeroporto Hugo Cantergiani foi transformado em corredor humanitário. Nós não tínhamos a menor estrutura, mas em nenhum momento dissemos que não podia atender — relembra o prefeito Adiló Didomenico.

Estudos seguem em Galópolis
Galópolis foi o bairro mais impactado de Caxias do Sul com deslizamentos de terra. Sete pessoas morreram e uma vítima nunca foi encontrada, segundo a Defesa Civil. Caxias teve o total de 10 vítimas, incluindo o desaparecimento.
Além disso, residências foram interditadas após o surgimento de fissuras pela região. Desde então, 30 imóveis seguem interditadas. Conforme o município, a Fundação de Assistência Social (FAS) destinou R$ 3,5 milhões em auxílio para essas famílias atingidas em Galópolis e a Secretaria da Habitação investiu R$ 360 mil em aluguel social para outras famílias atingidas.
Também pelo cenário, o município, a custo de R$ 1,1 milhão, contratou estudos de mapeamento geológico para o bairro e para Vila Cristina. Além de apontar ações preventivas para as regiões de Caxias, as pesquisas devem demonstrar o que poderá ser feito nas áreas do bairro que estão interditadas. O geólogo da prefeitura Caio Torques detalha que o trabalho consiste em três etapas simultâneas. Alguns dos laudos, inclusive, já começam a ser recebidos pelo município:
— A primeira etapa é um reconhecimento geológico e geotécnico geral com sondagens e com ensaios do laboratório. Agora, uma segunda etapa é uma avaliação das áreas que foram atingidas de fato pelos deslizamentos, onde tem as cicatrizes para se fazer os projetos. E a terceira etapa é entregar esses projetos e fazer o orçamento deles, de quanto vai custar para fazer essas construções. Podem ser construções, podem ser melhorias no relevo, por exemplo.

Quais pontos ainda precisam de obras
Por mais que a maioria dos pontos identificados de Caxias tenham sido recuperados, a comunicação do município lista demandas que estão pendentes. Pelo menos três delas aguardam recursos, que são a Estrada do Imigrante sobre o Rio Belo, em Vila Cristina, a Estrada Gotardo Molin sobre o Arroio dos Soares, em Vila Seca, e a Estrada 358, em Vila Oliva. O secretário de obras, Lucas Suzin, justifica que a prefeitura protocolou projetos no governo federal que chegam a R$ 30 milhões, mas até o momento R$ 4,5 milhões foram recebidos.
Com esses recursos recebidos recentemente, o município também encaminha a contratação de mais obras para restabelecimento de pontes e contenções. Segundo Suzin, há um cronograma até julho para alguns dos trabalhos, como as contenções no Arroio Pinhal em Galópolis, a ponte sobre o Arroio Macaco e o Pontilhão na Estrada 348, em Vila Oliva, ou ainda os pontilhões nas regiões de São Giácomo e do Desvio Rizzo.
Obras preventivas
Ao mesmo tempo, o município promete atuar na prevenção em casos de novas chuvas severas que possam atingir a Serra. Conforme divulgado em coletiva, são pelo menos três frentes. Uma é o programa Canaliza Caxias do Samae, que envolve um plano de drenagem, esgoto e saneamento, com investimento de R$ 80 milhões. As obras contemplam 83 vias urbanas, de 35 bairros. Do outro lado, estão previstos seis novos tanques de contenção, os chamados piscinões, que serão colocados na Villa Brasil (que recebe dois), De Lazzer, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), Rua Júlio Calegari e atrás do Panela Velha. O investimento é de R$ 40 milhões, a partir de financiamento do BRDE.
— Essas obras têm tudo a ver com tornar a cidade mais resiliente e mais preparada. Jamais poderemos dizer que a cidade não tem mais risco, mas dentro daquilo que a técnica moderna recomenda, são em torno de R$ 180 milhões que estarão sendo investidos nos próximos dois anos só para a questão de drenagem, saneamento e acumulação de água — afirma Adiló.
Uma terceira obra planejada é a construção do túnel de drenagem na Matteo Gianella, com investimento previsto de R$ 60 milhões. Conforme a prefeitura, é uma medida para evitar alagamentos nos bairros Pio X e Santa Catarina.