Uma técnica inovadora para implementar próteses acaba de ser feita, de forma pioneira no Estado, em Caxias do Sul. Na última sexta-feira (31), a equipe de ortopedia do Pompéia Ecossistema de Saúde fez uma cirurgia utilizando técnicas de osteointegração.
Na prática, pacientes com membros amputados têm uma haste metálica implantada no osso, que se fixa no corpo a partir da calcificação. Com isso, a prótese é acoplada diretamente na haste, facilitando a adaptação do paciente e garantindo movimentos muito próximos do natural.
— Nessa haste, que tem 10 centímetros, é colocada a prótese externa. Esse encaixe impede o contato direto com a pele, o que gera a maioria dos casos de rejeição às próteses convencionais. Além de ser mais fácil para o paciente usar, a prótese implantada com a osteointegração promove uma qualidade de vida mais elevada, com praticidade em atividades no cotidiano e ótima reabilitação — explica o ortopedista Gustavo Gil, que coordenou o procedimento.
A operação realizada em Caxias é inédita no Rio Grande do Sul, além de ser a primeira da América Latina feita nas duas pernas e anexada à tíbia (osso localizado na perna, abaixo do joelho) do paciente. O procedimento contou com uma equipe de seis ortopedistas, entre eles Marcelo Souza, referência nacional nesta técnica, que veio diretamente de Recife (PE) para acompanhar a cirurgia.
Depois de seis horas de procedimento, o paciente Jedemar de Oliveira, 37 anos, deixou o bloco cirúrgico com a esperança de voltar a caminhar fortalecida. Ele perdeu parte das pernas em julho do ano passado, após ser internado para tratar de influenza e apresentar uma síndrome rara.
— Foi um baque acordar depois de 15 dias e descobrir que tinha sido amputado. Graças a Deus tenho força de espírito, tive ajuda da minha família e da equipe médica. Tenho muita fé e vejo que a medicina apresenta muitas possibilidades. Pesquisei sobre a osteointegração e acredito que ela vai ajudar a recuperar minha vida — comentou Oliveira, ainda internado no hospital.
O paciente teve alta médica na segunda-feira (3) e deve começar a fisioterapia na sequência. A profissional que irá conduzir o tratamento já tem viagem marcada para Recife, onde aprenderá os protocolos com a equipe de Souza. Entre a equipe médica, a esperança é de que Oliveira possa dar os primeiros passos cerca de um mês depois de começar a fisioterapia. A reabilitação completa deve acontecer em um ano.
— Quero muito poder voltar ao meu trabalho, passear de novo com as minhas filhas e até tomar um banho em pé. Recomeçar com esse tipo de prótese é reconfortante, porque entendi que as coisas não terminavam ali, mas, sim, tinha uma história nova pela frente — comenta emocionado.
A inovação da osteointegração
As técnicas de osteointegração surgiram na década de 1990, na Suécia. Inspirado nos implantes dentários, o procedimento foi adaptado para a medicina. No entanto, o alto custo dos materiais necessários impediu que a técnica fosse utilizada no Brasil antes. O responsável por trazer esse novo modelo de implementação de próteses ao país foi o ortopedista Marcelo Souza e o protesista Tiago Bessa.
Souza realizou o primeiro procedimento utilizando a osteointegração em 2022, em uma paciente que teve a perna direita amputada após apresentar câncer ósseo. Desde então, 24 procedimentos utilizando essa técnica foram realizados em diversos Estados do país e na Argentina, sendo o de Caxias do Sul o mais recente.
— Começamos em Recife porque eu sou de lá e trabalho lá. Mas é nossa obrigação moral de levar esse conhecimento até os outros. Esse procedimento de Caxias do Sul foi o primeiro bilateral, que fiz orgulhosamente com o Gustavo Gil. Estamos fortalecendo esse grupo de médicos brasileiros, aptos a realizar esses procedimentos para melhorá-lo cada vez mais e levar mais qualidade de vida aos pacientes — finaliza.